O Século XX do Desporto

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A ciência do gentleman

James Corbett
James John Corbertt é considerado por quase todos os historiadores da modalidade como o primeiro boxeur a introduzir o treino científico na sua preparação. É por esta altura que desponta no atletismo o revolucionário método do treino intervalado — que, a pouco e pouco, se foi propagando por outros desportos. Nascido a 1 de Setembro de 1866, em São Francisco (Califórnia), desde cedo Corbertt mostrou ser um óasis no mundo do boxe. Devido à sua forma de saber estar, vestir e à elegante maneira como falava, rapidamente lhe deram a alcunha de gentleman Jim. Antes de entrar em combate estudava minuciosamente os oponentes, encarando-os mais tarde em pé, numa atitude rígida através da qual procurava aplicar os seus golpes mortíferos: directo de esquerda e uma poderosa direita. Após um sensacional percurso como amador optou pelo profissionalismo em 1884. Em 1892 conseguiu atingir o topo ao derrotar — ao 21.º assalto e por KO — o legendário John Sullivan. Jim Corbett tornou-se, então, o primeiro campeão de pesos pesados sob a regras do marquês de Queensberry, o ideólogo do boxe moderno, organizado, desselvatizado. Depois de cinco anos de empolgante reinado, nem a eficaz defesa que colocava em ringue evitou que fosse destronado por Bob Fitzsommons. Por duas ocasiões (1900 e 1903) tentou recuperar o título, mas em ambas acabou derrotado por knockout, frente a Jim Jeffries. Totalizando 11 vitórias (sete por KO), quatro derrotas e dois empates, faleceu a 18 de Fevereiro de 1933, na localidade de Byside, no estado de Nova Iorque.

Bob Fitzsimmons – De aprendiz a feiticeiro
Nascido a 26 de Maio de 1863, em Helston, na região da Cornualha (Inglaterra), Robert Fitzsimmons emigrou com a família para a Nova-Zelândia, onde cresceu e se tornou aprendiz de ferreiro. Após ter ganho uma competição local, o célebre pugilista Jem Mace convenceu-o a focar energias no boxe e a optar pelo profissionalismo. Actuando na categoria de pesos-médios, conquistou o primeiro título mundial em 1891, ao deixar KO Jack The Nonpareil (sem igual) Dempsey. Porém a sua ambição exigia mais e Fitzsimmons lançou-se à conquista do universo de pesos-pesados, sonho que realizou quando, após 14 assaltos, derrubou Jim Corbett em 1897. Para além de ter sido o primeiro pugilista nascido na Inglaterra a ganhar um título mundial de pesados, com os seus 75 quilos tornou-se, ainda, no campeão mais leve de sempre. Nunca mais ninguém foi capaz de superá-lo. Porém o reinado de Fitzsimmons na categoria rainha foi curto. Em 1899, na primeira vez em que foi obrigado a defender o título, quando já se naturalizara americano, foi derrotado por Jim Jeffries. Em 1902 tenta recuperar o ceptro, mas Jeffries voltou a ser mais forte. Um ano volvido, aproveitando o facto de ter sido criada a categoria de leves-pesados, derrubou George Gardner e consagrou-se como o primeiro homem a conquistar títulos mundiais em três diferentes categorias. Só em 1905 perdeu esse ceptro mas, mantendo-se em actividade até aos 52 anos (1914), atingiu um registo de 40 vitórias (32 por KO) e apenas nove derrotas. Morreu em Chicago (Illinois), a 22 de Outubro de 1917.
 
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O FC Porto de 1893... 12 anos em hibernação

O poeta e a estrela negra
Em 1893 o futebol conquistou definitivamente o Porto. Empregados da Fábrica Graham, ainda sem terem oficializado o Boavista Footballers Club, reservado exclusivamente a ingleses, só jogavam entre si. O Oporto Cricket Club fazia-se do mesmo espírito e da mesma filosofia. Por isso, António Nicolau de Almeida, empresário de sucesso nos negócios do vinho do Porto, convenceu alguns dos seus amigos ingleses do Oporto Cricktet a lançarem o Football Club do Porto — que fosse o ponto de união dos portugueses que já se tinham deixado encantar pelo desporto a que os intelectuais antibritânicos lançaram o labéu de jogo do coice. Data de fundação — 28 de Setembro de 1893. Um ano duraria a aventura — porque casando-se, a mulher, britânica de alta linhagem, o persuadira de que era «mais chique e menos perigoso» o ténis. Foi por isso que o F. C. Porto ficou 12 anos em banho-maria. Até que José Monteiro da Costa o relançou, em Agosto de 1906. Tempo teve ainda para que o seu Football Club do Porto disputasse a Taça D. Carlos, na presença do rei e da rainha, ao Football Clube Lisbonense — presidido por Guilherme Pinto Basto e que tinha a fama de melhor equipa nacional. Apenas os ingleses do Cabo Submarino, que jogavam pelo Carcavelos, lhes tomavam a palma. Tinha, por essa altura, nas fileiras três jogadores negros: Alfredo Silva, Pascoal e Valentim Machado. Pascoal era a estrela — e depressa ganhou o título de primeiro melhor jogador de Portugal. Valentim Machado haveria de afamar-se mais pela sua dedicação ao jornalismo desportivo e à poesia...

O primeiro herói de água
Quase ao romper do século Lisboa exaltara-se com a proeza de um nadador muito popular entre a aristocracia, José Bento de Araújo Assis, que num misto de aventura e exibicionismo atravessara o Tejo, entre o Terreiro do Paço e o Barreiro, em 3.45 horas — e na sua saga reeditara a proeza de um obscuro marinheiro que em 1381 fizera parecido, levando ordens militares para o Forte de Almada, por não haver outras possíveis comunicações com a margem sul do rio, visto esse estar vigiado por uma frota castelhana!

O mais antigo clube da Península
Supõe-se que as primeiras regatas surgiram em Portugal por volta de 1847, sob inspiração dos duelos Cambridge-Oxford. Meras especulações. Do que não há dúvidas é de que foi a Real Associação Naval de Lisboa, fundada em 1856 por D. Pedro V, sendo por isso o clube mais antigo da Península Ibérica, a organizar regatas entre sócios seus e membros da colónia inglesa, patrocinadas pela família real. Em 1876 fundou-se no Porto, igualmente para a prática de remo, o Clube Fluvial Portuense.

Meio ano de trabalho por bicicleta
A primeira competição organizada de ciclismo em Portugal data de 17 de Maio de 1885 — no hipódromo de Belém, sob organização do Real Club Ginásico. Poucos meses antes o Paris-Ruão tornara-se a primeira prova oficial de estrada no Mundo inteiro. Três especialidades houve e os vencedores foram Domingos Bastos, Jorge Norton e Carlos Bernes. Três anos depois a actividade era já enorme — e, por exemplo, na corrida Benfica-Belas-Benfica o vencedor, Gastão de Almeida, ganhou 200 mil réis de prémio. Uma enormidade, julgou-se então. Ah! Uma bicicleta moderna custava na altura 85 escudos, o que representava 170 dias de trabalho de um operário especializado. Assim percebe-se melhor.
 
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1893/94 – A bola a mexer em Portugal

Lisboa bateu o Porto e ganhou a primeira Taça de Portugal

Balizas ilegais
Em Fevereiro de 1894, Guilherme Pinto Basto convenceu D. Carlos a patrocinar o jogo entre as equipas de Lisboa e do Porto. Aquiesceu o rei, oferecendo para disputa uma taça com o seu próprio nome e exigindo apenas que o match fosse incluído no programa oficial das festas comemorativas do Centenário Henriquino, organizadas, no Porto, em homenagem à memória do infante. Outra exigência real — «que pelo menos teriam de ser portugueses, devidamente comprovados, seis jogadores de cada team representativo» e que só poderiam «tomar parte nos desafios da Taça D. Carlos I os jogadores que pertencessem oficialmente a qualquer clube da cidade com três meses de antecedência». Marcado ficou o desafio para 2 de Março de 1894. A sua notoriedade alastrou pela colónia inglesa de tal jeito que até mereceu relato na Ilustraded Sporting & Dramatic New, prestigiada revista de Londres, relato ilustrado com uma imagem da equipa do Football Club Lisbonense. Lisboa bateu o Porto por 1-0. Não consta das crónicas o nome do marcador. Sabe-se, apenas, que mereceu ser classificado de esplêndido e que para a sua marcação contribuíram Afonso e Carlos Vilar, Rankin e Paiva Raposo. Mas, segundo o Diário Ilustrado, parece que os postes das balizas não se encontravam à distância legal um do outro e que a trave não estava à devida altura.

