UM GRITO SÓ DE TODOS NÓS
Recordamos a história do Hino do clube, no mês em que se cumprem 64 anos sobre a primeira gravação
Os adeptos habituaram-se a fazer coro, no início de cada jogo em casa, quando ouvem a voz de Maria Amélia Canossa (na foto, na cerimónia de entrega dos Dragões de Ouro de 2013) a entoar o hino. É uma espécie de renovação de votos de fé no clube, sentindo cada verso cantado por milhares de gargantas, principalmente no estádio.
Foi há 64 anos, no dia 31 de Março, que Maria Amélia Canossa gravou pela primeira vez a letra que Heitor Campos Monteiro tinha escrito. O palco escolhido foi o emblemático Teatro S. João e, reza a história, as gravações foram efetuadas de madrugada, quando a cidade dormia, para evitar ruídos exteriores indesejáveis. Havia que o fazer rapidamente, a tempo de chegarem os discos, produzidosem Inglaterra, para a inauguração do Estádio das Antas, marcada para 28 de Maio. Aconteceu: o hino foi cantado, como seria nas inaugurações do Estádio do Dragão, em 2003, ou do Dragão Caixa, em 2009. Ganhou o estatuto de património do clube!
É preciso recuar a 1922 para se encontrar a génese do hino, produto de uma certa tendência de bem-fazer que caracterizou os primórdios do FC Porto. Nesses anos 20 do século passado, era habitual a banda do Asilo do Terço animar os intervalos dos jogos. Tratava-se de uma instituição de beneficência, em permanente luta pela sobrevivência económica. O clube ajudava com a realização de festivais desportivos cujas receitas revertiam para a instituição. E foi para um destes encontros, realizado em Agosto, que o então maestro da banda, António Figueiredo e Melo, decidiu compor uma música inédita para os seus pupilos executarem.
Terá sido tocada em vários outros festivais ou mesmo jogos, mas foi caindo no esquecimento, para renascer em 1952, por uma feliz coincidência: Hipólito Magalhães, membro da Direcção do Asilo, também fazia parte da Comissão de Festas da Inauguração do Estádio das Antas e lembrou-se da partitura, propondo que fosse tocada na inauguração do novo estádio. O presidente da Comissão, Mário do Amaral, adorou aideia e acrescentou que bom seria que se lhe juntasse uma letra, convidando Heitor Campos Monteiro (então, sócio n.º 464 do clube) para a escrever, ao que acedeu prontamente.
A letra do hino seria publicada na primeira página do jornal O Porto na edição n.º 142, de 13 de Maio de 1952, já depois de Maria Amélia Canossa ter gravado o registo que viria a ser imortalizado em disco. Nessa mesma edição, era revelado que o Maestro Afonso Valentim, nome importante da música portuense, fizera ligeira modificação, com vista a dar-lhe um ritmo adequado aos tempos em que vivemos. Arranjos concluídos, letra aposta, havia que garantir que, no dia da inauguração do estádio, as bancadas estivessem em condições de colaborar e, para isso, na semana anterior, o hino foi reproduzido na rádio, para que as pessoas tivessem a possibilidade de o decorarem a fim de que, daqui a oito dias, o possam cantar no espetáculo tão ansiosamente aguardado, lê-se nessa edição de O Porto.
A história prolonga-se até ao século XXI. Em 2006, a 31 de Março (exatamente 54 anos depois da primeira gravação), Maria Amélia Canossa voltou a gravar o hino, acompanhada pela Orquestra Sinfónica de Londres. Os portistas Carlos Tê e Luís Jardim foram responsáveis pela produção, que decorreu nos consagrados Estúdios de Abbey Road. Esta versão, como a original, pode serouvida no Museu FC Porto no espaço exclusivamente dedicado ao hino. Mas também a versão a capella, interpretada por Isabel Silvestre, e uma versão rock da Orquestra Sinfónica de Londres, cantada por Nuno Norte.
O HINO
Ó meu Porto, onde a eterna mocidade
Diz à gente o que é ser nobre e leal.
Teu pendão leva o escudo da cidade
Que, na história, deu o nome a Portugal!
Ó campeão, o teu passado
É um livro de honra de vitórias sem igual
O teu brasão, abençoado
Tem no teu Porto mais um arco triunfal
Porto, Porto, Porto, Porto
Porto, Porto, Porto, Porto
Porto, Porto
Quando alguém se atrever a sufocar
O grito audaz da tua ardente voz
Ó Porto, então verás vibrar
A multidão num grito só de todos nós
Ó campeão, o teu passado
É um livro de honra de vitórias sem igual
O teu brasão, abençoado
Tem no teu Porto mais um arco triunfal
Porto, Porto, Porto, Porto
Porto, Porto, Porto, Porto
Porto, Porto