Estórias da nossa história

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> Futre, comprado por 600 mil contos com o dinheiro da RTP...

Futre, RTP, Cavaco, Cintra

Era Janeiro (1993). Em Lisboa, Carlos Queirós preparava, ainda com o sonho quente da América, a Selecção. Futre chegara decidido: Atlético de Madrid jamais. Subitamente recebeu convite de Sousa Cintra para almoçar. O presidente do Sporting foi buscá-lo ao Hotel Praia-Mar, a Carcavelos. Avisou os fotógrafos. Raras vezes se lhe viram tão abertos os sorrisos. A caminho do restaurante, ouviu, comovido, o desabafo de Futre: «Saí do Sporting por dinheiro, regressarei com o coração.»

Muito mais discretamente entrou o Benfica na corrida. E, dois dias depois, Jorge de Brito anunciou o acordo para a transferência de Futre, envolvendo verbas ao redor de um milhão de contos, com a garantia de um ordenado mensal de 30 mil contos para o futebolista-prodígio. Para Paulo não houvera, sequer, dito por não dito. Houvera corrida ganha por Brito. «O Benfica chegou-se à frente, sinto muito pelo Sporting.» E pronto. Como se no desabafo houvesse descargo de consciência. Ou catarse de alma.

De orgulho ferido se sentiu Sousa Cintra. Atacou: «Futre é um mercenário, só com olhos no dinheiro, um homem sem dignidade, que nem respeitou a sua própria palavra.» Decidiu, a talho de foice, cortar relações com o Benfica, prometendo vingança. Antes do Benfica-F. C. Porto, de desempate para a Taça de Portugal, Futre foi apresentado, euforicamente, no Estádio da Luz. Foi talismã e o Benfica seguiu em frente. Entretanto, os seus dirigentes ufanaram-se de uma «brilhante obra de engenharia financeira» que permitira que se juntassem os 600 mil contos que convenceram Jesus Gil, sem precisar «de vender um metro quadrado de património nem recorrer directamente a instituições financeiras». Célere se soube que a RTP se envolvera no affaire Futre. Raul da Fonseca confirmou e lamentou que se quisesse «menorizar a capacidade e o engenho que demonstrámos, esquecendo tudo o resto. Afinal, comprámos Futre e ainda sobrou dinheiro».

600 mil contos e outras esquisitices

Foi uma vitória de Pirro. Sobretudo para a RTP, para a qual aquele adiantamento de 600 mil contos, a troco da garantia de transmissão de 21 jogos e da exploração da publicidade estática no Estádio da Luz, fora um óptimo negócio. Com isso não se importou o Governo de Cavaco Silva, que inesperadamente decidiu destituir o Conselho de Administração da RTP, presidido por Monteiro de Lemos, que por acaso ou talvez não fora presidente do Conselho Fiscal do Benfica. Marques Mendes explicou as razões - não querer agir como Pilatos. Simplesmente porque «o dinheiro não é tudo, as audiências não justificam tudo, a concorrência não é justificação para tudo».

Mas, apesar das guerras de alecrim e manjerona, Futre vestiu de águia ao peito. Contratado para ganhar o Campeonato. Como seria... Delane Vieira, empresário e médium que ao serviço do F. C. Porto fizera trabalho desconcertante. Fora convidado por Jorge de Brito, por sugestão de João Rodrigues. O primeiro grande trabalho correria maravilhosamente. João Rodrigues o confirmou: à entrada para o Estádio da Luz, Delane descansara-o, garantindo-lhe que o Benfica ganharia ao Sporting por 1-0, com golo de... Futre. A profecia cumpriu-se, para espanto de Rodrigues. Faltava, no entanto, o mais importante. Para ganhar ao F. C. Porto, na Luz, Delane terá dito que era necessário que Toni e Jesualdo Ferreira se deslocassem a um hipermercado e comprassem um carro cheio de bens de primeira necessidade para oferecer ao primeiro pobre que encontrassem. Não sendo homens para essas coisas, só a custo aceitaram tão mística missão. Encheram o carro de compras, no Carrefour, pagaram, saíram, não enxergaram pobre algum. Fartos daquela «palhaçada» telefonaram a uma amiga de Delane, pedindo-lhe que lhes trouxesse um. A senhora arranjou-o num bairro degradado e o pobre ganhou o dia.

Só que o F. C. Porto não perdeu na Luz, empatou. E assim garantiu quase virtualmente o título. Delane, em defesa da sua proficiência espiritual, terá afirmado que tudo abortara porque os dois técnicos nem sequer conseguiram arranjar um pobre! Toni, no entanto, jura a pés juntos nunca se ter sujeitado a tal. João Rodrigues aquiesce que pelo menos foi à sua frente que Delane pediu aos treinadores que o fizessem...

O investimento Futre acabaria, assim, por tornar-se ruinoso. No fundo, super-Futre só na final da Taça, em que o Benfica arrasaria o Boavista salvando a época. Contudo, a crise do Benfica não nasceu da mais ou menos desesperada ou megalómana contratação de Futre, que obrigou à hipoteca de receitas futuras, que de outro modo sempre serviriam para disfarçar o mal que já se entranhara e que o Relatório e Contas expressara bem: um passivo superior a quatro milhões e meio de contos. Mas bem pior que os números astronómicos das dívidas foram as beliscadelas no orgulho benfiquista, sobretudo a contratação, no «Verão quente», de Paulo Sousa e Pacheco pelo Sporting. Para Cintra a vingança serviu-se fria.
 
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Resumo da época 1991/1992
Agosto
17 — Pontapé de saída para mais um Campeonato Nacional da I Divisão, com um aperitivo apetecível no Estádio da Luz: Benfica-Boavista. E para começar, nada melhor que um escândalo. Os encarnados perderam por 0-1 e Eriksson, à saída do estádio, não escapou aos apupos de alguns associados.

Setembro
6 — Depois de uma interminável polémica, os responsáveis máximos da FPF decidiram desistir do «Mundial-98» e candidatar-se à organização do «Europeu-96». Como se sabe, nem uma coisa nem outra, apenas o sonho megalónamo... Pelo meio existiu ainda a candidatura a uma final de uma prova europeia, que acabaria por ser aceite. O Estádio da Luz seria, assim, o palco escolhido para a final da Taça das Taças e que acabou por reunir o Werder Bremen, da Alemanha e o Mónaco, de França, na altura equipa de Rui Barros.
11 — Na sua caminhada para o «Europeu-92», a Selecção portuguesa defrontou, nas Antas, a Finlândia e venceu, com muito sofrimento, por 1-0. Foi um «Portugal do pequenino». Rui Barros, fez uma excelente exibição e, aos 22 minutos, cruzou para César Brito apontar o tento solitário. Apesar de não convencer, a turma das quinas ao fim de seis jogos comandava agora o Grupo, juntamente com a Holanda, com 9 pontos.
14 — Derby à quarta jornada do «Nacional». O palco foi o estádio de Alvalade e frente a frente estiveram Sporting e Benfica, que terminaram o encontro em branco. Uma curiosidade: no embate entre os dois «grandes» estrearam-se nada menos do que seis futebolistas, nestas andanças dos grandes jogos cá do burgo. Pelo Benfica, Paulo Madeira, Kulkov e Iuran, pelo Sporting Figo, Peixe e Iordanov. Mas esta jornada ficou ainda marcada pelo naufrágio do F. C. Porto no Funchal, ao perder por 1-0. No comando da classificação, duas equipas imprevistas, ambas com seis pontos: Boavista e Desp. Chaves.
19 — Primeira mão da primeira ronda das provas europeias. O Benfica, na Taça dos Campeões Europeus, agora com um novo figurino, não teve dificuldade em esmagar, em La Valetta, o campeão de Malta que dava pelo nome de Hamrun, por 6-0, com quatro golos de Iuran, um de Pacheco e outro de Rui Águas. Para a Taça UEFA, o Boavista surpreendeu a Europa do futebol e, os homens das «camisolas esquisitas», como afiançaram os italianos, bateram, no Bessa, o poderoso Inter de Milão, por 2-1, com golos de Marlon e Barny. Em Alvalade, o Sporting também venceu, mas por 1-0, com um tento de Iordanov. No dia seguinte, novamente em Malta, O F. C. Porto, para a Taça das Taças, venceu o La Valetta, por 3-0, com golos de Kostadinov, Kiki e Mihtarski e o Salgueiros, no Bessa, venceu o Cannes, para a Taça UEFA, por 1-0. Uma entrada prometedora, com 5 jogos e 5 vitórias, com 13 golos marcados e apenas um consentido.
25 — Segundo derby do Campeonato e segundo nulo. Nas Antas, F. C. Porto e Sporting não ultrapassaram o 0-0 e na quinta jornada, os três grandes contabilizavam já uma perda de pontos pouco habitual: F. C. Porto, 3 pontos; Benfica, 4; Sporting, 5.

