A melhor forma de combate é sempre a prevenção. E a prevenção passa por ter mais pessoas decentes a ocupar cargos políticos, seguir as recomendações da Europa para diminuir a corrupção, governar com menos escândalos, reduzindo desta forma o substrato para o aparecimento deste tipo de partidos. Depois de eles aparecerem e começarem a crescer torna-se muito mais complicado e aí corre-se sempre o risco de alimentar esse crescimento ainda que de forma inadvertida, quando se quer combater o Chega no mesmo tipo de terreno onde toda a gente vai acabar por perder, que é através do insulto ou de um tipo de discurso mais violento.
O Chega é um grupo de charlatões que querem, acima de tudo, chegar ao poder, chegar a cargos políticos e a cargos públicos, querem formar governo. É por isso que o que aconteceu nos Açores não devia ter acontecido, o PSD não devia ter feito qualquer tipo de acordo com o Chega, mesmo que isso custasse o poder, até porque há coisas que devem ser mais valorizadas que o poder e são esse tipo de exemplos que devem passar para as pessoas e não o "vale tudo" para chegar lá em cima.
Depois há também outra questão que me parece fundamental, que é o facto de em termos políticos Portugal ser um dos países mais atrasados da Europa. É surreal a resistência que há às ideias liberais quando vemos, por exemplo, Marcelo Rebelo de Sousa, Ana Gomes e João Ferreira a falar na utopia que são as ideias liberais, ou a focarem-se no neoliberalismo de uma forma ultra-populista passando por cima daquilo que está na sua origem que é o grande capital acoplado ao poder central, que é um dos grandes problemas de muitos países nos quais Portugal está incluído, e que é muito diferente e vai contra o mercado livre defendido pelo liberalismo. Em Portugal, os ideais políticos, em termos económicos, estão demasiado à esquerda, ao contrário da grande maioria dos países mais desenvolvidos. Esta incapacidade em liberalizar a economia, em ter maior competitividade fiscal e em atrair empresas e investimento para o país, tem contribuído muito para a estagnação e para uma total incapacidade de gerar riqueza, o que faz com que o nosso PIB dependa muito de um determinado sector de actividade económico. Numa primeira fase, tivemos a construção civil, que representava 1/4 do PIB, construíamos que nem maluquinhos, casas em cima de casas, prédios em cima de prédios, tudo no litoral, tudo sem critério, sem planeamento, construções mal feitas, inadequadas e sem qualquer tipo de harmonização com o espaço e com a natureza. Depois mais tarde veio o turismo, e agora representa sensivelmente o mesmo que representava a construção civil. Depois estes sectores entram em crise por qualquer motivo e o país espalha-se ao comprido. Nenhum país bem governado pode depender tanto de uma actividade para gerar riqueza.
Eu não acho que o crescimento económico é o mais importante num país, mas é importante, e Portugal apesar de ter coisas muito boas como a baixa criminalidade e a segurança, um serviço nacional de saúde, etc., está há muitos anos estagnado, os salários são os mesmos de há 20 anos, o SNS foi uma óptima ideia, mas é uma ideia já ultrapassada e que deve ser melhorada. Querer acabar com as parcerias público-privadas que é o que tem aguentado o SNS ou acabar com o financiamento do estado aos privados, não tem qualquer tipo de sentido, são ideias arcaicas e que colocariam ainda mais em causa a saúde em Portugal. De facto é fantástico termos acesso à saúde de "graça", mas acho que muita gente não tem noção das limitações claras do SNS. O SNS é fantástico para quem tem uma emergência e precisa de ir ao hospital, partes um braço, uma perna, tens um acidente, vais a um hospital público e tens acesso a cuidados de saúde muito bons e médicos excelentes. O problema acontece quando se trata de doenças menos comuns e que exigem cuidados mais especializados. A minha mãe tinha um problema cardíaco grave, a qualquer momento, a frequência cardíaca dela podia aumentar repentinamente para valores superiores a 200 bpm, mesmo em repouso, muitas vezes acordava assim durante a noite e tinha obrigatoriamente que ir ao hospital onde lhe administravam um fármaco e os valores baixavam. Andou nisto uns 3 anos, correndo risco de vida cada vez que isto acontecia, pediu a opinião a vários cardiologistas no público, tinha duas opções: uma era não fazer nada e continuar assim, a outra era fazer uma ablação por cataterismo, só que como o problema dela no coração não era dos mais comuns, a probabilidade de ficar curada depois da intervenção era inferior a 30% e por isso alguns médicos não aconselhavam, porque se a realizasse, não a poderia fazer novamente e ficaria sempre com o problema. Depois procuramos especialistas no privado e recorremos a um médico no Hospital da Arrábida que tratava casos destes, tinham a capacidade tecnológica que o SNS não tinha e a intervenção era um processo simples com uma percentagem de sucesso superior a 99%. Foi caro, ajudei com as minhas poupanças, mas felizmente nunca mais voltou a ter o mesmo problema.
Diabolizar os privados por cegueira ideológica não tem qualquer tipo de sentido e é fundamental, em qualquer país desenvolvido que exista saúde pública, saúde privada, cooperação, concorrência e serviços de qualidade. É por isso que causa alguma revolta ver políticos de esquerda em constante ataque aos privados para defender um SNS que tem limitações tremendas e que precisa de ser melhorado. O SNS é tão bom, que todos os funcionários públicos têm acesso à saúde privada, há aqui um contrasenso que não entendo.
Somos um país com demasiados dogmas de esquerda e com um dos maiores índices de iliteracia financeira da europa, e isso também tem contribuído muito para o atraso do país.