O primeiro relato de futebol
O primeiro relato de jogo de futebol disputado em Portugal surgiu no Jornal do Comércio, a 22 de Janeiro de 1889 — e com direito a desenho alusivo na revista Comédia Portuguesa. Em 1893, o Diário Ilustrado orgulhava-se de «ser a primeira folha do nosso país que, à maneira do que se passa em Inglaterra, Estados Unidos e Austrália, deu o primeiro compte rendu dos matches de Carcavelos e Leixões». Outros periódicos correram a repeti-lo. E um nome se afamou como primeiro grande jornalista desportivo português: António Bandeira, que fora jogador de futebol, mas que um acidente de viação tornou jornalista, fazendo-se crítico de renome, em Semana de Lisboa e Repórter.

A primeira medalha no estrangeiro
A primeira medalha de ouro do desporto português num certame internacional surgiu em 1892, através de João Possolo do (Real) Ginásio Clube Português, num concurso de ginástica aplicada, em Badajoz. O seu clube era já então colectividade de grande prestígio e espírito revolucionário. E, por assomo assim, a 22 de Janeiro de 1894 os seus directores decidiram lançar o primeiro jornal desportivo de Portugal: O Sport — dirigido por Carlos Xafredo, que fora o tradutor para português da primeira edição das leis do futebol.

O primeiro tiro certeiro
Pouco depois do brilharete de João Possolo, D. Manuel de Noronha, fidalgo da melhor linhagem, ganhou em Nice um disputadíssimo torneio de tiro à pistola. O Rei D. Carlos era um dos seus mais perigosos adversários e no intervalo da governação também participava em certames internacionais.
 
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O campeão e a frase chocante...

John Sullivan
John Lawrence Sullivan, nascido a 15 de Outubro de 1858, em Boston, é o primeiro pugilista de verdadeira dimensão planetária. Entrava em ringue como um furacão, gritando, desaustinado, frase chocante: «Só eu sou capaz de derrubar qualquer filho da puta aqui presente.» Estrugiam as palmas, estoiravam as gargalhadas. Normalmente lutava bêbado. Foi pela primeira vez campeão mundial em 1882, após deitar ao tapete Paddy Ryan. Apenas combateu uma vez sob as (novas) regras do marquês de Queensberry e perdeu. Foi em 1892 quando, após KO, cedeu o título mundial a James Corbett. Retirou-se do boxe com uma jura solene: nunca mais beber uma pinga de álcool. Depois de se casar com a apaixonada da adolescência, que por não o suportar bêbado o escorraçara — transformou-se em globe-trotter em campanha contra os males causados pelas bebidas alcoólicas. Morreu a 2 de Fevereiro de 1918, em Abingdon, no estado de Massachusetts.
 
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O espírito de Olímpia despertado pelo Mar da Normandia

Aquele irrequieto Pierre...
Na adolescência, quando ainda se chamava Pierre de Fredy, rebelde e aventureiro, refugiava-se nas escarpas de Étretat, na Normandia, e de olhos postos no lendário rochedo denominado Chambre des Demoiselle, avistando o mar imenso, sonhava com as epopeias heróicas de Olímpia que descobrira nos livros de história que o empolgavam desde pequenino. Helénico era já o seu coração. Com os pensamentos em turbilhão, como as águas do mar ao fundo, deixava-se fascinar pela mitologia desses Jogos Olímpicos de outras eras que endeusavam os homens — e até uniam os povos que fora da trégua olímpica se guerreavam selvaticamente. «Nada na História Antiga me tornou mais sonhador que Olímpia, esta cidade de sonhos consagrada a um fim estritamente humano e material na sua forma mas purificado e ampliado pela ideia de pátria...» Esse culto da civilização da Antiguidade Clássica, essa Grécia de Péricles, não haveriam de ser por muito tempo um sonho perdido na fímbria do tempo. Em 25 de Novembro de 1892 tinha Pierre 29 ano — viagem de estudo pelo Colégio de Rugby, em Inglaterra, mais lhe aguçara o espírito desportivo. Olimpicamente. Por isso, nesse dia, no festival comemorativo do 5.º aniversário da União das Sociedades Francesas de Desportos Atléticos, ele, que já era barão de Coubertin, falando num dos anfiteatros da Sorbona, onde leccionava filosofia e pedagogia, terminou uma oração proclamando a necessidade vital e urgente de ressuscitar os Jogos Olímpicos. Para que o mundo se internacionalizasse na paz. Pelo espírito desportivo. A proposta não colheu quentes adesões. Antes pelo contrário. Na sala, mais que palmas a estrugir, sentiram-se abertos alguns sorrisos cínicos — que logo outros julgaram ser de complacência por mais uma das visões poéticas de Pierre. Mas não. Era tão ardente o seu sonho que a obra haveria de explodir. Porque, senão, explodia-lhe o coração. E a 23 de Junho de 1894, com a presença de 14 nações e 49 sociedades desportivas, é decidido por unanimidade restaurar-se os Jogos Olímpicos.
1894 – Coubertin relança Jogos Olímpicos
Morreu arruinado e arrepiante foi o último pedido
Coração de Coubertin embalsamado em Olímpia
Nascera em Paris, a 1 de Janeiro de 1863, descendente de italianos que tinham sido companheiros de armas de Guilherme, o Conquistador — havendo também ligações genealógicas a um filho de Luís VI, rei de França. Seu pai fora pintor de renome, vivendo faustosamente no Castelo de Mirville. Pierre estudara num colégio de jesuítas, em Paris. O pai, querendo fazer dele militar, inscreveu-o na Academia de Saint-Cir. Porque nunca sentiu vocação marcial, renunciou à carreira. Era um idealista. Pela maneira liberal e irrequieta de ser e de viver se tornou o enfant terrible dos Fredy. O sonho olímpico começou a germinar-lhe após o anúncio das descobertas arqueológicas de Olímpia. Grego se fez nos sentimentos. Para toda a vida. Não tinha ainda 20 anos quando escreveu: «Não temos de fixar-nos unicamente no ginásio de Olímpia mas sim também nos torneios da Idade Média, demasiado esquecidos e cujo único erro consistiu em ir mais além que o razoável no culto elegante da honra, do estoicismo e da generosidade.» Estavam-lhe já amarradas ao pensamento as raízes do olimpismo. Morreria, quase arruinado, em 1937, em Genebra. O seu corpo jaz em Lausana. Por isso o Comité Olímpico montou na cidade a sua sede — a última homenagem ao criador dos Jogos que pelo sonho deles esbanjou até a fortuna dos Coubertin. E, como numa peça de Sófocles, o ponto final haveria de ser arrebatante, emocionante: em testamento Pierre pediu apenas que, à morte, lhe levassem o... coração para Olímpia. O último desejo foi cumprido. Embalsamado encontra-se em pleno Bosque Sagrado, num monumento que se ergueu para tal. É de lá que parte a chama olímpica, de quatro em quatro anos.