Outubro
2 — Na segunda mão da primeira eliminatória para as competições europeias, duas grandes surpresas. O Boavista resistiu em San Siro, empatando a zero bolas e afastando o colosso italiano que era o Inter de Milão. Em Bucareste, o reverso da medalha. O Sporting baqueou ante os romenos do Dinamo, por 2-0 e disse adeus à prova. Ainda para a Taça UEFA, o Salgueiros perdeu por 1-0, em Cannes, e foi afastado por pontapés da marca de grande penalidade, perdendo por 4-2. Para a Taça dos Campeões, o Benfica brindou os malteses do Hamrun, com mais quatro golos sem resposta e, nas Antas, o F. C. Porto lá se desembaraçou do La Valetta, vencendo por 1-0.
16 — «Nem Suécia... nem Barcelona. Ficamos em casa de castigo» titulou «A Bola» para expressar o adeus português ao campeonato da Europa e aos Jogos Olímpicos de Barcelona. A selecção «A» perdeu por 1-0, em Roterdão, frente à Holanda e, no dia anterior, as «Esperanças» não tinham conseguido melhor que um empate a um golo, com o tento português a ser assinado por Jorge Costa. Os resultados não serviam as pretensões das selecções nacionais e, por isso, mais uma vez, sofremos a condenação de estar ausentes dos grandes acontecimentos. Um facto inédito, ou quase: a Selecção principal entrou em campo sem nenhum jogador do Benfica. Os portugueses: Vítor Baía; João Pinto, Fernando Couto, Venâncio e Leal; Peixe; Rui Barros, Oceano e Nelo; Futre e Cadete.
23 — Nos oitavos-de-final da Taça dos Campeões, o Benfica recebeu os ingleses do Arsenal e empatou a uma bola, com golo de Isaías, o mesmo que 15 dias depois, em Londres, escandalizaria os ingleses. Para a Taça das Taças, o F. C. Porto defrontou o Tottenham e não foi feliz. Perdeu 3-1, na capital inglesa e comprometeu a presença na prova. Um dia depois, novamente frente a italianos, o Boavista perdeu com o Torino, no Estádio delle Alpi, por 2-0 e Marlon, um dos brasileiros ao serviço do clube axadrezado, escapou, por pouco, a uma morte no estádio.

Novembro
3 — Os derbies teimaram em não render golos. No F. C. Porto-Benfica persistiram os zeros. Depois da confusão gerada com o encontro da época anterior, cujas feridas demoraram muito tempo a fechar, as duas equipas demonstraram em campo um alto grau de profissionalismo, deixando as birras para os dirigentes. Paulo Pereira lamentou-se: «Este não é o Benfica que nós conhecemos. Massacrámos e eles passaram a vida a aliviar bolas para o ar, na segunda parte nem sequer passaram do meio campo». Carlos Alberto Silva em profissão de fé: «Senti um novo F. C. Porto. Só faltou um golo à grande exibição. Esta já foi a equipa que eu quero, capaz de jogar noventa minutos ao ataque.» Eriksson suspirou de alívio: «Sofremos muito, o empate não é nada mau.»
7 — Noite de glória europeia, mais uma, para o Benfica. No encontro da segunda mão dos oitavos-de-final da Taça dos Campeões, quando poucos acreditavam que tal fosse possível, os encarnados arrasaram Londres, vencendo o Arsenal, por 3-1. Os ingleses marcaram primeiro, por Pates (19 m) e pensou-se que era o fim. Mas o Benfica dos grandes palcos europeus renasceu inesperadamente e Isaías, o grande profeta da noite londrina, empatou aos 35 minutos. No prolongamento, Kulkov fez o 2-1 (101 m) e o mesmo Isaías bisou, aos 107 minutos. Eusébio falou de... «vitória à antiga». Com os ingleses rendidos ao perfume dos homens de Eriksson, restou ao Benfica seguir em frente para encontrar na fase final, no seu grupo, Barcelona, Sparta Praga e Dinamo Kiev. No Bessa, os comandados de Manuel José esbarraram com o Torino e não foram além de um empate sem golos, terminando aí a sua presença na prova. O mesmo destino coube ao F. C. Porto que, ao empatar 0-0 com o Tottenham, terminou a sua carreira na Taça das Taças. Tozé, extremo que Carlos Alberto Silva lançara no seu F. C. Porto-estilo-gazua era a voz mais quente do desânimo: «Foi um escândalo. Para além do azar que nos perseguiu, o árbitro dinamarquês (Peter Mikkelsen, que começava a desbravar o seu caminho para a glória) deixou três penalties por marcar». Dos mesmos três penalties falou Carlos Alberto Silva, que adiantou: «Fizemos tudo o que era possível para seguir em frente, não conseguimos, assumo a responsabilidade, mas não posso deixar de reconhecer que estamos a contruir uma grande equipa».
10 — O F. C. Porto, outra vez com uma atitude supercompetitiva, venceu em Aveiro, por 1-0, mercê de golo de Mihtarski. Silva Vieira, presidente do Beira-Mar, reconheceu: «O golo foi bem anulado por Pinto Correia, havia dois jogadores nossos em posição de off-side, por isso não perdemos devido ao árbitro». Apesar de tudo, durante o jogo, adeptos do Beira-Mar contestaram, efusivamente, Pinto Correia e seus pares, no final da partida alguns deles engalfinharam-se em incidentes e tudo redundaria numa autêntica batalha campal, com intervenção enérgica da Polícia. Da refrega resultaram vários ferimentos, dois adeptos portistas tiveram de receber tratamento hospitalar e António Magalhães, que ao serviço do Beira-Mar fora campeão nacional de... boxe, ficaria internado, vítima de navalhada no abdómen. A equipa de arbitragem acabaria por ser evacuada por uma porta das traseiras, com escolta policial, duas horas após o final da partida. O Sporting perdeu em Guimarães e Marinho Peres, começando a pressentir o chão a fugir-lhe debaixo dos pés, avisou: «Não podemos baixar os braços». Líder continuava o Benfica, com 16 pontos, os mesmos que o Guimarães, mais um do que o F. C. Porto e o Boavista. À 11.ª jornada. Mas portistas e vimaranenses tinham menos um jogo. Na Luz, algumas ondas de choque. Eriksson, sereno, desdramatizou: «Nem os assobios, nem os aplausos me tiram o sono.»
20 — A despedida, triste, de mais um «Europeu». No último encontro, frente à Grécia, Portugal venceu por 1-0, já com o pensamento afastado da Suécia. João Vieira Pinto marcou o tento, aos 16 minutos e, por Portugal, actuaram: Vítor Baía; João Pinto, Rui Bento, Fernando Couto e Leal; Vítor Paneira, Rui Barros, Peixe e Semedo; Rui Águas e João Vieira Pinto. Carlos Queirós não se engolfou em mágoa: «Exibição bonita e consistente. Com isso, quisemos dizer às pessoas que há sempre muito para ganhar. E esta noite ganhámos uma equipa para o futuro.»
27 — Em Kiev, ante o Dinamo, noite negra para o Benfica no primeiro encontro para o Grupo A da Taça dos Campeões. Perdeu por 1-0 e a Rui Águas tudo correu mal. Dos seus pés saiu o atraso que deu origem ao golo de Salenko e já bem perto do fim, acabou por fracturar a região tibiotársica. Uma lesão que Nuno Ferrari captou, num flash arrepiante. E Eriksson, no final, atirou: «Muito mais do que o resultado, estou preocupado com Rui Águas. No Benfica, a saúde de um jogador vale sempre mais do que um resultado desportivo». Iuran, revoltado: «Houve clara intencionalidade! O objectivo dele foi a perna do Rui. Por isso, recusei as desculpas que Alexanenkov foi apresentar às cabinas, no fim do jogo, virando-lhe a cara. E, depois disso, só queremos oferecer a vitória ao Rui Águas.»

Dezembro
11 — Segundo jogo do Benfica na fase final da Taça dos Campeões Europeus e nova desilusão. Os encarnados não foram além de um empate sem golos, apesar de o adversário se chamar... Barcelona. Eriksson: «Tivemos demasiado respeito pelo Barcelona, mas ainda não nos despedimos de Wembley.» Cruyff ripostou: «Com tantas oportunidades de golo, merecíamos ter vencido.» Ivkovic: «Neno foi o melhor, ele salvou o Benfica.»
18 — Primeira mão da Supertaça Cândido de Oliveira. Na Luz, Benfica e F. C. Porto protagonizaram um bom espectáculo, com a vitória a sorrir aos encarnados, por 2-1. Iuran, Jaime Magalhães e William foram os autores dos três golos. No regresso do jogo, Pinto da Costa sofreu violentíssimo acidente, vencendo a morte por... verdadeiro milagre. O seu Fiat Croma Turbo ficou praticamente desfeito, após embate numa carrinha, em plena auto-estrada, traído por um banco de nevoeiro. Assistido em Coimbra, passou 24 horas em repouso absoluto e no domingo seguinte já esteve no Bessa, assistindo ao empate entre o Boavista e o F. C. Porto.
27 — Tanta dor, tanta tristeza, tanta saudade, no funeral de Teles Roxo, cortejo de profundo pesar entre as Antas e Espinho. Morrera, aos 49 anos, no dia de Natal, num acidente de viação. Na homilia da despedida, o padre Manuel, da Igreja de Espinho, disse do ex-dirigente do F. C. Porto: «Este homem viveu a vida a grande velocidade e olhou mais para os outros do que para ele.»
29 — E na viragem do ano, o F. C. Porto assumiu o comando da classificação, com 24 pontos e Vítor Baía somava já 1.169 minutos de imbatibilidade no Campeonato. Em 15 jogos, apenas um golo sofrido, apontado a 15 de Setembro, no Funchal, por José Pedro.
1992
Janeiro
4 — A arbitragem portuguesa outra vez a ferro e fogo. José Pratas, que parecia ser o candidato natural à substituição de Vítor Correia como árbitro internacional, foi preterido em favor de António Marçal, que estava... suspenso pela UEFA, devido à acusação do delegado do França-Islândia que considerou que actuara como se estivesse de férias. Por isso, em vez de sete, Portugal passaria a ter apenas seis árbitros internacionais. Fernando Marques, presidente do CA, admitindo que alguém traíra... Pratas, admitiu perguntar à FIFA por que razão o alentejano fora afastado, adiantando: «Alguém propôs a alteração, se soubesse quem já o teria denunciado.» Entretanto, ficou a saber-se que o nome de Marçal fora lançado (por quem é que não) por se decidir que para os árbitros internacionais era obrigatório falar inglês...
29 — A UEFA com «mão pesada» multou o Benfica em 10 mil contos, devido ao mau comportamento dos seus adeptos durante o jogo com o Barcelona, disputado em Dezembro na Luz, a contar para a Taça dos Campeões. A coima foi agravada pelo facto de um elemento da equipa de arbitragem ter sofrido ferimentos provocados por um objecto metálico arremessado das bancadas.

