Parados na fronteira
Manifestações populares, incidentes, tropas na rua e a tomar posições estratégicas na cidade e na área metropolitana do Porto. Com a revolução em curso, os primeiros a sentir mais diretamente os efeitos do golpe foram os atletas seniores de hóquei em campo.
Com viagem agendada para 26 de abril com destino à Suíça e a dois jogos a contar para a Taça dos Campeões Europeus, a equipa teve de antecipar a partida para o dia 25. Em Pedras Rubras, o aeroporto foi ocupado pelos militares, que encerraram o tráfego aéreo, e o que ia ser uma viagem de avião para a comitiva portista transformou-se numa etapa em autocarro até Madrid, a partir de onde a viagem prosseguiria por via aérea.
Em Vilar Formoso, na noite de 25 para 26 de Abril, a equipa do FC Porto deu de caras com a fronteira fechada. Foi necessário esperar por uma ordem da Junta de Salvação Nacional (acabada de instituir para assumir a gestão do país no processo de transição para o novo regime) que autorizasse os militares a abrir a passagem ao autocarro que transportava os hoquistas azuis e brancos. A ordem só chegou às
15:30 horas do dia 26 e só no dia 27 a equipa pisou, finalmente, solo suíço.
Nóbrega, Abel e o Barreirense
Nos dias 21 e 28 de abril, o FC Porto defrontou o Barreirense no Estádio das Antas, primeiro para o Campeonato Nacional da 1ª Divisão de futebol, depois, para a Taça de Portugal, vencendo ambos os jogos, por 1-0. Nóbrega foi o autor do último golo portista apontado com o país ainda sob o domínio da ditadura, e foi Abel quem marcou o primeiro golo azul e branco após a revolução.
Reunião de Direção
Na noite de 26 de abril, quando já se respirava há mais de 24 horas a liberdade instaurada no país, a Direção do FC Porto reuniu-se na antiga sede do clube, à Praça do Município (atual Praça General Humberto Delgado). Futebol, basquetebol, ciclismo, natação, questões relacionadas com as instalações desportivas e com o departamento médico do clube constituíram a agenda.
Gomes, o início da lenda
Em 1974, o central Rolando era o capitão da equipa de futebol do FC Porto. Referência histórica do clube em que ainda continua a desempenhar funções, Rolando assistiu nesse ano à chegada de Cubillas ao balneário azul e branco. O talento peruano instalou-se na equipa como uma divindade personificada, mas o ano de 1974 marcaria ainda o começo de uma lenda do futebol azul e branco e português. Em Agosto, o ponta-de-lança Fernando Gomes cumpria a estreia pela equipa sénior em jogo particular, frente aos polacos do Ruch Chorzow; em Setembro, já decidia no Campeonato Nacional da 1ª Divisão: dois golos à CUF, logo na primeira jornada.
Este texto foi publicado na rubrica Os Imortais da edição de abril da revista Dragões, publicação oficial do FC Porto