Vacina contra a imperfeição humana
Antes ainda do relançamento olímpico as palavras de Coubertin eram como o algodão — não enganavam. «O que mais importa é que esse carácter nobre e cavalheiresco que no passado distinguiu os Jogos possa de novo desempenhar eficazmente na educação dos povos modernos a função admirável que os maestros helénicos lhe atribuíram.» E, a talho de foice, avisou que fora a imperfeição humana que convertera o atleta de Olímpia num gladiador de circo, fora isso que acabara por condenar os Jogos da Grécia Antiga — e para evitar que a história se repetisse não em farsa mas em tragédia era preciso vacina para defender o «renascido espaço sagrado»: os Jogos deveriam eternamente defender-se da perversão do espírito do lucro e do profissionalismo.
 

fcporto56

Tribuna Presidencial
26 Julho 2006
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Sacramento
> hast Comentou:

> O campeão e a frase chocante...

John Sullivan
John Lawrence Sullivan, nascido a 15 de Outubro de 1858, em Boston, é o primeiro pugilista de verdadeira dimensão planetária. Entrava em ringue como um furacão, gritando, desaustinado, frase chocante: «Só eu sou capaz de derrubar qualquer filho da puta aqui presente.» Estrugiam as palmas, estoiravam as gargalhadas. Normalmente lutava bêbado. Foi pela primeira vez campeão mundial em 1882, após deitar ao tapete Paddy Ryan. Apenas combateu uma vez sob as (novas) regras do marquês de Queensberry e perdeu. Foi em 1892 quando, após KO, cedeu o título mundial a James Corbett. Retirou-se do boxe com uma jura solene: nunca mais beber uma pinga de álcool. Depois de se casar com a apaixonada da adolescência, que por não o suportar bêbado o escorraçara — transformou-se em globe-trotter em campanha contra os males causados pelas bebidas alcoólicas. Morreu a 2 de Fevereiro de 1918, em Abingdon, no estado de Massachusetts.

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As regras mudaram muito no boxe desde os tempos do John L Sullivan,mas ele de facto e considerado o primeiro \"heavyweight champion of the world\"no mundo do boxe.
 
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1894 – Coubertin relança Jogos Olímpicos

Jogos olímpicos de Atenas (1896) renascimento esteve para ser em Budapeste

Milhão de dracmas para evitar tragédia grega
Seria o cúmulo da tragédia grega: apesar do sentimentalismo de Pierre de Coubertin, o renascimento dos Jogos Olímpicos esteve a um passo de... Budapeste. Com o governo de Atenas à penúria, sem capacidade financeira sequer para construir um estádio onde se pudessem disputar as provas, o húngaro Kemeny, membro do primeiro Comité Olímpico Internacional, sugeriu que se aproveitasse o poderio financeiro do império austro-húngaro para que o sonho de todos eles não se dissipasse. Quando Coubertin começava já a ceder surgiu, como que por capricho de um deus qualquer do Olimpo, a panaceia: George Averoff, um grego riquíssimo, expatriado em Alexandria, que enriquecera como embarcador, para que a honra helénica não fosse beliscada desembolsou um milhão de dracmas para a reconstrução do lendário Estádio Panatenaico de Licurgo, que, a 24 de Março de 1896, pela data do antigo calendário grego, resplandeceria de novo na brancura dos seus mármores de Faros, sob as vistas mágicas do Parténon, reconstituído em ferradura longa e de círculo apertadíssimo, como nos tempos da Grécia Antiga e dos Jogos de Olímpia, no vale de Delfos. Nesse dia, que no calendário actual corresponde a 5 de Abril, na tribuna de recorte clássico a família real grega, que dera o seu lado direito ao barão, sentiu um frémito quando os primeiros atletas assomaram à pista. Coubertin chorava. Em representação de 13 países, de três continentes, 285 atletas, 196 deles gregos. Era domingo de Páscoa. Manhã triste e chuvosa. Quando Jorge I, rei da Grécia, declarou abertos os I Jogos Olímpicos Internacionais de Atenas troaram salvas de um canhão, pombas brancas ergueram-se nos céus, num estranho e cruzado bailado, um vibrante hino helénico rompeu, cantado por um coro. Os juízes vestiam roupas à imagem dos seus antepassados de Olímpia, que se chamavam helanodikai. Dez dias se passaram depressa. Os gregos foram sendo quase humilhados por 14 americanos no atletismo — que em nome da tradição clássica era o espaço sagrado para a consagração dos verdadeiros heróis. Mas faltava ainda aquela que seria a mais épica de todas as medalhas. Na maratona. Foi ganha por um pastor que assim se transformou em mito.
 
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1896 – Jogos Olímpicos de Atenas

O turista acidental e a bizarra partida

Ouro era prata por falta de dinheiro!
Quando Pierre de Coubertin se empenhou em reorganizar os Jogos Olímpicos, logo decidiu que a sua primeira edição deveria ser na Grécia. Correu para Atenas nas asas do sentimentalismo, suplicando ajuda ao governo. O primeiro-ministro Tricoupis retorquiu-lhe que tinha os cofres do Estado vazios, que mais não poderia prometer que isenção de impostos ou uma emissão extraordinária de selos, cuja receita reverteria, totalmente, para o comité organizador! Essa pouca receptividade governativa não lhe dissipou os sonhos. E dois anos depois, por entre vicissitudes várias, os Jogos Olímpicos renasceram... Uma das grandes figuras de Atenas, nesses alucinantes 10 dias de 1896 que mudariam o Mundo sem que ninguém o imaginasse assim, foi o americano Tom Berke, que ganhou, espectacularmente, os 100 e os 400 metros, correndo na pista inclinada do estádio de Péricles, tão cheia de córregos que mais parecia campo escalavrado! Quando, antes da partida para o hectómetro, se agachou e colocou os dedos no solo, estalaram gargalhadas nas bancadas a regurgitar. Ninguém imaginara, decerto, o sentido visionário daquele jeito de partir que lhe rendeu a medalha de ouro, que era de... prata, obviamente por razões económicas. Igualmente duplo campeão olímpico, o australiano Edwin Flack que, depois de ter ganho os 800 e os 1500 metros, liderou a maratona até aos 35 quilómetros, destacado, desistindo pouco depois, exausto. Era o único representante da Oceânia. Em Londres tomou conhecimento do que Coubertin preparara em Atenas, para lá zarpou como feérico turista acidental — regressando à Austrália como campeão olímpico!

Espantosamente ao largo do Pireu
As provas de natação foram ao largo do Pireu, na baía de Zéa. Os nadadores das mais curtas deslocavam-se para a partida em rústicas embarcações a remos, os tiros eram dados por canhão colocado à beira da estrada! No programa uma prova de 100 metros em estilo... marinho (!) que não se sabe bem o que era, certo é que a vitória coube ao grego Malokinis. O húngaro Alfred Hajós, depois de ter ganho os 100 metros crawl, venceu os 1200, logo considerados «maratona de água»! Para o ponto de largada teve de ir, ele e mais oito heróis, num barco a vapor por se temer que os remadores não aguentassem «a força das águas» (!). Gastou 18.22 minutos, o segundo foi um francês chamado Jean Andreou, que como grego nadou por trabalhar então na Sociedade dos Franco-Turistas do Pireu. Nos 500 metros vitória para o austríaco Paul Neumann, porque Hajós já não quis «estafar-se mais» (!) e nem sequer alinhou à partida, onde só estavam Neumann e mais dois gregos...

12 horas de ciclismo
As provas de ciclismo em velocidade tiveram direito a velódromo especial, construído em ambiente bucólico, numa das colinas de Atenas. O francês Paul Manson ganhou o sprint, os 2000 metros e os 10 quilómetros. Nos 100 quilómetros vitória para outro gaulês, Léon Flameng. Épica a corrida de 12 horas (!) vencida pelo austríaco Adolf Schmal ao cabo de 314,997 quilómetros. Não tendo ganho nenhuma das provas, à última hora criou-se uma corrida de... maratona (distância de 87 quilómetros, de Atenas a Maratona, em ida e volta) e — tal como acontecera com Spiridon Louis a pé — vitória helénica, através de Aristides Konstantinidis.