Fevereiro
12 — Portugal bateu a Holanda por 2-0, em jogo disputado em Faro. Um espanto. Por isso se disse que aquela selecção de Queirós era quase a invenção do século. Toni, na sua condição de treinador adjunto, vaticinou: «Vencemos o campeão europeu descobrindo jogadores do futuro. Por isso este resultado há-de ficar para a história do futebol português.» Os golos couberam a Oceano e César Brito e Queirós lançou à liça Vítor Baía, João Pinto, Hélder, Peixe, Leal, Paulo Torres, Vítor Paneira, Oceano, Figo, Rui Barros (que em avião privado, posto à sua disposição pelo Mónaco, voou directamente de Faro para Nîmes, no final da partida) e Domingos. Rinus Michels, que, alguns meses antes dissera que jogar como jogou a Selecção de Artur Jorge deveria ser... proibido, embasbacou-se: «Sempre pensei que Portugal era uma das grandes equipas da Europa, com jogadores de grande classe, mas neste jogo excederam-se, não nos deram a mínima possibilidade.»

Março
5 — Para a Taça dos Campeões, o Benfica empatou, na Luz, a um golo com o Sparta de Praga. Decepção. Jorge de Brito voltou a defender Eriksson e os jogadores. E o treinador pediu apenas que não se julgasse que o Benfica estava morto e que os checos eram uma equipa de bons rapazinhos...
7 — Chalana, na despedida desencantada do futebol. Com anticorpos de mágoa. «Admiro cada vez mais Pinto da Costa e a ambição do F. C. Porto. E o Benfica está cada vez mais moribundo. No Belenenses fui perseguido pelo Benfica e isso continuou até assinar pelo Estrela. Sei que o meu nome se sujou quando ataquei Gaspar Ramos e Adriano Afonso. E houve negligência da parte de outra gente que eu ataquei. O Departamento Médico do Benfica anunciou que eu tinha uma hérnia discal quando médicos particulares me diagnosticaram uma ciática aguda, que ficou tratada em dois meses. Foi por isso que o Gaspar Ramos desistiu de mim, deixou de me apoiar, virou-se para outros jogadores.»
Abril
4 — Bobby Robson foi recebido folcloricamente em Alvalade e pediu, sem demoras, garantias a Sousa Cintra de que o Sporting poderia assegurar a contratação de jogadores de top, permitindo-lhe também organização, disciplina e... campos de treino. Só assim ficaria. Cintra aceitou e Robson assinou contrato por duas épocas.
9 — Gaspar Ramos explicou, desconcertantemente, a razão da sua saída do Benfica: «Esperava ser convidado para o actual cargo de Jorge de Brito.» Entretanto, de Ivic se começava a falar para sucessor de Eriksson, garantindo-se também que Mozer jamais regressaria à Luz com Jorge de Brito como presidente.
11 — Silva Vieira, que fora presidente do Beira-Mar, admitiu, sem problemas: «Não escondo que dou lembranças aos árbitros.» Rumores havia de que lhes dava fardos de bacalhau.
15 — «Adeus Wembley!» O título de «A Bola» não deixava de mostrar uma certa resignação pelo facto, aliás esperado, de o Benfica não ter conseguido o milagre de vencer, em Nou Camp, o Barcelona, consentindo à equipa de Cruyff a qualificação para a final da Taça dos Campeões. O Benfica não sentia, no entanto, muitas razões de queixa da sorte. Uma equipa que se esfrangalhou no Campeonato Nacional e terminaria, escandalosamente, a 10 pontos do F. C. Porto dificilmente poderia aspirar a ser campeã da Europa. O Benfica perdeu por 1-2, mas ao menos mostrou-se com alguma coragem, batido apenas pela magia de Stoitchkov. E Eriksson, perdendo tudo, percebeu que era hora de partir. Até porque se confirmara que a Sampdória lhe acenara com um contrato fabuloso e um camião de liras... Mas antes disso o Boavista afastaria o Benfica da final da Taça de Portugal ao vencer, por 2-1, no Estádio da Luz, com Ricky, em dia de glória, apontando os dois golos.
24 — Jorge de Brito eleito presidente do Benfica, com 76,13 por cento dos votos. Um score esmagador que não inquietou Alexandre Alves, que se quedou pelos 21,96 por cento: «Serei de novo candidato sem ter de esperar dois anos, mas não quero ser ave agoirenta. Pela minha parte enterro o machado de guerra.»
25 — Portugal sagrou-se campeão da Europa da hóquei em patins ao vencer a Espanha por 4-2.

Maio
8 — Eram 15 horas em Genebra. Ivic assinou pelo Benfica. Jorge de Brito sorriu. O treinador que se abespinhou por lhe chamarem... jugoslavo, clamando «sou croata!», disse em júbilo que se sentia assim por regressar a um dos melhores clubes do Mundo. E prometeu, de supetão, continuar o trabalho que iniciara em 1984. E que poucos dias durara, mas enfim... Algum tempo depois diria que sabia bem que tinha a obrigação de ganhar o Campeonato e algo mais. Eram tempos ainda de estabilidade e fé.
17 — Acabou o Campeonato Nacional e o F. C. Porto foi o supercampeão com 10 pontos de avanço sobre o Benfica.
23 — Cintra descobriu na Polónia o ponta-de-lança com veneno que Robson lhe exigira. Jovem e... apenas prometedor. Chamava-se Juskowiak, tinha 21 anos e na sua estreia, em Paris, contra o Aston Villa, chegou, viu e... marcou dois dos três golos com que se fez a vitória do Sporting.
24 — O Boavista venceu a Taça de Portugal ao bater o F. C. Porto por 2-1, com golos de Marlon e Ricky. Valentim Loureiro radiante: «Vencendo Benfica e F. C. Porto esta Taça não caiu do céu. Pinto da Costa já me veio dar os parabéns e disse-me, sem nenhum problema, que jogámos muito bem e merecemos o triunfo.» Um triunfo que rendeu a cada um dos jogadores do Boavista um prémio de 1200 contos; 500 tinha valido a eliminação do Benfica. Os heróis da vitória do Jamor: Alfredo; Paulo Sousa, Barny, Samuel e Fernando Mendes; Casaca, Bobó, Tavares e Marlon; João Pinto e Ricky.
28 — Vasco e Marcão, ambos do Penafiel, foram apanhados nas malhas do doping por ingerir substância formada por amineptina, droga da moda em França havia algum tempo. Pereira Ramos, o médico, alegava que o medicamento não constava da «lista negra» da FPF e dera-o aos atletas como um antidepressivo, que alguns apresentavam stress competitivo em doses elevadas. Candidamanente, Henrique Calisto, o treinador, asseverou desconhecer a administração de qualquer substância farmacológica aos seus pupilos.

Junho
3 — Valentim Loureiro assinou um contrato-promessa no sentido da transferência de João Pinto para Alvalade. À cautela fez questão de referir que o compromisso só seria válido com o acordo do jogador. Definitivamente, para cumprir era o acordo de cedência de Pedro Barny ao Sporting.
— O PSG desistiu de Cadete e um alto dirigente do clube então treinado por Artur Jorge explicou que Cadete era mais caro do que Klinsmann.
8 — João Pinto recusou assinar contrato com Sousa Cintra mas prometeu ao presidente do Sporting que iria a Alvalade dois dias depois para ter com ele conversa decisiva.
10 — Não foi. E assinou pelo Benfica. Sousa Cintra, desesperado, voaria para os Estados Unidos, onde o jogador se encontrava ao serviço da Selecção Nacional, para disputa da US Cup, mas debalde. Regressou desolado e, em comunicado, anunciou que se desinteressara da contratação do jogador por João Pinto «não ter estatura moral para envergar a camisola do Sporting». Pouco se importou com o remoque o menino-prodígio, que, premonitório, aventou: «Serei campeão pelo Benfica.» Cintra mais não pôde fazer que contratar outra esperança, Capucho, de quem se dizia estar já com um pé nas Antas.
— E, à pala de uma eleição intercalar, Lopes da Silva sucedeu a João Rodrigues. Como presidente provisório, falando-se em mandato de seis meses. Mais seria porque em Portugal o provisório sempre foi o mais definitivo. Avisou: «Tenho metas definidas, quero pacificar a FPF, mas não aceitarei a presidêncida de um futuro elenco.» Humilde e honesto. Ao menos isso. E para a presidência do Conselho de Arbitragem, o vulcão sempre em ebulição no futebol português, a Associação de Futebol do Porto indicou o boavisteiro Laureano Gonçalves.
24 — Carlos Queirós ameaçou abandonar a Selecção Nacional por recusar afrontas. João Rodrigues saiu em sua defesa asseverando que o seu projecto era o o único sério do futebol português. De Bordéus lhe lançavam o canto de sereia...
26 — Já se sabia que no futebol português o que hoje é verdade amanhã é mentira e, assim, apesar de Jorge de Brito ser presidente do Benfica, Mozer voltou mesmo à Luz. Interesses...

