H
hast
Guest
Com a anuência do nosso caro Administrador, gostaria de «postar» esta obra de inegável qualidade e que muito contribuirá para enriquecer os conhecimentos de todos os Portistas do Portal dos Dragões. Esta colectânea foi publicada, em fascículos, no jornal «ABola».
Caso não seja consentâneo com o que o Admin. pretende para o Portal, é favor eliminar este tópico.
* * * * *
A civilização do desporto
Mais que um século de desporto, o século XX ficará marcado na história como O Século do Desporto. É essa dimensão maior do desporto, enquanto fenómeno social dinâmico, tantas vezes intrigante e ainda tão poucas vezes estudado sem complexos de uma menoridade cultural que ou o banaliza ou o distancia da realidade, é o que se pretende retratar numa obra de invulgar qualidade, que se deseja, acima de tudo, necessária, útil e consistente tanto para as gerações actuais como para as que, no futuro, quiserem lançar sobre o século XX um olhar curioso e interessado.
A civilização do desporto nasce de raízes que remontam à Revolução Industrial e a novos conceitos e estilos de vida. Haverá uma estranha religiosidade nessa forma pagã de ocupar os tempos livres, um luxo classista só mais tarde liberalizado e que leva à organização e regulação do jogo, do desafio físico, quando não mesmo da exibição competitiva do corpo, em que assenta a ideia desportiva.
É este novo conceito, por vezes marcado por um figurativo desafio guerreiro, a que se juntam princípios essenciais de ética e de estética, mais o da universalidade que já havia marcado o indiscutível êxito dos Jogos Olímpicos da Grécia Antiga, que enforma um tempo, quase coincidente com o espaço secular, que ajudou a mudar a história dos homens e do Mundo.
Muito embora a contemporaneidade seja inimiga do rigor histórico que se pretende, pode dizer-se que a noção restrita do desporto começara nos últimos anos do século XIX e terminará nos últimos anos do século XX. E será por isso que este livro se torna tão especial. Na medida em que retrata a evolução da destreza física e a apetência desportiva do homem ao longo de milénios, o introduz demoradamente no tempo exacto de uma dimensão social que dá origem à civilização do desporto e nos abre a visão de um futuro de redimen-sionamento desportivo, agora vocacionado para novas referências necessariamente coincidentes com a realidade social que o sustenta e determina.
O Século do Desporto, torna-se, assim, uma obra fundamental deste final de século.
Origens e desafios
O desporto ganhou, ao longo dos tempos, uma imagem de sofisticação porventura inalterável. Sem ele os cidadãos do Mundo acusariam um sentimento de falta. Na bancada ou mesmo, a vários níveis, sobre o terreno. Em muitos aspectos ganhou vícios e uma forma repugnante. A vontade de vencer e, mais que isso, a obrigação de vencer reduziram alguns princípios elementares de convizinhança à expressão mais simples, que se traduzem, aliás, no dia-a-dia das sociedades modernas.
Temos todos a convicção segundo a qual a profissionalização do desporto trouxe grandes vantagens e igualmente grandes desvantagens. Na área do futebol isso é mais nítido. A corrida aos milhões, as máquinas sofisticadíssimas, algumas mudando ou escondendo o rosto, que movem o mundo das transferências e através delas tudo fazem depender, empurraram o futebol para um caminho, não diremos sem saída, não diremos sem hipótese de confluir para uma realidade bem menos assustadora, mas seguramente difícil, a levantar muitas interrogações e a lançar um grande desafio sobre aqueles que têm a responsabilidade de colocar a modalidade com mais adeptos no Mundo num plano de equidade e até de legitimidade.
Não temos a certeza se, em muitos aspectos, o futebol não precisaria de dar alguns passos atrás. Não, evidentemente, num regresso secular ao ponto de partida, mas em muitos aspectos esse regresso às origens teria um efeito profiláctico. Não estão em causa apenas questões do âmbito físico-químico nem o abusivo carácter inflacionista que o mercado assumiu nos últimos tempos nem, inclusive, questões do foro geopolítico, das quais decorreram profundas transformações até do ponto de vista da identidade das nações. É óbvio que os responsáveis do futebol ao mais alto nível, tão dependentes do poder político como o poder político, afinal, parece em muitas circunstâncias dependente deles, não podem ficar de braços cruzados perante os efeitos do acórdão Bosman. Para além dos problemas que continuam a afectar o Terceiro Mundo, e para os quais o futebol foi manifestando havelangicamente uma posição generosa, há que resolver o desequilíbrio latente entre países ricos e países pobres e a repercussão dos seus poderes em sedes próprias.
Em Portugal há sinais exteriores de desenvolvimento, muitos dos quais artificiais, mas há sobretudo uma ausência de conhecimento e vontade para fazer do futebol português, ao nível da sua competição maior e da Selecção mais representativa, uma actividade agregadora.
Este novo tempo tem de ser, dentro e fora, um tempo de boa vontade mas também um tempo de enorme responsabilidade. Que começou na organização do Euro-2004. É tão grande o desafio que Portugal necessita de ser isso mesmo grande. Afastando de vez as coisas pequeninas como a mesquinhez e a baixa intriga.
