O problema dos partidos populistas como o Chega e tantos outros por esse Mundo fora é que eles têm uma vantagem competitiva tremenda face a qualquer outro partido.
A mensagem mesmo que não seja verdadeira é sempre simples. É redutora (e por ser redutora normalmente falsa) mas fácil de compreender por qualquer pessoa. Os Nazis eram os judeus, agora é os emigrantes.
Diga-se que também aqui estou a fazer uma sobre simplificação do tema porque tanto nos nazis como nos fascistas de Mussoloni a conversa também era sobre a economia, mas a verdade é que essa oscilou ao sabor do vento para eles por factores macro económicos globais que iam para lá do controlo deles.
Dando aqui o exemplo da emigração, acho que a esmagadora maioria dos Portugueses concorda que mais cuidado na política de emigração é necessária, em primeiro e último lugar por uma questão de direitos humanos, isto porque os abusos que vamos vendo levam a que emigrantes sejam expostos a realidades de exploração e vulnerabilidade que nós como país não devemos aceitar, agora articular estas ideias de forma clara e sem um discurso de ódio para o cidadão comum que não tem paciência para ler mais do que títulos de notícias, ou tiktoks manhosos de 2 minutos é difícil.
Por outro lado o discurso populista mexe sempre com outra característica muito humana que é a inércia á mudança. O ser humano (na sua maioria) resiste naturalmente à mudança, tem receio do que é diferente e não compreende, então também isso inflaciona a resposta positiva ao discursos demagogos destes partidos.
Por fim outra coisa que para mim justifica este crescimento assoberbado destes partidos é que a memoria colectiva do que é o autoritarismo/populismo está rapidamente a desaparecer na medida que os últimos europeus que viveram ou sentiram de perto os impactos das diversas ditaduras fascistas na Europa estão a falecer agora. Ou seja ou gostas de história ou há padrões muito difíceis de estabeleceres entre o passado e o que vivemos agora.
Francamente não sei qual será a volta a dar aqui, mas diria que duas coisas terão que ser verdade. A educação é um ponto super importante que precisamos mais do que nunca dar muita atenção. Precisamos que os nossos jovens saibam olhar para o passado e reconhecer os padrões, que compreendam como é que os sistemas democráticos funcionam e porque é que são importantes (porque pagamos impostos, a importância dos diferentes pilares da democracia, etc). A outra coisa que urgentemente precisa ser verdade é que precisamos claramente de um aumento na qualidade dos nossos políticos, á esquerda e á direita. Articulados, claros sobre as suas idosas, bons comunicadores e que se fiquem mais no que podem fazer diferente do que alimentar debates do "mas tu fizestes isto".
O grande problema no caso de Portugal é que a classe política soma 50 anos de descredibilização quase contínua, agora até podem tentar reverter a tendência que me parece já irem tarde. Colocar o SNS, a escola pública, os transportes, o mercado habitacional etc etc. a funcionar como deve ser ia demorar vários anos mesmo que houvesse vontade a sério de o fazer (não acredito que seja o caso do governo atual). Chegamos ao ponto que 1 casal de jovens com ordenado médio só consegue comprar casas velhas, não consegue construir vida, não consegue constituir família, ou ter a garantia que tens 1 filho em segurança no parto sem ser a arrotar uns milhares no privado, transportes é AML a abarrotar e AMP a abarrotar, o resto do país é deserto e esquecido, a escola pública é um desastre, basta ver os resultados dos exames nacionais ou a falta contínua de professores. Há alunos que passam meses sem aulas em certas disciplinas, sem professores. Até as previsões de taxa de substituição de reforma são um pesadelo nas próximas décadas, quem não se prepara com investimentos à parte está bem fudido. Ou seja, os pilares da sociedade estão muito degradados, lentamente a ruir, e as novas gerações veêm 2 alternativas: Ou ficam e vivem com os pais até aos 30+ à espera de um companheiro/a que os ajude a sair de casa em conjunto, ou vão embora e deixam tudo para trás, o que requer muita coragem e também alguma sorte. É isto vida num país saudável? Eu comprei casa muito recentemente, nova construção. Mas estou no 8o escalão do IRS, os meus pais não cobraram nada enquanto juntava dinheiro para a compra, etc, sou um caso raro. E os outros, não têm direito?
De notar que não falei sequer na onda imigracionista que entrou por aqui dentro e ajudou a piorar os serviços públicos pois aumentou a demanda mas não se melhorou a oferta de serviços. Posto isto, quando aparece alguém que nem apresenta grandes soluções mas tem a capacidade de ser direto a apontar aquilo que devia ser senso comum, sem rodeios, sem ceder à imprensa de interesses instalados, é normal as pessoas virarem-se para lá. Não é nenhum milagre, é algo lógico porque a qualidade de vida do português médio tem vindo a decair. Se os opositores do Chega se preocupassem mais em ouvir os problemas que são apontados e que as pessoas claramente estão em concordância cada vez em maior número (o número de votos assim o demonstra), em vez de passarem o tempo a chamarem isto e aquilo a esses votantes, vivíamos todos melhor. O PSD nisso já está mais à frente do que os outros, já percebeu que tem que olhar para essa base de voto, que é talvez a base menos ideológica de todas as atuais e sim a maior mistura, mas ainda está amarrado a muitos interesses instalados e faltam tomates para tomar algumas decisões mais radicais/reformistas (embora até lhes duvide a capacidade disso) porque também sabe que tem logo a imprensa a minar a opinião publica. Mesmo a imprensa faz mais ativismo que jornalismo, estão descredibilizados. Então nada se faz e os problemas continuam a amontoar e a população descontente, e cada menos crédito têm os do "costume". O Chega vai capitalizar isso, não tenho dúvidas