Julho
1 — No ar rumores de que João Pinto, comprometendo-se com o Benfica por quatro anos, poderia, no primeiro, ser emprestado ao... Boavista. Rumores que se desfizeram para desilusão de Valentim Loureiro. «De facto, emprestar o João Pinto, mesmo ao Boavista, seria o maior erro da história do Benfica. Duvidar do valor dele daria direito a duvidar do próprio treinador que sancionasse um acto desses! Mas que ingénuo fui, aos 53 anos, que quase acreditei que o Boavista assim se assumiria como verdadeiro candidato ao título ... Mas agora acabou-se.»
8 — Finalmente, preto no branco. João Pinto assinou pelo Benfica. Nas faces de Valentim Loureiro correram lágrimas de emoção. Em sussurro, o desabafo: «Isto é como casar um filho — é bom para ele mas custa muito!» Lágrimas compensadas pelos 800 mil contos que o negócio envolveu.
10 — Portugal já rendido à tragicómica novela da pala de Alvalade. A Secretaria de Estado da Cultura decidiu que a bancada central teria de ser encerrada. Por questões ponderosas de segurança. Ripostou a Direcção de Cintra garantindo que o Sporting continuaria a jogar no seu estádio e o concerto de Elton John ali mesmo se realizaria. Porque, para Cintra, a letra do despacho se resumia a questão de lana-caprina. E bradou: «É um acto de má-fé, o engenheiro é do Benfica!» E Tomás Aires, engenheiro de profissão, vice-presidente do Sporting, na entreajuda: «Um vírus estranho ataca a pala em vésperas de grandes acontecimentos, quer desportivos quer musicais! Qual a cor e suas características? Não sei, mas é estranho!...»
15 — O Sporting aproveitou-se da guerrilha que se arrastava havia muito entre Edgar Cardoso e o LNEC para esgrimir um aparente trunfo — o próprio Edgar Cardoso, que, depois de uns piparotes na pala e examinações em jeito folclórico, sempre, sempre, ao lado de Cintra, concluiu e anunciou ao País, desfazendo em pó de incompetência o parecer do LNEC: «A pala do Estádio de Alvalade está mais segura do que o Viaduto Duarte Pacheco.»
 
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Recorde-se a polémica que envolveu a pala do Estádio de Alvalade:

Foi no Verão de 1992 que despontou a celeuma em torno da pala. À época, um parecer do Laboratório Nacional de Engenharia Civil apontava para riscos imediatos de queda da cobertura da antiga bancada central. A zona seria mesmo interdita por despacho da Secretaria de Estado da Cultura, mas motivou forte oposição do engenheiro Edgar Cardoso
Note-se que a Secretaria de Estado da Cultura era na época responsabilidade do Dr.Santana Lopes...
Portugal, já rendido à tragicómica novela da pala de Alvalade. A Secretaria de Estado da Cultura decidiu que a bancada central teria de ser encerrada, por razões de segurança. Respondeu a Direcção de Cintra garantindo que o Sporting continuaria a jogar no seu estádio e o concerto de Elton John ali mesmo se realizaria. E bradou: «É um acto de má-fé, o engenheiro é do Berifica!» O Sporting aproveitou-se da guerrilha que se arrastava havia muito entre Edgar Cardoso e o LNEC para esgrimir um aparente trunfo — o próprio Edgar Cardoso anunciou: «A pala está mais segura que o Viaduto Duarte Pacheco.»
A 22 de Agosto, depois de nova interdição da bancada central do Estádio de Alvalade, a Direcção do Sporting, reunida durante cinco horas, acatou a decisão de Santana Lopes, apresentando o Jamor e o Restelo como hipóteses para o primeiro encontro do «Nacional» com o Tirsense.
 
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Na campa de Rui Filipe
Em Alvalade houve sentimento de «dragão», depois de Pinto da Costa prometer na campa de Rui Filipe que ele haveria de ser uma vez mais campeão!

Tomislav Ivic deixara, refulgente, a aura do campeão. Brilharia ainda, cinco anos passados, cintilante, a sua estrela? Era a dúvida. Pinto da Costa, temerário, aceitou correr o risco, escolhendo-o para sucessor de Carlos Alberto Silva. Depressa se veria que o fascínio do croata se emolara já, apesar de ainda ter conseguido colocar o F. C. Porto na fase final da Liga dos Campeões, eliminando o Feyenoord. No Campeonato, a equipa vacilou, esbanjou pontos incríveis nas Antas, cedo hipotecando ambições. Cada dia que passava era dia em que se esperava que a sua cabeça rolasse. Mas Pinto da Costa foi sustendo Ivic, até que, já em Janeiro, após vitória concludente em Aveiro anunciou da sua própria boca que Ivic se... despedira (?!), seduzido pelo convite que recebera para organizar, no âmbito da FIFA, o futebol na Croácia, não admitindo sequer que se falasse de chicotada psicológica. «Ivic queria libertar-se do F. C. Porto. Após o jogo de Faro tivemos conversa longa. Pediu para sair. Como perdemos, fui irredutível. Não queria que saísse naquela altura, para que não se pensasse que era consequência de uma derrota inesperada e injusta. Depois de duas vitórias consecutivas, já não podia existir essa ideia. E Ivic saiu. Mas não foi despedido, simplesmente aceitou outro desafio, trabalhar na Croácia, trabalhar pelo futebol do seu país. Não se trata de tentativa para salvar a época, ainda temos tudo para ganhar e eu próprio disse aos jogadores que tinham a obrigação moral de dedicar a Ivic uma das vitórias da época.» Ivic disse que partia para colocar ponto final na carreira de treinador de clubes. Por não querer «morrer no banco». Deixava o F. C. Porto a quatro pontos do Benfica...
Para seu substituto, Pinto da Costa escolheu Bobby Robson, despedido, havia pouco, de forma pouco digna por Sousa Cintra. No seu primeiro clássico como treinador do F. C. Porto, derrota com o Benfica e o sonho do título a dissipar-se, em partida que Robson sintetizou assim: «Duas equipas muito equilibradas, mas o resultado do jogo foi Mozer, 2-Fernando Couto, 0.» Mozer, pressentindo-lhe o feitio de ferrabrás, no ardor da luta provocou-o com palavras agrestes. Couto respondeu com... agressão. Foi expulso e culpado da derrota da equipa. Pinto da Costa multá-lo-ia em 1000 contos. Robson não lhe perdoaria a fraqueza, pondo-o, durante alguns dias, a treinar-se sozinho.
Com o Campeonato quase em miragem, o F. C. Porto apostou forte na Liga dos Campeões. E, no último dia de Março de 1994, em Bremen, resultado histórico: 5-0 ao Werder. Pinto da Costa aproveitou o êxito para lançar farpas a Catroga, que, poucas horas antes, mandara hipotecar o Estádio das Antas, arrolando no lote dos bens hipotecáveis a... retrete do árbitro!!!
«O F. C. Porto demonstrou, uma vez mais, que é um excelente embaixador de Portugal. É uma vitória fantástica e ainda bem que ela acontece, porque é a melhor resposta a todos os que teimam em combater­nos ou perseguir-nos. Nesta hora de alegria não posso deixar de pensar naqueles senhores que nos hipotecaram o estádio de forma, no mínimo, provocadora ...»
A euforia de Bremen foi esfriada com o empate nas Antas, frente ao Milan. A vitória teria garantido o primeiro lugar no grupo, facilitando o acesso à final da Liga dos Campeões, já que o adversário seria o Mónaco, nas Antas. Robson desalentado: «Merecíamos ganhar, tivemos três oportunidades soberanas de golo, mas faltou-­nos sorte.» Fabio Capello, como que rendido ao jogo do F. C. Porto, despediu-se e Robson com um simpático... «até à final».
No Nou Camp não se repetiu Bremen. Antes pelo contrário. O F. C. Porto foi sufocado pelo génio de Stoichkov e de Romário: 3-0 para o Barcelona. Pinto da Costa não deu sinais de constrição de ânimo, antes pelo contrário: «Tomara todos os clubes ter a nossa desilusão, ao F. C. Porto só falhou a... sorte.»
Com uma ponta final aguerrida, o F. C. Porto acabou por ultrapassar o Sporting na luta pelo segundo lugar. E ambos se defrontaram na final da Taça de Portugal. Houve empate. Na finalíssima, o F. C. Porto venceu por 2- 1. No final do encontro, um espectáculo «hard-core» que meteu garrafas, latas e pedras num indecente rodopio e até polícia à caça com... G3 e uma ministra envergonhada e barricada, por muito pouco não sendo atingida pelas garrafas arremessadas pelos adeptos do Sporting.
Enquanto os portistas furavam por entre polícias impotentes, bombardeados pela intifada e insultados a caminho da tribuna onde Manuela Ferreira Leite entregaria a taça a João Pinto. Os quatro portistas que lá foram, eufóricos, mostraram-na como se fosse troféu de guerra e Robson, ainda no relvado, olhando para as colunatas do Jamor, creziu, em retalho de fino humor britânico: «Mas os meus jogadores estão loucos, estão felizes e merecem! Ainda se fosse champanhe, mas é água que lhes atiram.»
O F. C. Porto ganhou a Taça. E, em 1994/95, com um golo de Domingos, o Campeonato, em mais uma vingança de Robson sobre Cintra, numa noite trágica, feita de ouro sobre azul e sangue, devido à derrocada de um varandim quando adeptos da Juve Leo se preparavam para hostilizar os portistas que chegavam de autocarro. De sentimento quente se fez a festa por­tista em Alvalade: no ar andou a camisola n.º 6 que fora de Rui Filipe, que morrera algum tem­po antes em brutal acidente de viação, e uma tarja que lembrava que aquele título também era seu. E era. Pinto da Costa, com duas lágrimas que eram camari­nhas do seu coração, sussurrou: «Jurei na campa de Rui Filipe que ainda haveria de ser outra vez campeão. E foi. É bom que as pessoas não se esqueçam de que foi ele quem marcou o primeiro golo do F. C. Porto neste Campeonato.» São assim os «dragões»... Aliás, correm rumores de que Kostadinov foi dispensado ao Corunha (e posteriormente ao Bayern) porque no dia do funeral de Rui Filipe ficou em casa, gozando a folga, quando todos os companheiros viviam a dor de um amigo que partira estupidamente. É dessa união, desse espírito, que se tem feito a força do F. C. Porto, esse F. C. Porto que Pedroto imaginou e que Pinto da Costa construiu. Para o bem e para o mal.
Os portistas, mais que eliminados na Madeira, pelo Marítimo, nas meias-finais da Taça, acabaram a época lamentando que as «acções de provocação sistemática» do Conselho de Disciplina impedissem que o F. C. Porto pudesse fazer a festa do título, conquistado a três jornadas do final do Campeonato, nas Antas. E por isso Pinto da Costa voltou à luta...
 