Luta sem peso
Na luta o alemão Schuhmann ganhou ao grego Tsitas e assim averbou o quarto título olímpico. Foi prova de categoria única, sem diferenciação de pesos. No halterofilismo foi terceiro, as provas disputaram-se em duas categorias: levantamento a uma só mão ou a duas. Com um braço o inglês Elliott ergueu 71 quilos, com dois o dinamarquês Jensen levantou 111,5.

Subida a pulso
A mais exótica prova dos Jogos de Atenas foi a «subida de corda a pulso», que transformou o grego Nikolaos Andriakopoulos em campeão olímpico de uma especialidade que nunca mais haveria...

Sem ouro, sem pódio
Só os primeiros classificados, tal como acontecia na antiguidade clássica, tiveram direito a prémio. Não, não foi o tradicional ramo de oliveira, foi uma medalha de prata. Pódio não havia. Hino e bandeiras muito menos. Mas para dar dignidade ao acto a sua entrega era feita numa sala interior do estádio olímpico — sempre por Jorge I, rei da Grécia.

A mão da filha do milionário e o irmão solto da cadeia...
Os americanos, que desembarcaram no porto de Pireu quase à hora da abertura dos Jogos Olímpicos de Atenas por julgarem que na Grécia já vigorava o calendário juliano, mal tiveram tempo para descansar da estafa. Treinavam no barco que os trouxera. Apesar de isso tudo, no atletismo foram arrebatando quase todas as medalhas em disputa. Para angústia dos gregos. Que acabariam por ter a sua honra defendida por um capricho do destino. Ou inspiração divina. Um francês, empolgado pelo drama da história de Filípides, o soldado que, milhares de anos antes, correndo 40 quilómetros entre Maratona e Atenas, anunciou a vitória sobre os persas e morreu extenuado, sugeriu que saga assim seria chave de ouro para os Jogos Olímpicos que renasciam. Sessenta mil espectadores aboletaram-se nas colinas que rodeavam o estádio de Péricles para assistir à chegada dos heróis da maratona. O vencedor foi Spiridor Louis — um camponês que correu com as mesmíssimas vestes que levava para os campos para guardar rebanhos e preparara a vitória com orações e jejuns, mantendo a sua função de pastor. Sobre ele tombaram as prendas mais inacreditáveis, desde moedas de ouro de lei a jóias lançadas por mulheres em histeria que antes disso se tinham deixado estar quase secretamente nas bancadas ou em bancos de areia que se foram formando pelas colinas em torno do estádio de Péricles. Averoff, que já gastara parte da sua fortuna para financiar a construção do estádio, subiu ainda mais a parada e, emocionado, ofereceu ao campeão da maratona a mão de uma das suas filhas em casamento. Mas como Spiridon noivara entretanto agradeceu e pediu apenas que o milionário lhe pagasse pela vida fora refeições que o impedissem de voltar a passar fome quando andava pelos campos com os seus rebanhos. Ao rei Jorge suplicou que soltasse um irmão, que fora condenado a ferros por ter participado numa rixa com arma branca. Tudo lhe concederam. Naturalmente. Contudo, como recebeu dinheiro para se alimentar, mesmo tendo-se transformado num herói grego, foi de imediato escorraçado do movimento olímpico. Porque Coubertin era intransigente na defesa sacra do amadorismo. Carteiro haveria de se tornar, só voltando a ser visto num estádio em 1936, como convidado especial de... Adolfo Hitler, que se encantara com a sua história, com o modo como vencera o destino e se endeusara correndo 42 quilómetros. Não muitos anos depois Spiridon morreria. Mas a lenda era já eterna. Grega. Digna de Olimpo.
 
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1896 – Jogos Olímpicos de Atenas

Onde se fala da lenda e não só

O soldado da maratona
Maratona já fora citada na mitologia pelo combate no qual Teseu livrara a Grécia de um touro monstruoso. Mas seria outro acontecimento a lendarizar a vasta e verde planície que se estende a 36 quilómetros de Atenas. Em 490 a. C. Dario, imperador da Pérsia, acudindo a Híppias, seu lugar-tenente, que tiranizava os atenienses, enviou contra eles 50 mil homens. Atrasaram-se no desembarque, os gregos, comandados por Calímaco, mas sob estratégia de Milcíades, atacaram de sopetão, deixaram os persas em cerco inquebrável, 6500 invasores morreram e os outros debandaram, em pânico... Phillipíades fora, pouco antes, campeão de corrida em Olímpia. Quando começaram a escutar-se rumores do ataque persa cobriu a pé 240 quilómetros em dois dias e duas noites, correndo a Esparta para suplicar ajuda. De nada serviu, os espartanos estavam em festival religioso, fizeram-lhe ouvidos de mercador. Apesar de extenuado pela estafa, seguiu para Maratona, combateu e ao pressentir o desfecho largou para Atenas, a dar a boa nova. Às portas da cidade, depois de agitar uma palma, sinal da vitória, Phillipíades balbuciou duas palavras: «Alegrai-vos, vencemos» — e sucumbiu, morto de cansaço e emoção... Inspirado na saga, para a celebração da coragem e do espírito de sacrifício do herói, o francês Maurice Breal convenceu Coubertin a fechar os Jogos com uma corrida entre Maratona e o Estádio Olímpico.

11 Medalhas americanas•
Medalhas apenas houveram de prata. Os segundos e terceiros classificados não tiveram direito a nada. Os Estados Unidos ganharam 11, a Grécia 10, a Alemanha 7, a França 5 e a Grã-Bretanha 3. Nos segundos lugares o predomínio foi grego, com 19, contra 6 dos americanos e 5 dos alemães.•

Fulgor alemão
Carl Schumann ganhou quatro medalhas na ginástica e na luta e ainda foi terceiro no halterofilismo. Se os três primeiros fossem medalhados o também ginasta alemão, Hermann Weingartner teria arrecadado seis: três de ouro, duas de prata e uma de bronze. Fritz Hoffmann também juntaria bom pecúlio: duas de ouro na ginástica, uma de prata no atletismo (100 metros) e duas de bronze, uma na ginástica e outra nos 200 metros!

O coronel e os príncipes
Foi o coronel Papadiamantopoulos que pressentiu haver em Spiridon Louis maratonista de recursos invulgares. Conhecia-o da tropa. Indicou-o para a corrida e num sinal inabalável de fé fez questão de cumprir toda a prova a cavalo, a seu lado... Aos 35 quilómetros o australiano Edwin Flack arrastava-se já pela estrada poeirenta que ligava Maratona a Atenas. Pouco depois desfalecia... Spiridon passou por ele em estugada passada, entrou no estádio, os dois príncipes galgaram da tribuna e, eufóricos, correram, por entre gritos e júbilos, os últimos metros a seu lado. Com o estádio cheio como odre, estoirando — nascia novo herói da maratona. Sem o destino trágico de Phillipíades...

A inexplicada coroa de salsa
Para além de Olímpia, em outros locais da Grécia se realizaram festivais desportivos. Em Delfos, em honra de Apolo. Em Corinto, em honra de Poseidon. Em Némea, tal como em Olímpia, em honra de Zeus — mas com uma particularidade curiosa: em vez de coroa de louros os vencedores recebiam coroa de salsa, ninguém sabe bem porquê, com que simbolismo.
 
