Vlk disse:
A Itália e a Espanha têm neste momento muito provavelmente vários milhões de infectados. Estão a esconder essa informação do resto mundo?
Já antes desta informação começar a aparecer em estudos bastava olhar para os números ao pormenor para se chegar esta ideia. Os números da Islândia estão aí para quem os quiser ver.
A China, erradamente, não fez uma coisa que apenas um país do mundo fez: testar aleatoriamente a população (foi a Islândia). Só assim se consegue ter a noção da dimensão real do problema, mas não me parece que numa situação de calamidade sanitária isso fosse facilmente posto em prática.
A lógica do que eu te estou a dizer é que a China é só mais um país, no meio dos outros, no meio duma pandemia. Tem culpas adicionais por ser um país de referência atualmente, como têm os outros EUA, UK, UE, nem mais nem menos porque não há receitas milagrosas para isto. Dizer outra coisa é um apenas um eco da reação medieval à peste negra (tudo o que vinha de fora ou era diferente é que era culpado).
Eu vou tentar explicar pela última vez, não consigo ir para além disto.
Versão A (aquilo que realmente aconteceu)
- Primeiros casos detectados no princípio de Novembro
- Ocultação e deturpação dos números oficiais durante mais de 2 meses e meio o que permitiu a explosão dos casos para milhões em Janeiro e criou uma imensa base de propagação para outros paises
- Implementação da quarentena só no fim de Janeiro, números oficiais apresentados de 80 mil infectados e pouco mais de 3 mil mortes, números reais provavelmente nos milhões de casos e centenas de milhares de óbitos, completo desfasamento na percepção pública entre o perigo teórico e real da pandemia tanto dentro como fora da China
- Começo do surto nos vizinhos asiáticos em finais de Janeiro e inicio Fevereiro
- Começo do surto nos países ocidentais no fim de Fevereiro e inicio de Março
- Niveis de competência diferentes entre todos estes outros países na forma como lidaram o problema, com diferentes consequências para esses paises, mas em todos o espectro da crise médica mas ainda mais do colapso da economia mundial
Versão B (aquilo que devia ter acontecido)
- Primeiros casos detectados em Novembro
- Partilha desde o primeiro dia de toda a informação sobre a doença quer com o povo chinês, quer com as autoridades internacionais e outros países.
- Implementação da quarentena dentro de um intervalo de tempo mais curto, em regra depois de pouco mais que 1 mês desde os primeiros casos (com a previsível evolução do surto seria difícil de evitar essas medidas se houvesse discussão pública tanto dentro como fora da China)
- Menor número de infectados como base de propagação quer dentro como fora da China
- Noção maior do perigo da doença por parte de outros países, medidas de restrição ao nível da circulação de pessoas entre a China e todos os outros países muito mais cedo levantadas.
- Mais tempo e sentido de urgência em preparar equipamento médico e testes para controlar a doença na maior parte dos outros países (mesmo que o controlo da mesma tivesse sido perdido na China)
- Provavelmente capacidade de isolar a doença em alguns países e evitar o colapso da economia mundial, ou pelo menos minimizar os efeitos da mesma, independentemente do nível de competência dos governos desses paises
Basicamente é isto, o denominador comum é a China, depois obviamente que existem paises que geriram melhor ou pior o problema que o governo chinês extrapolou, não estou a culpar apenas a China.
Também não estou a defender nenhuma retribuição à China, acho que fora o retorno de competências e auto suficiência em certos sectores fundamentais, ainda acho que devemos ter relações comerciais com esse país, não o quero isolado internacionalmente.
A China não fez isto de forma intencional, embora algumas das coisas que permite facilitem que surjam este tipo de pandemias no seu território, mas não serão certamente o único país do mundo com práticas irresponsáveis e isto é o tipo de coisa que só quando acontece leva a consequências.
A grande questão nem é ter surgido uma pandemia no seu território, mas sim na forma diferente como outro país, provavelmente uma democracia liberal com outro tipo de transparência das instituições teria lidado com isto, e como eu acredito que isso tivesse levado a diferente rumo de acontecimentos (como atrás expliquei).