Comparar Montenegro com Sócrates é a tirada do ano.Quando se defendia que tudo havia sido clarificado, eis que Montenegro, interpelado pela Autoridade para a Transparência, lá se vê forçado a revelar o que mantinha escondido. Novamente o mesmo padrão: reter, reter e reter informação até ao limite do possível (até que alguma entidade questiona o primeiro-ministro ou este se vê confrontado com obrigações legais). Era evidente que a identificação de todos os clientes da Spinumviva, e não apenas dos regulares, constituía informação de relevo. O que se sabe agora? Dois dos clientes de Montenegro conseguiram dos mais proveitosos contratos com o Estado durante o seu governo ( Dois clientes da Spinumviva ganharam mais de 90 milhões em contratos com o Estado durante o Governo de Montenegro - CNN Portugal ). Relativamente a um terceiro, o primeiro-ministro compareceu na inauguração de um hotel ( Montenegro participou em inauguração de hotel de um dos clientes da Spinumviva após tomar posse - SIC Notícias ), embora papagueie que a sua acção política nada tem que ver com a sua "vida empresarial".
O passado e o presente de Montenegro deixam cada vez mais dúvidas acerca da personagem. Já vimos este filme em algum lado, o de um primeiro-ministro mergulhado em casos e suspeitas, suportado por um partido que então fazia pontaria à comunicação social e não ousava questionar o seu líder.
Pobre país este, cuja classe política é profundamente medíocre. Pequena política, sonsices, manhas, truques de comunicação e uma falta de estatura constrangedora. Olha-se para os principais candidatos a primeiro-ministro, para os principais candidatos a presidente da República... conclui-se que os cargos em muito ultrapassam os pretendentes.
LM não é ético, mas não recai sobre ele qualquer suspeita de crime; já Sócrates é inegavelmente um criminoso, que lesou imenso o Estado português e, por conseguinte, os portugueses.
Aquilo que sabemos de Montenegro é que pode ser um avençado, o que é a meu ver é eticamente incompatível com o cargo de PM, porém não constitui por si uma afetação tão grave como os atos de Sócrates.
A lei é clara: ainda que tenha existido um conflito de interesses de Montenegro, tal não implica a demissão do cargo de PM.