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E a Casa Pia bateu os «mestres ingleses» do Carcavelos

Fantástico voo dos «gansos»
Clubes foram aparecendo e desaparecendo. Vertiginosamente. Mas começou a notar-se o fulgor da Casa Pia, cuja equipa de futebol ficaria na história por ter batido os «mestres» ingleses, a 22 de Janeiro de 1897. Houve festa rija em Belém. E não só. Por exemplo, o Trio Civil de 1 de Fevereiro terminou, empolgado, a crónica do triunfo casapiano: «Viva! Três vezes viva! Viva! Pelos valentes rapazes que em tão poucos anos tanto conseguiram.» A crónica, assinada por Valentim Machado, que fora jogador do Lisbonense, até incluía apreciações individuais. Em compensação foram ignorados os nomes dos jogadores do Carcavelos! Chegou o século XX. O domínio dos ingleses do Carcavelos e do Lisbon Cricket manteve-se. Entre portugueses, 1902 foi o ano do Campo de Ourique. E foi então que se verificou nova aliança entre os Pinto Basto e Carlos Vilar, a eles se juntaram Plácido Duro e Paulo de Almeida Eça — e assim se fundou o Club Internacional de Futebol. Os meses correram frenéticos. Após o CIF nasceu, em Belém, o Sport Lisboa. Um grupo liderado por José Alvalade lançou os primeiros sinais de contestação, o ambiente demasiado mundano do Campo Grande Foot Ball Club, centrado no futebol de Verão que a gente final de Lisboa praticava em Belas. Desse gesto de rebeldia germinaram as sementes do Sporting. Que esteve para se chamar Grande Sporting. No Porto, jovens folgazões tinham formado o Grupo do Destino, mas, um dia, decidiram trocar o dinheiro arrecadado para montar um carro alegórico no Carnaval dos Fenianos pela fundação de um novo clube. Que sob o signo de António Nicolau de Almeida se chamaria Foot Ball Club do Porto.

Primeiras corridas pedestres
É impossível precisar a data do arranque do atletismo em Portugal. De acordo com o Tiro e Sport de 15 de Novembro de 1906, o primeiro Campeonato de estrada disputou-se a 29 de Janeiro de 1895, organizado pelo Walkim Race Club de Algés, num percurso de 15 quilómetros, entre Paço de Arcos e Algés. O vencedor foi Artur Santos, que aquele mesmo periódico exaltava assim: «Imortal ficará na história por ter batido o record das 24 horas!» Nos quatro anos seguintes a competição passou para a jurisdição do Sport Club de Lisboa, mas a morte do seu grande dinamizador, Carlos Vieira de Almeida — quase feriu de morte o pedestrianismo em Portugal. Em 1906 o Conde de Penha Longa resolveu oferecer ao Tiro e Sport uma estátua de bronze para disputa na primeira corrida de maratona em solo nacional. No ano seguinte se fez e numa distância de 15 quilómetros por não se acreditar que algum português fosse capaz de correr mais de 40! Só em 1908 se alargou a distância para 42.800 metros, a primeira verdadeira maratona — e o vencedor foi Francisco Lázaro.
 
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hast

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Carro de corridas com invenção de Michelin

Chacota e pneus
Ainda antes do século XX, primeiros sinais de profissionalismo nas «corridas de bólides». E a explosão da sua popularidade. Sobretudo no Paris-Bordéus-Paris. Em 1895 Emile Levassor, conduzindo um Panhard et Levassor de dois cilindros, foi recebido como herói na Cidade-Luz após ter conduzido — sem parar — durante 48 horas e 48 minutos. Porém, como o seu carro possuía somente dois lugares em vez dos quatro exigidos pelo regulamento, acabou por não ter direito aos 31 mil francos destinados ao vencedor. Mas alguns dos parisienses que se empolgaram com a sua façanha decidiram imortalizá-lo através de uma estátua erguida na Porte Maillot, uma das antigas entradas de Paris, onde se localizara a meta. Também para o Paris-Bordéus-Paris levou, no seu Peugeot, André Michelin «apetrechos revolucionários» — pneus de ar em vez das então normais rodas de ferro ou de borracha sólida. Foi alvo de chacota geral, pela estrada fora, por entre sucessivos furos, foi sendo humilhado — mas aquele apetrecho era mesmo revolucionário, com isso Michelin entraria mesmo para a história... Com a rivalidade das marcas a aumentar, os motores explodindo em potência — a velocidade saltou em vertigem. Em pouco tempo os motores de sete litros tornaram-se comuns, surgiram outros de 16 litros — fechou-se o século e as corridas (já um pouco por todo o lado, da Europa à América) continuaram dominadas pelos Panhard cada vez mais sofisticados, já a mais de 100 à hora.

As provas de pista e a alta sociedade
Para além das corridas em estrada, apenas arremedos de provas de pista em Portugal. De acordo com a Tiro Civil, realizou-se a 18 de Fevereiro de 1900, no Jardim Zoológico, um conjunto de provas nas quais participou Raul Flores, que, fazendo fé no que se escreveu na revista, «pertencia à velha guarda e estava desde há muito afastado do pedestrianismo». Portanto, outras competições terá havido antes — registo delas é que não. Diferentes eram as provas que a comunidade inglesa realizava no campo do Lisbon Cricket Club, na Cruz Quebrada (em terrenos hoje pertencentes ao Complexo Desportivo do Jamor). O atletismo era sobretudo... mundanismo, até porque o presidente do Cricket Club era o ministro de Inglaterra em Lisboa. O Jornal da Noite de 22 de Maio de 1903, depois de sublinhar que a «assistência era muito elegante e muito selecta», informa que «há dois anos o sr. Wilmontt fez menos tempo que o vencedor deste ano da prova das 110 jardas». No programa da Cruz Quebrada havia, para além das corridas de velocidade, provas de milha, barreiras, salto em comprimento e em altura e lançamento do peso.
 
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1899 – Primeiro sinal de Portugal no mundo do desporto

Farpa de Guerra Junqueiro e atracção das bicicletas

Bento Pessoa recordista mundial
Apesar de Guerra Junqueiro ter dito sardonicamente que «a bicicleta era o único veículo em que a besta puxava sentada», a elite endinheirada de Portugal deixou-se levar por tal fascínio e a 2 de Março de 1894, no dia do primeiro jogo de futebol entre Lisboa e o Porto, para a disputa da Taça D. Carlos, a atracção maior até foram as corridas de bicicleta na Rotunda da Boavista. A novidade foi introduzida em Portugal por Herbert Dagge, que se tornou atracção por pedalar pelas ruas de Lisboa encavalitado no seu biciclo de grande roda dianteira. Contágio imediato e ainda na década de 80 fundação do Real Velo Clube do Porto, que até acolheu como sócio o infante D. Afonso. Pelo que não espanta que D. Carlos lhe concedesse a quinta do seu palácio da Rua do Triunfo para a construção de um velódromo. Nessa altura José Bento Pessoa era ainda um menino. Seria a primeira grande figura do desporto nacional. Em 1899 bateu o record mundial de 500 metros no velódromo de Chamartin. Foi também o primeiro profissional do desporto português, só em 1897 em Espanha ganhou 70 corridas. Vitórias retumbantes assinou também em França e Suíça — uma delas no velódromo de Jonction sobre o famoso suíço Champion, primeiro grande nome do ciclismo mundial, que deixou Genebra muda de espanto e humilhação...
 
