O PCP tem ideiais de facto abjectas, mas neste momento o partido está em decadência, há cada vez menos pessoas a reverem-se no PCP e mesmo o próprio discurso do partido é pouco renovado e completamente desadequado perante os tempos actuais, já passaram mais de 46 depois dos eventos de 74. Aliás na peixeirada de ontem na TVI24, fez-me confusão ontem ver um jovem como João Ferreira ter aquele discurso daqueles, principalmente na parte inicial do debate sobre o facto da ministra da justiça ter mentido. Um jovem velho comunista. Este partido parece só ter adesão perante as gerações mais velhas.
Quanto ao Chega é muito difícil de descrever para já, aliás o próprio partido em si até parece confuso nos ideiais que defende, mas sim parte da sua retórica e discurso adequa-se ao populismo de direita, usa essa retórica querendo atingir as frustrações de muitos portugueses perante a classe política e também perante a sociedade. O Chega parece ser uma versão mais soft e liberal do PNR, agora Ergue-te. Se vamos comparar ao PCP, o Chega trouxe de facto algo novo à política, parece que também vai influenciar a forma como as eleições presidenciais vão ser olhadas. Obviamente se pode dizer actualmente que é mais perigoso que o PCP, não tanto pelos ideiais(porque ambos os ideiais não são equilibrados), mas mais pelo facto de ser um partido em ascensão, enquanto que o PCP está em crise. Apesar que no debate de ontem na TVI24, a jornalista ainda ter confrontado o André Ventura em relação a Bolsonaro, mas não me parece que a comparação com Bolsonaro faça muito sentido, parece-me claro que André Ventura se compara ao estilo de Donald Trump. O Ventura como Trump são ambos são dois showmans, não interessa a qualidade do discurso e das propostas, mas sim interessa virar as atenções todas sobre si mesmo, basta ver a estratégia Gish Gallop que André Ventura utilizou no debate de ontem. Por exemplo quando a jornalista perguntou ao João Ferreira qual seria o primeiro país que ele iria visitar e o André Ventura sobressaiu com Coreia do Norte.
O curioso disto tudo é que o Chega e PCP parece que estão disputar um certo eleitorado, basta ver os resultados que o Chega teve no Alentejo e até na Margem Sul. Eu sei que muita gente votava PCP, por este ser visto como uma força de protesto e talvez o Chega esteja a aproveitar-se disso para roubar votos, aliás o próprio PCP desde de alguns tempos, principalmente ter-se envolvido na Geringonça tem-se aburguesado e parece cada vez mais um partido elitista, a prova disso foi as exceções que beneficiaram para o Avante e para o congresso em Loures. Parece que o Chega está conseguir ser o partido de protesto número 1. Talvez o desaparecimento do PCP nos Açores, pode estar relacionado com esta ascensão do Chega.
O Chega é um fenómeno novo, por isso que é normal que o nosso sistema político e mesmo a comunicação social tenha dificuldades em lidar com estes fenómenos para já, mas se repararmos estes fenómenos ocorrem por todos os países da UE, acho que só a Irlanda é a exceção. Agora pedir censura ou ilegalização isso não vai valer nada, há que aprender a lidar com isso. Por isso que estou com muita curiosidade em ver o debate entre Ventura e o Marcelo, porque Marcelo parece ser muito inteligente na forma como ele lida com esse tipo de forças, porque o Marcelo apesar de ser um candidato moderado também percebe de populismo, aliás ontem até conseguiu fazer com que o debate com Marisa Matias, uma candidata também radical, fosse amorfo e adormecido, só faltava o moderador acender uma vela. É um debate ao estilo de Marcelo.