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hast

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O ano de 1994 começou sob o signo da polémica. Com Pinto da Costa vergastando Jorge Coroado. Resquícios do jogo do Bessa. Do árbitro disse o presidente: «Inadmissível. Só lhe resta pedir a demissão e passar a ser árbitro em Queijas. Se nos 18 casos de erros que apresentámos, Coroado apenas deparou com dois deslizes, então, não tem condições psíquicas para ser árbitro. Mal estaria a arbitragem se ele fosse o número um. Não merece ser mundialista, o F.C.Porto vai enviar a cassete do jogo com o Boavista para os conselheiros internacionais, para que possam conhecer este árbitro.»
E Pinto da Costa, mais incisivo, acusou Coroado de ter estado em festa em casa de Veloso, em vésperas do Benfica-Sporting. O árbitro não o negou, adiantando: «Foi a festa comemorativa dos 400 jogos do Veloso, fui convidado no próprio dia, não pelo jogador, mas pela sua mulher, Teresa, simplesmente por vivermos a 500 metros um do outro. Não tenho telhado de vidro, mandem-me as pedras que quiserem.» Coincidência ou talvez não, vetado pelo F.C.Porto, Coroado, que sonhava com o Mundial da América, acabaria por não passar da ilusão de...

O F.C.Porto de Ivic vacilava. Pressentia-se que mais tarde ou mais cedo, a sua cabeça rolaria. A 15 de Janeiro, a UEFA entregou a Pinto da Costa cheque de 320 mil para pagamento da participação na Champions League. Desafogavam-se as finanças.

À 16.ª jornada, o Benfica passou complicado teste, ganhando em Guimarães, por 2-1. Pimenta Machado, inconformado, acusou Veiga Trigo de responsabilidade na derrota da sua equipa. E atacou Laureano Gonçalves. «O Conselho de Arbitragem é uma espécie de circo, com o domador, o presidente e as feras que de vez em quando levam uns rebuçadinhos. Boavista, F.C.Porto e, a espaços, Benfica e Sporting escolhem os árbitros que querem para os seus jogos. Quando houver sorteio e os relatórios forem públicos passa a haver seriedade e Veiga Trigo não volta a fazer coisas destas, escamoteando uma grande penalidade descarada ao Vitória.» Resposta de Laureano: «Pimenta Machado aconselhou-me a proteger F.C.Porto, Boavista e... Guimarães.» Quem com ferros fere...

E, a 26 de Janeiro, depois de uma vitória em Aveiro, Ivic despede-se do F.C.Porto. Na hora do adeus, abraços a Pinto da Costa. E muito sorrisos. O presidente explicou-se: «Ivic queria libertar-se do F.C.Porto. Após o jogo de Faro tivémos conversa longa. Pediu para sair. Como perdemos, fui irredutível. Não queria que saisse naquela altura, para que não se pensasse que era consequência de uma derrota inesperada e injusta. Depois de duas vitórias consecutivas, já não poderia existir essa ideia. I Ivic saiu. Mas não foi despedido, simplesmente aceitou outro desafio, trabalhar na Croácia, trabalhar pelo futebol do seu país. Não se trata de tentativa para salvar a época, ainda temos tudo para ganhar e eu próprio disse aos jogadores do F.C.Porto que tinham a obrigação moral de dedicarem a Ivic uma das vitórias da época.»

Ivic disse de si que não falara. Que partia para colocar ponto final na carreira. Por não querer «morrer no banco». Deixava o F.C.Porto a quatro pontos do Benfica. Pelo que... Era o primeiro clássico de Robson-dragão. Na Luz. Em jogo o título. O Benfica venceu por 2-0 e tudo ficou mais ou menos arrumado. Um desfecho que o treinador portista sintetizou assim: «Duas equipas muito equilibradas, mas o resultado do jogo foi Mozer, 2 - Fernando Couto, 0.»

Mozer, pressentindo-lhe o feitio de ferrabrás, no ardor da luta, provocou-o, com palavras agrestes. Couto respondeu, com... agressão. Foi expulso e culpado da derrota da equipa. Pinto da Costa multá-lo-ia em mil contos. Robson não lhe perdoaria a fraqueza, pondo-o, durante alguns dias a treinar-se sozinho. Para Toni, treinador do Benfica era ainda cedo para embandeirar em arco. Apesar de saber bem que cadeia que vai à frente... «Foi importante este triunfo, na altura em que começa a segunda volta. Há que contar com o F. C. Porto, que não está afastado do título, tal como o Sporting, que, ao contrário do que alguns pensam, não está a correr por fora... Temos de nos acautelar com eles, com os cartões, com as lesões e com as baixas de rendimento.»

Robson, ainda assim, entreviu horizonte de esperança: «A equipa foi muito corajosa. Com 2-0... pum! O jogo ficou praticamente resolvido. Ficámos com uma certeza: tentámos fazer qualquer coisa deste desafio! Houve ataque. Tivémos coragem!» Com o campeonato quase em miragem, o F.C.Porto apostou forte na Liga dos Campeões. E, no último dia de Março, em Bremen, resultado histórico e sonho reaceso: 5-0 ao Werder. Pinto da Costa aproveitou o êxito para lançar farpas a Catroga: «O F.C.Porto demonstrou, uma vez mais, que é um excelente embaixador de Portugal. É uma vitória fantástica e ainda bem que ela acontece, porque é a melhor resposta a todos os que teimam em combater-nos ou perseguir-nos. Nesta hora de alegria, não posso deixar de pensar naqueles senhores que nos penhoraram o estádio.» Pela vitória, mais 105 mil contos. Logo...

A euforia de Bremen esfriada com o empate nas Antas, frente ao Milan, que, assim, garantia o primeiro lugar no grupo. Robson desalentado: «Merecíamos ganhar, tivemos três oportunidades.» Fabio Capello, como que rendido ao jogo do F.C.Porto, despediu-se de Robson com um simpático... «até à final». Mas, no Nou Camp, não se repetiu Bremen. Antes pelo contrário. F.C.Porto sufocado. 3-0 para o Barcelona. Pinto da Costa, nada abatido: «Tomaram todos os clubes ter a nossa desilusão, no F.C.Porto só falhou a... sorte.» Robson admitiu que não eram muitas as suas esperanças, por saber bem que «bater o Barcelona no Nou Camp seria como subir à montanha mais alta do mundo». E pronto. As atenções voltaram a centrar-se no campeonato.

No primeiro domingo de Maio o F.C.Porto deu um passo largo a caminho do... segundo lugar, batendo o Sporting, por 2-0, nas Antas. Era a primeira vingança de Robson. Cintra, apesar do blackout, fez constar que o Sporting se abespinhara com a actuação de Carlos Valente, cujas expulsões de Juskowiak e Peixe foram tomada à conta de serviço encomendado. Por isso, era ouvi-lo, pelos corredores de Alvalade, bradando, vezes sem conta: «Esse árbitro Valente está ao serviço do Benfica, o Sporting foi roubado por esse senhor, que, com as atitudes que tem tido, está a ter um final de carreira vergonhoso.»