Caso não seja consentâneo com o que o Admin. pretende para o Portal, é favor eliminar este tópico.
* * * * *
A civilização do desporto
Mais que um século de desporto, o século XX ficará marcado na história como O Século do Desporto. É essa dimensão maior do desporto, enquanto fenómeno social dinâmico, tantas vezes intrigante e ainda tão poucas vezes estudado sem complexos de uma menoridade cultural que ou o banaliza ou o distancia da realidade, é o que se pretende retratar numa obra de invulgar qualidade, que se deseja, acima de tudo, necessária, útil e consistente tanto para as gerações actuais como para as que, no futuro, quiserem lançar sobre o século XX um olhar curioso e interessado.
A civilização do desporto nasce de raízes que remontam à Revolução Industrial e a novos conceitos e estilos de vida. Haverá uma estranha religiosidade nessa forma pagã de ocupar os tempos livres, um luxo classista só mais tarde liberalizado e que leva à organização e regulação do jogo, do desafio físico, quando não mesmo da exibição competitiva do corpo, em que assenta a ideia desportiva.
É este novo conceito, por vezes marcado por um figurativo desafio guerreiro, a que se juntam princípios essenciais de ética e de estética, mais o da universalidade que já havia marcado o indiscutível êxito dos Jogos Olímpicos da Grécia Antiga, que enforma um tempo, quase coincidente com o espaço secular, que ajudou a mudar a história dos homens e do Mundo.
Muito embora a contemporaneidade seja inimiga do rigor histórico que se pretende, pode dizer-se que a noção restrita do desporto começara nos últimos anos do século XIX e terminará nos últimos anos do século XX. E será por isso que este livro se torna tão especial. Na medida em que retrata a evolução da destreza física e a apetência desportiva do homem ao longo de milénios, o introduz demoradamente no tempo exacto de uma dimensão social que dá origem à civilização do desporto e nos abre a visão de um futuro de redimen-sionamento desportivo, agora vocacionado para novas referências necessariamente coincidentes com a realidade social que o sustenta e determina.
O Século do Desporto, torna-se, assim, uma obra fundamental deste final de século.
Origens e desafios
O desporto ganhou, ao longo dos tempos, uma imagem de sofisticação porventura inalterável. Sem ele os cidadãos do Mundo acusariam um sentimento de falta. Na bancada ou mesmo, a vários níveis, sobre o terreno. Em muitos aspectos ganhou vícios e uma forma repugnante. A vontade de vencer e, mais que isso, a obrigação de vencer reduziram alguns princípios elementares de convizinhança à expressão mais simples, que se traduzem, aliás, no dia-a-dia das sociedades modernas.
Temos todos a convicção segundo a qual a profissionalização do desporto trouxe grandes vantagens e igualmente grandes desvantagens. Na área do futebol isso é mais nítido. A corrida aos milhões, as máquinas sofisticadíssimas, algumas mudando ou escondendo o rosto, que movem o mundo das transferências e através delas tudo fazem depender, empurraram o futebol para um caminho, não diremos sem saída, não diremos sem hipótese de confluir para uma realidade bem menos assustadora, mas seguramente difícil, a levantar muitas interrogações e a lançar um grande desafio sobre aqueles que têm a responsabilidade de colocar a modalidade com mais adeptos no Mundo num plano de equidade e até de legitimidade.
Não temos a certeza se, em muitos aspectos, o futebol não precisaria de dar alguns passos atrás. Não, evidentemente, num regresso secular ao ponto de partida, mas em muitos aspectos esse regresso às origens teria um efeito profiláctico. Não estão em causa apenas questões do âmbito físico-químico nem o abusivo carácter inflacionista que o mercado assumiu nos últimos tempos nem, inclusive, questões do foro geopolítico, das quais decorreram profundas transformações até do ponto de vista da identidade das nações. É óbvio que os responsáveis do futebol ao mais alto nível, tão dependentes do poder político como o poder político, afinal, parece em muitas circunstâncias dependente deles, não podem ficar de braços cruzados perante os efeitos do acórdão Bosman. Para além dos problemas que continuam a afectar o Terceiro Mundo, e para os quais o futebol foi manifestando havelangicamente uma posição generosa, há que resolver o desequilíbrio latente entre países ricos e países pobres e a repercussão dos seus poderes em sedes próprias.
Em Portugal há sinais exteriores de desenvolvimento, muitos dos quais artificiais, mas há sobretudo uma ausência de conhecimento e vontade para fazer do futebol português, ao nível da sua competição maior e da Selecção mais representativa, uma actividade agregadora.
Este novo tempo tem de ser, dentro e fora, um tempo de boa vontade mas também um tempo de enorme responsabilidade. Que começou na organização do Euro-2004. É tão grande o desafio que Portugal necessita de ser isso mesmo grande. Afastando de vez as coisas pequeninas como a mesquinhez e a baixa intriga.