SABIA QUE O HINO UNIVERSITÁRIO FOI ESCRITO POR UM PRESIDENTE DO FC PORTO?
Paulo Pombo fez mais do que conduzir os azuis e brancos ao título no célebre Campeonato de Calabote, em 1958/59
?Texto: Victor Queirós / Museu FC Porto by BMG
Sabia que a letra da canção Amores de Estudante, adotada há décadas como hino universitário e número 1 do top de qualquer Queima das Fitas que se preze, é da autoria de um presidente do FC Porto? Escreveu-a Paulo Pombo, matemático, engenheiro, escritor, poeta e jornalista que conduziu os azuis e brancos na enorme conquista do Campeonato de Calabote.
Presidente do FC Porto entre 1957 e 1959, Paulo Pombo foi um dos seis audaciosos académicos que em 1936, numa semana, conseguiram reunir 150 pessoas e ressuscitar definitivamente a Tuna e o Orfeão da Universidade do Porto, que desde a fundação (a Tuna em 1891 e o Orfeão em 1912) sofreram diversos colapsos e passaram pelos mais dramáticos problemas de sobrevivência, alimentados unicamente pelo idealismo académico.
Paulo Pombo e Tiago Ferreira foram os principais rostos da revitalização e renovação da Tuna e do Orfeão, e a ligação ao compositor Aureliano Fonseca, outro empenhado estudante (de medicina) e criador da Orquestra do Tango (1936), viria a gerar a canção ainda hoje tida como uma espécie de hino dos estudantes universitários. Amores de Estudante, com letra de Paulo Pombo e música de Aureliano Fonseca, está presente em todos os rituais e cerimoniais das Queimas que animam Portugal de lés-a-lés no Maio de todos os eferreás.
Orfeonista, tuno e membro da famosa Orquestra Universitária de Tangos, Paulo Pombo oferece a Aureliano Fonseca um texto mágico e que o compositor potenciou a hino, que já conheceu versões fado-tango, ié-ié, bossa-tango, slow-rock, valsa, surf-tango, punk e, inevitavelmente, house-tango, numa camaleónica convivência com os caminhos musicais mais futuristas, a projectar toda a estatura de Amores de Estudante, escrito e composto em tempos jurássicos por mentes visionárias.
Foi de tal ordem o sucesso de Amores de Estudante, que, desde 1937 e por decisão colegial, as receitas com a venda da música, entregues ao reitor, ajudaram a formar muitos médicos, engenheiros e advogados. Tocada ao piano, extraída das guitarras dos Xutos ou amarrotada por Quim Barreiros, Amores de Estudante a tudo e a todos resiste: é o hino estudantil por excelência. A excelência dos seus criadores, já lá vai quase um século
Versatilidade excepcional
Paulo Pombo nasceu em São Cosmado (Armamar), no distrito de Viseu, a 9 de Maio de 1911, falecendo a 8 de Dezembro de 1991, com 80 anos. Três gerações depois da sua fulgurante passagem pelo meio académico portuense (anos 1930), ainda é referência obrigatória da cultura e nos movimentos académicos ligados às tunas. Apesar da formação validada com excelência nas Ciências Matemáticas e Engenharia (licenciado em Matemáticas, engenheiro geógrafo e civil), foi pela cultura que se afirmou na vida.
Em 1937, foi um dos co-fundadores da revista Sol Nascente, publicação de recorte fidalgo num Portugal sombrio editada para elevação do nível cultural da população, que o Estado Novo nunca viu com bons olhos, o que explica a vida curta do quinzenário portuense: finou a 15 de Abril de 1940, quando o poder entendeu esmagar a revista que já atraía livres-pensadores famosos da Europa evoluída e fazia furor no Brasil.
Premiado pelo seu aproveitamento académico, Paulo Pombo foi matemático, engenheiro, escritor, realizador radiofónico, biógrafo, músico, poeta, presidente do Instituto Industrial do Porto, presidente do Instituto Superior de Engenharia do Porto, presidente do FC Porto, diretor de O Porto, diretor de O Primeiro de Janeiro, colaborador de A Tarde, O Diário Popular, O Diário do Norte, A Gazeta Literária, dirigente da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, do Grupo de Estudos Brasileiros do Porto, da Associação Cultural Amigos do Porto e da Associação dos Antigos Alunos da Universidade do Porto.
Escritor, poeta e pensador de estilo refinado, esteve mais de 30 anos em contacto semanal com a população portuguesa através da Emissora Nacional de Radiodifusão (Porto), onde escreveu e realizou centenas de programas de literatura, arte, ciência, história, biografia e música. A excecional versatilidade fez dele um dos grandes vultos da sociedade até aos anos de 1980, quando se retirou. Dois dos seus livros foram grandes sucessos editoriais: A visita de Jesus Programa de Televisão, de 1960, e Antologia de São João no Porto, de 1971.