Nas cabinas do Sporting, estalou a bronca. Paulo Sousa, acusado de indisciplina por Carlos Queirós, já não regressou ao relvado. Bem pior aconteceria no final, com um adepto sportinguista esfaqueado nas bancadas e muitas escaramuças em redor do estádio, envolvendo elementos da Juve Leo e da Torcida Verde. Queirós teve de engolir mais um sapinho. Castigar Sousa e excluí-lo era entregar arma de precisão ao inimigo ou trocá-la por uma pressão de ar. Para além disso, o Sporting perderia mais, porque, no seu contrato, de forma pouco usual e significativa, havia uma cláusula que previa que quando não jogasse teria direito a prémios pagos a... 150%!!!
in «abola»
 
H

hast

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Garrafas, latas e caça à... G3!

Mas, a maldição leonina continuaria no Jamor. Queirós não conseguiu quebrar o enguiço. E a Taça foi para o Porto. Foi mais uma vingança de Robson sobre Cintra. Depois de uma final sem golos e sem... futebol, 2-1 na finalíssima, com golos de Rui Jorge (35 minutos), Vujacic (55 minutos ) e Aloísio (91 minutos, de penalty). O desfecho ficou traçado quando, no primeiro minuto do prolongamento, Peixe se viu na contingência de cortar a bola com a mão, ocasionando a sua expulsão e a grande penalidade de que resultaria o segundo tento dos nortenhos. Entornou-se o caldo e de tal modo que Leal, a páginas tantas, disse para o fiscal de linha de José Pratas: «Meu burro, vais ser enforcado numa árvore.» E Cintra disparou: «O Sporting perdeu a Taça de Portugal devido a uma péssima arbitragem. Os árbitros perderam a cabeça e não prestigiaram a classe. Pratas cumpriu a tradição, a Taça assenta-lhe muito bem.»

Carlos Queirós, diferente, jogou a contra-vapor (e não muito tempo depois demitir-se-ia para retirar o pedido sob condiçôes): «Quando existe um vencedor tudo o que possa dizer-se da arbitragem soa a desculpa.» Pinto da Costa igual a si próprio: «O meu amigo Sousa Cintra é capaz de ter razões de queixa de José Pratas, porque, se calhar, mudaram-se os regulamentos e os jogadores que defendem bolas com as mãos ou que agridem adversários não devem ser expulsos. Por outro lado, talvez Fortunato Azevedo tenha prejudicado o Sporting, no primeiro jogo, ao não assinalar penalty descarado a favor do F.C.Porto, porque talvez a bola fosse ao poste e, no contra-ataque o Sporting fizesse o golo que lhe daria, logo, a Taça.»

Bobby Robson, feliz, sem lágrimas e sem ironia: «Foi importante para mim, mas foi mais importante para o F. C. Porto. Depois de 11 meses desgastantes, merecemos este troféu. Tínhamos de provar que éramos melhores. E no penalty foi... golo! A bola entrou e o Peixe tirou-a de dentro da baliza. O árbitro não devia ter assinado penalty, porque já tinha sido golo. E se falhássemos o penalty? Depois o Pacheco viu o vermelho e passou a ser muito difícil para o Sporting. Mesmo assim, os oito jogadores de campo do Sporting trabalharam muito, só que as hipóteses foram poucas.» Pacheco, justificando a agressão a Fernando Couto: «A minha revolta é contra o futebol português. Isto está tudo minado. Por princípio, nunca cuspo em ninguém, mas como ele me cuspiu na cara, tive de responder-lhe.»

No final do encontro registaram-se mosquitos por corda, com um espectáculo hard-core, que meteu garrafas, latas e pedras num indecente rodopio e até polícia à caça com... G3 e uma ministra, Manuela Ferreira Leite, envergonhada e barricada, que incomodada, desabafou: «Tudo isto é lamentável, uma vergonha, não é deste desporto que eu sou ministra.» E, enquanto os portistas furavam, por entre polícias impotentes, bombaredeados com bgarrafas de água e insultados, em via sacra, a caminho da Tribuna onde Manuela Ferreira Leite entregaria a Taça a João Pinto, Robson com um retalho de fino humor britânico: «Mas eles estão louco, estão felizes e merecem. Ainda se fosse champanhe! Mas é água.
 

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
3,319
16
Boa taça essa frente aos lagartos! Depois viria a caminhada do penta que deixaria Lisboa á beira da histeria colectiva!
 
H

hast

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É verdade jsm, começava aqui a caminhada para um feito único no futebol português. Deixo aqui um breve resumo dessa façanha, que dificilmente será igualada.

O «PENTACAMPEONATO»


No final da temporada de 1999, o FC Porto conseguiu o feito inédito de conquistar cinco títulos consecutivos de campeão nacional de futebol, suplantando assim o feito alcançado pelo Sporting (4 títulos consecutivos) na década de 50. Foi uma marcha vitoriosa e vertiginosa, mas não sem dificuldades...além dos adversários que era preciso vencer em campo, o clube, os seus dirigentes e os seus jogadores tiveram igualmente de aguentar a \"pressão\" de todos aqueles que, nos bastidores, tudo fizeram para travar a marcha vitoriosa dos Dragões.

Época 94-95:

Os Dragões não partiram como favoritos. Como já é habitual, a comunicação social preferia dar ênfase aos clubes de Lisboa. No entanto, pouco a pouco a equipa foi segurando o 1º lugar, fruto de grande regularidade e classe. Recorde-se que o primeiro golo do título 94-95 foi apontado por Rui Filipe, na 1ª jornada do campeonato. Rui Filipe viria a falecer pouco depois, vítima de um acidente de viação. Esta época fica marcada igualmente pela transferência dos Russos Kulkov e Yuran, que vieram do Benfica, e que foram decisivos na conquista do título. Em Maio, uma vitória no reduto do principal rival, o Sporting, entrega o título ao FC Porto. O FC Porto ganha o campeonato, com mais sete pontos que o Sporting e mais quinze que o Benfica!

Os campeões nacionais: Vitor Baía, Cândido, Vitor Nóvoa, João Pinto, Aloísio, Zé Carlos, Rui Jorge, Jorge Costa, Secretário, Bandeirinha, Emerson, Paulinho Santos, Kulkov, André, Jorge Couto, Semedo, Jaime Magalhães, Rui Filipe, Domingos, Rui Barros, Folha, Drulovic, Yuran, Latapy, Raudnei e Kostadinov.

Classificação final: 1º, 34J, 29V, 4E, 1D, (73-15).

Época 95-96:

Bobby Robson continuava a orientar a equipa, que foi reforçada com alguns jogadores de valia - Silvino, Mielcarski e Lipcsei. A 1ª jornada do campeonato é logo um teste de fogo, terminando com uma vitória caseira por 2-1, diante do Sporting. Em Novembro, é a vez do Benfica ser \"servido\" com três golos sem resposta. Começava a desenhar-se uma liderança clara. Em Janeiro, uma vitória clara em Alvalade por 2-0 confirma a marcha irresistível dos Dragões rumo ao \"bi\". Em Março, num dos muitos estádios hostis à visita do Dragão (Campomaior), o FC Porto vence por 1-0 no último minuto, suscitando a ira dos adeptos locais. Vitor Baía envolve-se num incidente lamentável com um dirigente local e é castigado pela Federação. Todos os restantes jogadores solidarizam-se e entram em \"black-out\". No dia 14 de Abril, o FC Porto é já o campeão virtual, depois de uma vitória nas Antas frente ao Salgueiros. Bobby Robson despede-se com o \"bi\" e ruma a Barcelona.

Os campeões nacionais: Vitor Baía, Silvino, Eriksson, Vitor Nóvoa, Jorge Silva, Aloísio, Rui Jorge, Jorge Costa, João Manuel Pinto, João Pinto, Zé Carlos, Matias, Bandeirinha, Emerson, Secretário, Latapy, Lipcsei, Paulinho Santos, Bino, Jorge Couto, Semedo, Drulovic, Edmilsson, Folha, Domingos, Quinzinho, Rui Barros e Mielcarski.

Classificação final: 1º, 34J, 26V, 6E, 2D, (82-20).

Época 96-97:

Bobby Robson foi substituído por António Oliveira, que tinha feito um excelente Euro 96 à frente da selecção Portuguesa. Vitor Baía protagonizou uma transferência recorde a nível mundial, mudando-se para Barcelona. Entretanto, Secretário foi transferido para o Real Madrid. Quanto a contratações, o FC Porto reforçou-se significativamente - Wetl, Woszniak, Jardel, Zahovic... Antes do início do campeonato, uma contrariedade: a lesão de Domingos. Ficavam assim as portas abertas para um novo fenómeno do golo : Mário Jardel. A 1ª jornada do campeonato foi em Leiria...o FC Porto vence claramente por 3-0. No entanto, o \"país futebolístico\" contesta a arbitragem. Era só o \"aperitivo\"...começava a \"contestação\" à maior valia dos Dragões. A deslocação a Alvalade foi o grande teste...passado com distinção. O FC Porto venceu por 1-0 com um golo de Edmilsson. Já em Janeiro, nova vitória em Lisboa, desta feita na Luz (2-1), coloca o FC Porto no caminho do \"tri\". O título seria assegurado a quatro jornadas do final. Muitos episódios grotecos sairam dos \"escribras\" de Lisboa, sempre com o intuito de destabilizar os Dragões, mas desta vez o \"tri\" não escapou. Muita gente voltou a engolir sapos...

Os campeões nacionais: Hilário, Silvino, Woszniak, Eriksson, Aloísio, Jorge Costa, Fernando Mendes, João Manuel Pinto, João Pinto, Rui Jorge, Lula, Butorovic, Diaz, Rui Óscar, Paulinho Santos, Edmilsson, Costa, Barroso, Zahovic, Sérgio Conceição, Rui Barros, Wetl, Bino, Artur, Jardel, Drulovic, Domingos, Folha e Mielcarski.