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A ideia da Taça Davis na reclusão da universidade

Saladeira sentimental

Foi uma inspiração de fim de século. Uma daquelas luzes que se acendem na solidão. E fulgem. Para sempre. Dwight Davis estava a estudar em regime de internato na Universidade de Harvard. Adorava ténis, era um dos melhores jogadores americanos na encruzilhada do século. Só achava que lhe faltava espírito de equipa. E foi então que se acendeu a ideia: organizar uma competição internacional por equipas que esbatesse o lado individualista do ténis, que promovesse o espírito de camaradagem e unisse o mundo desportivo. Nunca mais parou o desafio que assim se abrira. Ele próprio arranjou dinheiro para a taça, obra de Rowland Rhodes. Mal recebeu a obra, entregou à Associação de Ténis dos Estados Unidos aquela que haveria de tornar-se a famosa saladeira. Muito justamente, Taça Davis lhe chamaram — e aquela e as suas sucessivas réplicas reverteriam para a nação que conseguisse bater a selecção americana à melhor de cinco jogos (quatro singulares e um duplo). Os britânicos foram os primeiros convidados para o duelo. Acederam, mas enviaram delegação privada dos seus melhores elementos, os irmãos Doherty. Não duvidavam da sua superioridade — mas depressa os ingleses baixaram a grimpa. Dwigth Davis era um dos elementos da equipa dos Estados Unidos. Malcolm Whitman e Holcombe Ward seus pares. Os três humilharam a armada britânica. Foi tal o choque que no ano seguinte se recusaram a jogar de novo com os americanos. Em 1903 retoma-se o despique. Os ingleses já não facilitaram. Jogaram na máxima força. Com os irmãos Reggie e Laurie Doherty aliados ao saber táctico do seu capitão William Collins, que prefere perder o primeiro singular por falta de comparência a utilizar o seu suplente por Reggie ter sofrido fortíssimo ataque de gripe. Apesar disso, a Inglaterra ganhou por 4-1. E assim se recuperou a honra da coroa. Depressa o confronto deixou de ser apenas contra os Estados Unidos. A Inglaterra somou vitórias sucessivas até que em 1907 o australiano Anthony Wilding e o neozelandês Norman Brookes, numa equipa denominada... Australásia bateram a selecção das Ilhas Britânicas por 3-2. A magia já transbordava da saladeira — que está à beira do século, cada vez com mais encanto...

Os profissionais papões
Durante as duas últimas épocas do século XIX o Blackburn Rovers ganhou tudo o que havia para ganhar no futebol inglês. Os seus futebolistas, na sua grande maioria, eram escoceses e orgulhosamente profissionais de futebol. Eram treinados por Birt Wistle, seu agente. É considerada a primeira grande equipa do Universo, contando com jogadores como Beverly, Lofhtouse, McIntyre, Sutter, Forest, Brown, Sowerbutts, Inglis e Hargreave.
 
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1900 – Jogos Olímpicos de Paris

Fantasias dos jogos em «imbecilidade galopante»

60 Metros debaixo de água e natação com... obstáculos
Depois dos sentimentos de assombro e êxtase despertados, quatro anos antes, em Atenas, o Comité Olímpico, de cofres vazios, entregou a organização da segunda Olimpíada ao governo francês, que a troco do financiamento, em desrespeito indecente pelos ideais recuperados de Olímpia, os incrustou na Exposição Mundial de Paris como autêntico... atractivo de feira — afastando até Pierre de Coubertin de toda e qualquer acção. A manivérsia permitiu inclusivamente que se lançassem competições para profissionais! O barão não teve força para sacudir a cerviz e foi o que foi. Com o «sagrado programa olímpico» pervertido houve provas verdadeiramente exóticas, como os 60 metros debaixo de água ou os 200 metros obstáculos que obrigavam os nadadores a trepar por cima de uma barra ou de uma fila de barcos ou a nadar por baixo de outras embarcações!!! Não, não se esgotaram nisso as fantasias. As corridas de atletismo foram todas disputadas numa pista de relva (!) desenhada em pleno Bosque de Bolonha e as de natação numa piscina fluvial montada no Sena! Nem esse caricato espírito de circo, contra o qual Coubertin se encarniçara tanto, motivou ou empolgou espectadores. Contabilizados não chegaram sequer a... três mil! Atletas? Pouco mais de 1500. Portugal, que estivera ausente de Atenas, esteve quase a estrear-se nos Jogos Olímpicos através de uma equipa de esgrimistas. Em Atenas os campeões olímpicos receberam medalhas de prata porque o ouro era muito mais caro. Em Paris apenas diplomas — igualmente por razões economicistas. Ou então prendas mais ou menos insólitas...

Torre eiffel, metro, electricidade
O fulgor da passagem do século em Paris. Com a exposição Mundial. Nos Campos Elísios constroem-se o Grand Palais e o Petit Palais. A Torre Eiffel deslumbra. Promete-se a entrada no «tempo fabuloso da electricidade e da telegrafia sem fios». O metropolitano da Porta Maillot ao Bosque de Vicennes inaugura-se. É nesse ambiente de excitação que se organizam os Jogos Olímpicos — sem que o nome de Coubertin fosse alguma vez pronunciado, sem que se fizesse qualquer cerimónia oficial de abertura ou de encerramento.
 
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Cinco medalhas que não foram!
A caricata espera de Baxter
Irving Baxter, para além das cinco medalhas arrecadadas em Paris — medalhas não porque as não havia... — foi protagonista de um dos mais insólitos acontecimentos dos Jogos. Depois da vitória na altura, ganhou o salto à vara, com 3,30 metros, espantando por utilizar uma vara de bambu com um piton ponteagudo em aço para tornar mais forte a impulsão. A prova fora marcada para um domingo, por razões religiosas vários concorrentes faltaram à chamada e, devido a protestos vá-rios, no dia seguinte o Comité Organizador decidiu repeti-la. Quem saltasse mais do que Baxter seria campeão olímpico — foi a promessa. Houve quem o conseguisse, mas perante novo protesto, horas e horas de reuniões e burburinhos, os juízes determinaram que, afinal, aqueles resultados só serviriam para meros efeitos estatísticos e que Irving continuava campeão olímpico.

Martelo como nas festas irlandesas
Em Paris, nova especialidade do atletismo no programa olímpico: o lançamento do martelo — originário da Irlanda. Nas suas primícias utilizavam-se martelos verdadeiros das forjas das fábricas, cujos operários, em dias de festas, arremessavam, na ânsia de escolherem o mais vigoroso. Não admira, pois, que fosse um americano de origem irlandesa, John Flanagan, o primeiro campeão olímpico.

Alvin Kraenzlein
Revolucionária passagem de barreiras
Heróis dos Jogos? Todos americanos, todos do atletismo. Irving Baxter venceu a vara e a altura e nos saltos sem balanço foi três vezes segundo, sempre atrás de Ray Ewery, primeiro na altura, no comprimento e no triplo sem balanço. Maxey Long conseguiu nos 400 metros marca fantástica para a época: 49,4 segundos. E Alvin Kraenzlein ganhou quatro provas de barreiras: 60 metros, 110 e 200 metros barreiras e o salto em comprimento. Filho de emigrantes alemães, nasceu a 22 de Dezembro de 1881, em Madison, no estado de Wisconsin. Estudante da Universidade da Pensilvânia aos 17 anos já era recordista mundial dos 110 metros barreiras (15,2 segundos), dos 200 metros barreiras (23,6) e do... salto em comprimento (7,43 metros). Não, não foi apenas pelos quatro títulos olímpicos aos 19 anos que se tornou deus de estádio — foi sobretudo porque converteu as provas de barreiras em autênticas corridas de velocidade, ao passá-las de perna estendida, como agora se faz. Nunca ninguém o fizera antes. Faleceu em 1928. Na Alemanha. Onde era treinador da equipa nacional.

Um protesto... Religioso
O americano Meyer Prinstein recusou-se a participar na final do comprimento em nome do preceito bíblico do descanso semanal. Não foi grande a perda porque o seu salto nas eliminatórias valeu a medalha de prata!
 
