Há sempre uma série de razões que levam alguém a decidir de uma certa forma, especialmente num líder de um país como os EUA. No caso do Iraque, na minha opinião, existem uma série de factores que justificavam uma invasão de um país soberano: o desrespeito pelos direitos humanos, a ameaça clara do Iraque aos EUA quer na região quer na possibilidade de atacar nos próprios EUA, os interesses económicos a nível de recursos naturais, etc. Convém ainda sermos bastante claros neste último ponto: costuma-se dizer que a guerra do Iraque se deveu ao "petróleo". Obviamente que esta teoria é da conspiração, e demasiado simplista para justificar seja o que for. Mas ainda assim, não percebo o choque das pessoas quando se diz (verdadeiramente) que um dos factores que levam à guerra no Iraque foram os recursos naturais. É demasiado claro, sempre o foi em toda a história, que os países defendem os seus interesses estratégicos ou os objectivos estratégicos do seu bloco. Neste caso, ignorar o peso do petróleo na economia ocidental, é ignorar o óbvio. Se existisse agora uma situação semelhante na Arábia Saudita, Qatar e afins, não tenhas a menor dúvida que iria existir uma resposta militar do Ocidente, e seria a melhor opção (não quer dizer que tenha sido no Iraque).
Mas o que muita gente ignora, às vezes por desconhecimento, outras vezes porque convém ou pura e simplesmente porque as mentiras ditas muitas vezes se tornam verdade, é que existia um medo muito mas muito grande de que organizações terroristas como a al Qaida se apoderassem de uma arma de destruição massiva. E convém saber que uma organização deste género não se ia radicalmente transformar e ter um comportamento de um estado (veja-se Paquistão, Coreia do Norte, Índia e no futuro Irão), em que uma arma nuclear, por exemplo, serve como instrumento de protecção e não como instrumento de agressão (imagina que um país como o Irão obtém uma arma nuclear; acabam-se logo quaisquer tentativas de insurgência fomentada por países ocidentais opostos ao Irão; isto porque, muito pior que o regime Iraniano, que é bastante mau, e muito pior que organizações terroristas, são organizações terroristas que tem armas de destruição massiva ou uma arma nuclear; porque no caso de a obterem, eles não têm problemas em usá-la).
Este medo não vem só da Administração Bush II. Já é mais antigo, e acentua-se muito no pós-guerra fria especialmente com os atentados de Nairobi e Dar es Salaam em 1998, levados a cabo pela al Qaida. Imagina que este medo existe no caso em que os EUA não foram atacados no seu território. Imagina o quanto esse medo se multiplica depois de serem atacados no seu território.
Para além do mais, não era muito claro se o regime Iraquiano tinha ou não tinha armas de destruição massiva. Já li várias vezes que o Saddam andava a jogar com o Irão e a dizer num plano (ONU, por exemplo) que não tinha e noutro (Irão, região, etc.) que tinha. Depois havia as informações (de 5 fontes não relacionadas) que davam conta de que existiam essas armas.
Normalmente, eu acho que o tipo e número de fontes não seria suficiente para a CIA se pronunciar sobre essa existência de armas de destruição massiva da forma que o fez (o tal Bush II mentiu é das maiores falsidades históricas que persistem, podes consultar por exemplo as biografias pessoais do Michael Morell ou do George Tenet e, já agora, do próprio Bush II). E foi um erro, mas entende-se que, perante o medo de novos atentados, alguns analistas/directores se tenham pronunciado dessa forma: "Slam dunk", dizia o Tenet.
Não se encontraram armas de destruição massiva (pelo menos não as que se achava que se ia encontrar). E essa questão precipitou uma decisão que perante os outros factores não teria sido tomada (o Bush II não a tomou perante o Irão, por exemplo). Agora, dai até se criar a ideia tão comum hoje nos media, redes sociais, que as WMD's foram justificação para ir buscar petróleo, vai um grande salto. Pergunta-te assim: se o Bush era tão esperto para enganar toda a gente (ou melhor, levar centenas de pessoas a subscrever uma mentira) para ir buscar petróleo, porque razão não era esperto ao ponto de plantar no Iraque armas de destruição massiva? Não era nada difícil fazê-lo.
Então lá está, tens situações muito complexas, em que é fudido decidir, e depois tens explicações simples que não fazem muito sentido. Perante o que se sabia na altura, perguntas: a decisão de invadir o Iraque foi boa? Eu diria que sim. Quer dizer, entre arriscar e não arriscar, eu preferia não arriscar. Sabendo o que sabes hoje, é um erro gigante, claro.