Classificação final: 1º, 34J, 27V, 4E, 3D, (80-24).

Época 97-98:

A pré-época começa de forma vitoriosa...o FC Porto passeou a sua classe em torneios no Oriente, vencendo a Premier Cup disputada na Tailândia e o Torneio de Macau. Gaspar, Kenedy, Neves, Chippo, Capucho figuram como novidades do plantel. O primeiro ponto só foi perdido a 6 de Outubro. No final desse mês, um empate em Vila do Conde...António Oliveira declarou que um tetra-campeão não se faz à oitava jornada. O campeonato continuava uma \"formalidade\" para os Dragões, que continuavam a passear a sua classe. No dia 17 de Dezembro, o FC Porto esmaga o Juventude de Évora por 9-0, em jogo a contar para a Taça...Jardel marcou sete vezes nesse encontro. Em Abril, quando o \"tetra\" já estava bem encaminhado, a Comissão Disciplinar da Liga suspende o defesa Fernando Mendes, por desacatos ocorridos num jogo da ...temporada anterior! O \"tetra\" chega a 26 de Abril, com uma vitória por 3-2 frente ao Boavista. Pinto da Costa declarou que, para além desta vitória, o clube desejava também a vitória na Taça...facto que se veio a confirmar. Recorde-se também que o FC Porto fez o \"pleno\", conquistando também o título de Juniores, Juvenis e Iniciados.

Os campeões nacionais: - Rui Correia, Hilário, Eriksson, Neves, Lula, Aloísio, Fernando Mendes, João Manuel Pinto, Kenedy, Butorovic, Rui Jorge, Gaspar, Jorge Costa, Secretário, Costa, Paulinho Santos, Barroso, Chippo, Doriva, Rui Barros, Sérgio Conceição, Zahovic, Drulovic, Capucho, Artur, Folha, Jardel e Mielcarski.

Classificação final: 1º, 34J, 24V, 5E, 5D, (75-38).

Época 98-99:

Fernando Santos passou a orientar o FC Porto, vindo do Estrela da Amadora. Houve grandes mudanças no plantel, algo que começava a ser um (mau) hábito. Destaque para a tranferência de Sérgio Conceição para a Lázio de Roma. Chegaram, entre outros, Ivica Kralj, Nélson e Chainho. A temporada começa com uma vitória difícil na Supertaça, alcançada frente ao Sporting de Braga. Quanto ao campeonato, \"chegou\" mais um \"castigo tardio\" para...Mário Jardel. Ainda assim, o seu castigo foi reduzido de cinco para apenas dois jogos. Como sempre, em início de campeonato, muitas polémicas em redor da arbitragem. Na 2ª jornada, derrota em Aveiro. Fernando Santos declarou que «está a haver uma psicose dos árbitros com medo de errar a favor do FC Porto». O FC Porto isolou-se no comando do campeonato à 15ª jornada, depois de uma vitória nas Antas frente ao Chaves. Esquerdinha é contratado, Doriva é transferido para Itália. O mês de Fevereiro fica marcado pela eliminação prematura na Taça, em casa, frente ao Torreense. Em Março, Deco reforça o plantel. Em Abril, um empate na Luz coloca o clube no caminho do \"penta\". O mês de Maio foi um mês em grande...o FC Porto conquista o \"penta\" e também os títulos de hóquei, andebol e basquetebol.

Os campeões nacionais: Kralj, Rui Correia, Vitor Baía, Aloísio, Esquerdinha, Fernando Mendes, João Manuel Pinto, Jorge Costa, Nélson, Ricardo Carvalho, Secretário, Carlos Manuel, Chainho, Peixe, Paulinho Santos, Doriva, Rui Barros, Panduru, Deco, Zahovic, Capucho, Drulovic, Folha, Jardel, Mielcarski, Fehér e Quinzinho.

Classificação final: 1º, 34J, 24V, 7E, 3D, (85-26).
 
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CINCO ESTÓRIAS PARA A NOSSA HISTÓRIA

UM VOO DE PÁSSARO SOBRE UMA PAISAGEM IMENSA

Manuel Dias (desculpem voltar a citá-lo, mas o seu estilo ímpar e o sentimento com que sempre descrevia tudo o que se relacionasse com as coisas e coisinhas do seu Porto – clube e cidade – a isso me obrigam) rematava, assim, o prefácio da sua obra «Futebol Clube do Porto – 75 anos de história»: «Relembro o que escrevi e salta-me o que deveria ter escrito. O que esqueci ou o que não coube neste punhado de páginas. Nem por sombras, no entanto, vou dizer que tive boas intenções – tive as intenções que tive, fazer um voo de pássaro sobre uma paisagem imensa».
Também eu enfio esta carapuça! Sempre que releio o que escrevi, fico com remorsos do mais que poderia ter escrito (tão rica é a nossa história) se coubesse nas páginas que (generosamente) a «Dragões» põe mensalmente à minha disposição.
É o que acontece hoje. Recordando factos marcantes vividos no defunto complexo das Antas, apetecia-me escrever muito mais. Limitado ao espaço, a opção foi, também ela, «fazer um voo de pássaro sobre a paisagem imensa» e, num compacto, levar os leitores a recordarem o que muitas memórias já (quase) esqueceram ou nunca tiveram gravado. Uma mão cheia de temas (quatro inaugurações – Estádio, iluminação, rebaixamento, piscina das Antas e o primeiro grande título conquistado naquele mítico Estádio) são as propostas para este mês.

1ª Parte – INAUGURAÇÃO DO ESTÁDIO DAS ANTAS
A 8 de Fevereiro de1948 compraram-se os terrenos. A 4 de Dezembro de 1949, em acto simbólico, era lançada a primeira pedra e emprestado ao FC Porto pela Direcção da Aeronáutica Civil um tractor com «sraper», já veterano na «revolução» de terrenos porquanto operava na terraplanagem do «aeródromo» de Pedras Rubras. A 16 de Janeiro de 1950, manhã cedo, máquinas possantes começaram a revolver os 48.000 metros quadrados de terrenos das Antas, onde a «jóia da coroa» iria nascer e, pelos quais, haviam sido pagos 1.440 contos. Finalmente, a 28 de Maio de 1952 (831 dias depois de terem começado as obras) o Estádio do FC Porto, «desenhado» pelo arquitecto Oldemiro Carneiro e «calculado» pelo engenheiro Miguel Resende, dava-se a conhecer ao Mundo e iria ser inaugurado pelo Chefe de Estado, General Craveiro Lopes.
A efeméride serviria, também, para que colocasse, em pleno relvado, no estandarte do FC Porto empunhado pelo atleta olímpico Valdemar Mota, a Medalha do Mérito Desportivo.
Já tremulavam nos mastros erguidos na Praça da Maratona as bandeiras nacional (hasteada pelo sócio nº1, José Bacelar), da cidade (por Camilo Moniz, sócio nº3) e do Clube (por Carlos Megre, sócio nº5) quando milhares de pombos foram soltos.
Nas bilheteiras, há muito se anunciava lotação esgotada – 50.000 garantiram casa cheia (o clube tinha na altura, segundo os registos, 9.779 sócios) e cada geral valia 20 escudos!
Nos ares, sobrevoando o relvado, uma avioneta com uma mensagem, hoje em dia, impensável - «O Benfica saúda o FC Porto». No relvado, após o apito de Vieira da Costa, só daria visitante. Uma goleada das antigas (8-2), selou um jogo em que também equiparam de encarnado e branco o 1º pontapé (Águas), a 1ª cabeçada (Artur), a 1ª defesa (Bastos) e o 1º golo, Arsénio.
Para Registo final, anote-se o «onze» do FC Porto escalado pelo técnico Passarin para o festivo encontro: Barrigana (Graça), Virgílio, Carvalho, Pinto Vieira, Alfredo, Romão, Hernâni, Araújo (Vital), Monteiro da Costa, Zé Maria e Vieira. Os dois golos tiveram a assinatura de Vital.