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hast

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Vasos para as campeãs, medalhas para ninguém

Senhoras nos Jogos? Inestético! Indecoroso!
No seu Código Penal Napoleão Bonaparte mandou escrever palavras de um reaccionarismo insuportável: «As pessoas privadas de direitos jurídicos são os menores, as mulheres casadas, os criminosos e os atrasados mentais.» Vestígios desse espírito contaminaram Pierre de Coubertin, que sem surpresa e pelo seu próprio punho, como se tal tivesse a força da lei olímpica, cerziu código que não fugia muito do napoleónico — Jogos vedados a mulheres. Sem contemplações. «Para elas a graça, as sombrinhas, o lar, o encanto dos filhos — e jamais o desporto. Uma olimpíada feminina não seria prática, nem interessante, nem estética, nem coerente — seria indecorosa!» E assim, em 1896 em Atenas, mulher de nome Melpomema se apresentou, entre homens, na linha de partida para a maratona, mas por ordem expressa do barão de Coubertin foi escorraçada, sob vitupérios de indigna e descaradona. Algum tempo passado e mais uma famosa tirada do seu olímpico marialvismo: «Nos Jogos as mulheres só têm uma nobre missão — a de coroarem os vencedores com uma grinalda!» Mas nem todos os membros do Comité Olímpico Internacional defendiam que a mulher se deveria manter engaiolada em gineceu, abúlica, amodorrada. Assim, ao arrepio da sua vontade — e porque Coubertin fora afastado de toda a acção organizativa —, os Jogos de Paris, em 1900, abriram-se às senhoras — mas apenas em dois campos. No ténis seis disputaram o torneio, sob o compromisso de honra de jogarem com... calças largas, para que das suas pernas, obviamente, nada se visse! Ganhou a inglesa Charlotte Cooper, que assim se tornou a primeira campeã olímpica de toda a história moderna. No golfe, competição de nove buracos, a americana Margaret Abbott foi a vencedora. Não, nenhuma delas ganhou medalha de ouro. Aliás, nesses Jogos nenhuma medalha houve, nem sequer para os homens, porque faltou dinheiro para comprá-las. Quer uma quer outra receberam simples e singelamente vasos de porcelana.

Mistura na tracção à coroa
A tracção à corda era actividade muito popular na dobragem do século, manteve-se nos Jogos até à década de 20, estava integrada no programa do atletismo e em Paris a vitória foi bicéfala — ou seja, a Dinamarca e a Suécia, não tendo puxadores em número suficiente pediram autorização para se coligarem. Disseram- -lhes que sim e para escândalo geral bateram os americanos e os franceses.

21 mulheres em novidade
Foram os Jogos do tempo estendido. Saturantemente — de 14 de Maio a 28 de Outubro. 1520 os participantes. Mulheres? Vinte e uma, a grande novidade, divididas pelo golfe e pelo ténis. Países 23, modalidades 24, algumas verdadeiramente exóticas como o tiro ao javali em movimento ou o tiro ao arco à vara da pirâmide! Também houve críquete, mas como apenas concorreram a França e a Inglaterra ninguém ficou de mãos a abanar.

Charlotte Cooper
Primeira campeã olímpica e inventora do vólei
Charlotte Reinagle Cooper. Sim, é verdade, o nome não desperta emoções instantâneas. Coisas do mediatismo. Mas de uma coisa não há dúvidas: ao vencer a prova de singulares nos Jogos de Paris entrou vertiginosamente na história, com direito ao título de primeira campeã olímpica da era moderna. Contudo, a carreira desta tenista nascida a 22 de Setembro de 1870, em Ealing, Middlesex, Inglaterra, recheou-se de muitos outros êxitos. Antes de Paris — onde também arrecadou os pares mistos — já ganhara o torneio de Wimbledon por três ocasiões (1895, 1896 e 1898). Considerada a introdutora do vólei no ténis, tendo-se casado com Alfred Sterry em Janeiro 1901, interrompeu a lua-de-mel para disputar os Campeonatos de Inglaterra — batendo de novo todas as adversárias que lhe surgiram pela frente. A quinta e última vitória no santuário da relva ocorreu em 1908 — quando somava 37 anos e 282 dias. Nunca mais nenhuma senhora de tão alargada idade passaria pela glória de receber o troféu das mãos dos duques de Kent. Antes disso, em 1902, perdeu Wimbledon para Muriel Robb, no mais dramático e arrastado jogo da história do torneio, só decidido no dia seguinte e após 53 (!) sets. Em 1961, com 91 anos, voltou a levantar o público de Wimbledon quando, durante a celebração do 75.º aniversário do torneio, marcou presença nas bancadas VIP, como convidada especial. A estrela mostrava-se de novo ao Mundo, recuperava-se da nostalgia o encanto que espalhara pelos courts — e vibravam na memória de todos aqueles dias loucos de Paris em que Coubertin, iracundo, maldizia aqueles que tiveram o topete de abrir os Jogos Olímpicos a mulheres. Morreria a 10 de Outubro de 1966, em Helensburg (Escócia).
 
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> Vlk Comentou:

> ó Hast, fora de tangas, como é que tens acesso a este arquivo extraordinário?! Moro em Lisboa, fui directamente À bola e ao record e os gajos não me sabem dizer como aceder a este arquivo. Com quem tenho eu de falar para poder aceder a esse TESOURO que tu tens aqui brilhantemente postado, e que é a memória de toda a nação portista?!
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Isto saiu em fasciculos com as edições da Abola...é tipo uma enciclopedia construida aos bocadinhos:)

Mas está online: http://www.abola.pt/publica/sxxd/index.asp
 
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hast

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Timoneiro que nem sequer teve direito a nome

O campeão desconhecido
É uma espécie de herói desconhecido o mais jovem campeão da história olímpica. De quem nem sequer o nome se sabe. Os holandeses eram os favoritos à conquista da medalha de ouro. Mas nas eliminatórias perderam com os franceses. Tomaram o fracasso à conta do peso excessivo do timoneiro. E, para a final, decidiram trocá-lo por um gaiato, com idade entre os sete e os dez anos, que encontraram, empolgado com as regatas, nas margens do Sena. E, com ele como timoneiro, François Brandt e Roelok Klein venceram. Prémio recebeu também, obviamente, o timoneiro que o não fora, Hermanus Brockmann, que nos registos olímpicos aparece como... doutor e tudo! O gaiato teve apenas direito a uma fotografia. Que está guardada como uma relíquia no museu do COI. Em Lausana. E dele nunca mais se voltou a falar. De quem se falou foi de outros campeões olímpicos que ainda eram meninos. Bem meninos. Como, por exemplo, o grego Dimitrios Loundreas, que ganhou uma medalha de ouro, em Atenas, com 10 anos e 218 dias — ou como a italiana Luigina Giavotti, que em 1928 se sagrou campeã de ginástica com 11 anos e 302 dias!

As falsas medalhas
Falemos de medalhas para não complicar, apesar de medalhas não ter havido em Paris. A França arrecadou o maior número de ouro (29), batendo os Estados Unidos por nove e a Grã-Bretanha por 12. De prata foram 41, contra 14 dos americanos e oito dos ingleses. No bronze razia parecida, 32, contra 10 da Grã-Bretanha e nove dos Estados Unidos. A Bélgica surgiu como quarta potência, com oito de ouro, sete de prata e cinco de bronze.

Boémia, Cuba, Índia...
No atletismo, um indiano de origem inglesa, Norman Pritchard, foi segundo nos 200 e nos 200 metros barreiras, um boémio, Frantisek Janda-Suk, segundo no martelo. Também deu Boémia no ténis, através de Hedwiga Rosenbaumova, terceira em singulares e em pares, formando equipa com o inglês Warden. Na esgrima a novidade foi o primeiro lugar conquistado pelo cubano Ramón Fonst, na espada — pouco antes a sua ilha tornara-se independente de Espanha, havia em torno de si um fascínio fantástico, ele deu-lhe mais encanto ainda...

Alvin e os outros
Em termos individuais, quatro vitórias de Alvin Kraenzlein. O atirador suíço Konrad Staheli, três vezes primeiro e uma terceiro, foi o único a intrometer-se entre os gigantes (ianques) do atletismo. Para além de Kraenzlein, Ray Ewri ganhou os três saltos sem balanço; Irving Baxter a altura e a salto à vara, juntando a isso três segundos atrás de Ewry no comprimento, triplo e altura sem balanço; Walter Tewksbury ganhou os 200 e 400 metros barreiras, foi segundo nos 60 e nos 100 metros e terceiro nos 200 barreiras.

Um tiro na cabeça
Em 1900 os Jogos Olímpicos ainda não tinham a carga mediática, o misticismo que foram ganhando com o tempo. Eram um estado de espírito muito mais do que um espectáculo. No fundo, o que Coubertin preconizava. Muito dinheiro envolvia as corridas de cavalos, desporto profissional, que então vivia a nostalgia da estrela maior dramaticamente perdida: James Archer. Nascido em 1857, de 1874 a 1886 não teve rivais em Inglaterra. Ganhou 2748 competições — dos 21 classics em que triunfou cinco eram derbies. Com uma aptidão mental única e uma perícia de condução ainda mais fantástica, Archer tinha, no entanto, um entrave: media 1,78 metros, era pesado de mais. Não, nem isso parecia travá-lo, para perder peso sujeitava-se a violentas dietas antes das corridas — preço alto que só pagaria anos depois. Em Novembro de 1886, perturbado com a morte da mulher dois anos antes, atacado já por febre tifóide, suicidou-se, aos 29 anos, com um tiro na cabeça. Mas, imortal, ficou a lenda como jockey...

A vergonha do futebol
Tal como as mulheres, o futebol também surgiu nos Jogos em Paris. De forma inglória. Três equipas apenas à compita. Duas de clubes, os ingleses do Upton Park e os franceses da Union des Sociétes Françaises de Sport — e a selecção da Bélgica!!! Ganharam os ingleses. Mais confrangedor ainda o cenário, quatro anos depois, em Saint Louis: uma selecção canadiana e duas equipas de colégios na luta pelo pódio.

Aos pombos e ao javali
Nos exóticos Jogos de Paris houve até uma prova de tiro ao... javali. Não, o javali era só a imagem dele fixa num painel. Pior sorte tiveram os pombos. Tiro a eles também houve — e um exímio belga, de nome Léon de Lunden, em 21 disparos matou 21. O raguebi, o criquete e o pólo também passaram episodicamente por lá. A França venceu as duas primeiras e a Inglaterra a outra.

Quase Portugal
Segundo a publicação Tiro e Sport, Portugal esteve com um pé nos Jogos Olímpicos de Paris, em 1900, através da esgrima — o que até nem espanta porque António Martins, professor da Escola Naval e da Escola do Exército, tinha excelentes contactos em França, onde participara em vários torneios. Só que à última hora tudo se gorou, ninguém explicou porquê. E o periódico também não.
 
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O médico que foi o primeiro olímpico português

O pedido de Coubertin
Notícias desportivas de outro jogo de armas, para além da tradicional esgrima, podem encontrar-se a propósito do tiro, a partir de 1810. Praticava-se, então, na Sociedade de Tiro aos Pombos da Real Tapada da Ajuda — e era fácil ver por lá o Rei D. Luís, até à sua morte. Deixara-se já seduzir pelo sport, até mandara instalar em 1878 um ginásio no Real Palácio da Ajuda, onde, para além de aulas de ginástica, o filho e sucessor tinha como mestre de esgrima o famoso professor francês Petit. Os anos passaram, D. Carlos, já rei, tornou-se atirador de prestígio internacional. Em 1906, deslocou-se a Rambouillett para disputar conceituado torneio de tiro e foi abordado por Pierre de Coubertin que lamentou o facto de uma das mais antigas casas reais europeias não ter sequer um representante no COI. O rei prometeu resolver a questão e sem demoras indicou D. António de Lencastre, médico da Real Câmara, para o cargo. Por via disso, foi o primeiro olímpico português...
Morto pelo álcool
Willie Anderson
Tendo, com o pai, emigrado da Escócia para os Estados Unidos quando tinha 15 anos (1895), William Anderson tornou-se o primeiro grande golfista do século XX ao vencer a edição de 1901 do US Open. Façanha ainda mais estrondosa rubricaria quatro anos mais tarde quando se tornou no primeiro homem a triunfar no US Open em três vezes consecutivas (1902, 1903 e 1904). Tendo ganho ainda o Western Open por variadíssimas vezes, morreu, quando ainda parecia viver desportivamente em fulgor, em 1910, segundo se foi dizendo devido a problemas causados por alcoolismo. Tinha 30 anos...

Bloomer de fidelidade
Tendo, com o pai, emigrado da Escócia para os Estados Unidos quando tinha 15 anos (1895), William Anderson tornou-se o primeiro grande golfista do século XX ao vencer a edição de 1901 do US Open. Façanha ainda mais estrondosa rubricaria quatro anos mais tarde quando se tornou no primeiro homem a triunfar no US Open em três vezes consecutivas (1902, 1903 e 1904). Tendo ganho ainda o Western Open por variadíssimas vezes, morreu, quando ainda parecia viver desportivamente em fulgor, em 1910, segundo se foi dizendo devido a problemas causados por alcoolismo. Tinha 30 anos...
 
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1902 – Volta à França em Bicicleta

O «limpa-chaminés» e a loucura na estrada

A bengalada no presidente da república
A Volta à França nasceu de um incidente — ou melhor, de um escândalo político, em Junho de 1899. O barão Christiani entrou violentamente na história da III República ao dar uma bengalada no chapéu do presidente Emile Loubet. Pierre Grifard, director do jornal Le Vélo, cortou a direito em defesa do presidente agredido. Só que um dos financiadores do seu jornal era precisamente o barão Christiani, que, furibundo, decidiu não colocar lá nem mais um cêntimo. Pior: convidou Henri Desgrange, estagiário num escritório de advogados e um dos primeiros campeões de ciclismo em França, a criar nova publicação, na qual ele suportaria todos os custos. Assim nasceu o L\'Auto-Vélo — que, num notável golpe publicitário, idealizou uma Volta à França em bicicleta para sua principal promoção. A primeira edição correu-se entre 1 e 19 de Julho de 1903. Só a etapa entre Paris e Lyon teria 408 quilómetros e o seu vencedor gastaria nela mais de 18 horas! Favorito? Fisher, o trepador, alcunha ganha porque numa corrida anterior que durara 72 horas (!) ficou «meio maluco e trepou para cima de uma árvore mal cortou a meta». Ao cabo de 2428 quilómetros, vitória de Maurice Garin, o limpa-chaminés, assim apodado por ter sido esse o seu primeiro ofício, em 94.33 horas, menos três que o segundo. Para ele a parte de leão dos 20 mil francos destinados a prémios. A edição seguinte — uma autêntica loucura. Por exemplo, em Nemours o entusiasmo popular estoirou, a polícia viu-se na obrigação de atravessar cavalos na estrada para conter a horda e de súbito apareceram os ciclistas — um pandemónio, tudo em queda, bicicletas, ciclistas, cavalos, polícias... Não foi só. Adeptos de uns ciclistas assaltavam os outros, impunham-se vencedores, travavam-se fugitivos — tantas foram as irregularidades que os quatro primeiros foram desclassificados, Henri Cornet foi declarado vencedor e Des-grange, em desabafo de quem passara pela forcas caudinas, disse apenas que nunca mais haveria Tour. Houve. Ou melhor, só não houve nos terríveis anos das guerras mundiais. E imparável estava um dos maiores acontecimentos do século...

Bob Crompton
Inventor da carga de ombro
Tendo assinado pelo Blackburn Rovers em 1896, Robert Crompton manteve-se no clube da região de Lancashire até ao final da carreira, em 1920 — tornando-se assim o detentor do record mundial de permanência num clube de plano internacional. Dotado de grande capacidade física, Crompton adoptava um jogo duro (mas leal) de grande eficácia, a carga de ombro era a sua especialidade — diz-se também que foi ele o seu introdutor como forma de ganhar lances a adversários mais débeis. Inquestionável a defesa-direito na selecção inglesa, entre 1902 e 1914, somou durante esse período 41 vitórias, outro record que se manteve até 1952. Com a camisola do Blackburn ganhou os campeonatos ingleses de 1911/12 e 1913/14. Um ano após ter abandonado a competição assumiu os cargos de director (até 1926) e treinador (até 1931) — do Blackburn, claro está.