Luís César
In Revista dos Dragões (Setembro/2008)
 
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UM VOO DE PÁSSARO SOBRE UMA PAISAGEM IMENSA
2ª Parte – INAUGURAÇÃO DA ILUMINAÇÃO

Em 1 de Setembro de 1962 Hernâni, o «furacão de Águeda”, comemorou o seu 31º aniversário defrontando, nas Antas, o Atlético de Bilbao. Era a primeira vez que se acendiam os 448 holofotes das quatro torres, o que equivalia por dizer que, nessa noite, era inaugurada a iluminação do Estádio.
Roubando a história ao pó dos arquivos, fica bem recordar que, face ao desinteresse manifestado pelas empresas da especialidade em fazer a obra em condições acessíveis ao clube, coube ao Presidente Nascimento Cordeiro (também ele do ramo) arcar com a sua execução, amortizando o investimento com parte das receitas provenientes de todos os espectáculos nocturnos a realizar o Estádio das Antas – jogos incluídos – e ainda com a do «Dia do Clube», a ter lugar, anualmente, até ao balanço estar a zero.
Algumas curiosidades:
- A obra importou em 3.470.000$00, o «posto de transformação» era de 875 KW, estava instalado numa cabina construída sob as bancadas do Topo Sul e foi feito em maciço de betão (450 m2), para fixação das quatro torres que suportavam os tais 448 projectores, totalmente estanques e equipados com lâmpadas de projecção especial, com a potência de 1.500 vóltios, num total 672 kilovóltios/hora destinados a iluminar o interior do Estádio.
- Para a construção (e respectiva montagem) das 4 torres, utilizaram-se 50.000 quilos de ferro de diversos perfis, 30.000 parafusos de 3/16´´, 300 quilos de zinco e foram despendidas 30.000 horas de trabalho. Os cabos eléctricos usados – cujas secções iam de 1,5 até 70 mm – atingiram um total de 16.000 metros, excluindo o cabo especial que ligava toda a instalação ao posto de comando (colocado junto dos camarotes, ao lado das «cadeiras de imprensa») e cujo comprimento linear era aproximadamente de 17.000 metros.
Hoje, em nome do progresso, e de uma nova centralidade, demolido o Estádio, resta a evocação. E porque recordar é viver, relembre-se o resultado (vitória do FC Porto por 2-1) e o «onze» azul e branco nessa noite – Rui, Virgílio, Mesquita, Atraca, Festa, Paula, Carlos Duarte, Custódio Pinto, Azumir, Hernâni e Serafim.
Luís César
In Revista dos Dragões (Setembro/2008)
 
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3ª Parte – REBAIXAMENTO DO ESTÁDIO

A noite de 17 de Dezembro estava fria e foram muitos os milhares de espectadores que acorreram às Antas para assistir às cerimónias de inauguração do rebaixamento do Estádio. E muitas se desenrolaram, antes FC Porto e Benfica (dupla com lugar cativo em todas as inaugurações dos seus Estádios…) encerrassem o sarau.
No relvado o habitual desfile de atletas (largas centenas) em representação de 90 clubes, mais 200 do FC Porto, evocando as 20 modalidades que se praticavam no Clube, aos quais se juntaram umas mãos cheias de velhas glórias, legendas vivas da história azul e branca. A fechar o desfile um trio de peso – Aurora Cunha (então tricampeã mundial de estrada) a porta-estandarte e, ladeando-a, os capitães da equipa sénior (Fernando Gomes) e da equipa de hóquei em patins, recém-sagrada campeã da Europa, (António Alves).
Alinhados a preceito, assistiram à entrega, feita pelo presidente Pinto da Costa, de placas comemorativas aos elementos ainda vivos da Comissão Pró-Estádio (os grandes cabouqueiros do aparecimento do Estádio das Antas) e à apresentação do internacional canarinho, Casagrande, novo reforço dos Dragões. No átrio do Departamento de Futebol, o Ministro do Plano (Valente de Oliveira), acompanhado do Ministro da Educação (João de Deus Pinheiro), procederam ao descerramento de uma lápide assinalando a presença daqueles governantes na inauguração, e Isabel Pedroto (hoje médica) ao de uma outra, perpetuando a memória do seu pai, José Maria Pedroto - «os homens passam, o clube fica, a memória dos grandes homens perdura para sempre».
Nas «entranhas» do Estádio, findas as cerimónias protocolares, entidades e convidados especiais inauguraram o Camarote Presidencial. Seguiu-se um espectáculo de música e som, com os raios laser e o fogo-de-artifício a colorirem o céu.
O grande embate, dirigido por José Guedes, árbitro do Porto, só chegou passava meia hora das vinte e duas, depois do Presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Dr. Silva Resende, ter entregue a Fernando Gomes a Taça referente à conquista do título de 1985/1986, e de Fernando Martins, Presidente do Benfica, ter oferecido ao seu homologo do FC Porto uma águia em bronze. Resultado do jogo, 1 a 1. Valeram as grandes penalidades (4-2) para o troféu ficar em casa.
Estava quebrada uma tradição – derrota do clube em festa (fora assim na inauguração das Antas e da Arquibancada e fora assim, também, na inauguração da Luz e do seu 3º anel, sempre com «dragões» e águias à «compita».
Recorde-se o «onze» do FC Porto – Zé Beto, (Mlynarczyck), João Pinto, Quim, Sousa, (Lima Pereira/Bandeirinha), Eduardo Luís, Frasco, Jaime Pacheco, Jaime Magalhães (Elói), Gomes (Madjer), Futre (Juary) e André. O gosto ao pé foi feito por Futre.
 
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4ª Parte – INAUGURAÇÃO DAS PISCINAS DAS ANTAS

Como é sabido, já não existem – morreram com a demolição do Estádio das Antas e de todo o seu parque desportivo circundante. A verba resultante da venda de terrenos do velhinho complexo foi como que a mola propulsora que permitiu ao clube encarar e abalançar-se na construção do emblemático Estádio do Dragão. Hoje, das piscinas, só há a memória escondida num parque habitacional topo de gama. Contudo, o que hoje é recordação, em 1968 era para os portistas um sonho de longos anos – nadar em casa, nas piscinas do seu clube. As obras de terraplanagem iniciaram-se em 18 de Novembro de 1967 e, em Dezembro, já se via o esboço do desenho final da obra. Em Janeiro estava aberto o grande buraco, no qual as piscinas iriam tomar forma. Três meses depois, em Abril, com as obras em ritmo acelerado, arrancam os balneários. Finalmente, em 18 de Agosto de 1968, o «abstracto» virou «concreto», - aí estavam as piscinas!
Integrada no programa comemorativo do 62º aniversário do FC Porto (na altura, 1909 era, ainda, oficialmente o ano da fundação), a inauguração das piscinas (descobertas) do FC Porto (apenas estavam construídos os balneários para as senhoras e meninas, faltando os masculinos, bancadas e a cobertura) constituiu um dia histórico para o clube e para a cidade.
Como era – e ainda é – de bom-tom, não faltou a tesoura para cortar a fita. Entregou-a o Presidente Afonso Pinto de Magalhães ao Governador Civil do Porto, Dr. Jorge da Fonseca Jorge, que presidiu à cerimónia. Um desfile de várias gerações de atletas coloriu a parada.
À entrada das piscinas, João Lopes Martins, porta-estandarte do FC Porto, entregou-o ao Dr. Canto Moniz, o nadador de maior prestígio presente, velha glória da natação portista. A escolta foi feita por Alexandre Pinto e João Costa (um dos principais nadadores do clube e que foi campeão nacional de saltos para a água). Um toque de clarim executado por elementos do asilo do Terço, uma largada de balões azuis e brancos e o içar das bandeiras de Portugal (Governador Civil), da cidade (Dr. Paulo Pombo) e do clube (Presidente Pinto de Magalhães), completaram a cerimónia.
As piscinas conheceriam mais duas inaugurações (familiares) – a da cobertura provisória a 8 de Fevereiro de 1969, e a da cobertura definitiva, a 21 de Março de 1971.
 
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5ª Parte – O PRIMEIRO GRANDE TÍTULO CONQUISTADO NO ESTÁDIO DAS ANTAS

Há jogos que marcam e jamais se apagarão da memória. Tardes e noites memoráveis que apetecem reviver. Evocações que nos deleitam. Acontecimentos que gostaríamos ter vivido.
Lembramos-nos, por exemplo, de um célebre FC Porto – Académica disputado no Estádio das Antas (Estádio do FC Porto, de seu nome oficial), em 29 de Abril de 1956.
O jogo valia um título que há dezasseis anos troçava do FC Porto. Era um jogo sem meias tintas, escaldante, de tudo ou nada, que era obrigatório ganhar. Pontualmente, FC Porto e Benfica estavam empatados. Os «dragões» tinham, todavia, um tesouro de valor incalculável – vantagem nos confrontos directos (3-0 nas Antas e 1-1 na Luz).
Encontrar lugar vago no Estádio foi pior que achar agulha em palheiro. Viveu-se a maior enchente até então registada. Contas feitas, entraram nos cofres da casa qualquer coisa como 500 contos, uma pipa de massa naqueles tempos.
O jogo foi à tarde e a angústia parecia não ter fim. Irreverentes, os «pardalitos do Choupal», comandados por mestre Cândido Oliveira, mal se desarticulavam. Ramin, na baliza, defendia até mosca que por ali esvoaçasse, assinando uma exibição com direito a «Óscar». O golo, orgasmo supremo naquele jogo, escapulia-se dos pés e das cabeças dos jogadores Portistas, como enguia por entre o lodo.
Ao intervalo, nem um só golo dava vida ao marcador. Uma hora era passada e o zero a zero mantinha-se. Roíam-se as unhas. Faziam-se preces. Os corações batiam descompassados. Um desespero!
Eis senão quando Mário Wilson (esse mesmo, o «velho capitão») meteu mão à bola na grande área. Grande penalidade indiscutível e «indiscutida». Fez-se, no Estádio, um silêncio de morte. Hernâni, tranquilo (como sempre) partiu para a bola… e marcou! Finalmente o Estádio explodiu e o povo gritou. Como haveria ainda de gritar por duas vezes mais, quando o falecido António Teixeira bisou e colocou o placard em 3-0. O título não fugiria. O FC Porto sagrava-se campeão.
Cada jogador embolsou 10 contos de prémio e Yustrich, o técnico que viera de Minas Gerais, 100 e um automóvel.
Anotem os heróis: Pinho, Virgílio, Osvaldo, Pedroto, Monteiro da Costa, Miguel Arcanjo, Hernâni, Gastão, Jaburu, António Teixeira e Perdigão.
Uma equipa de luxo!

Luís César
In Revista dos Dragões (Setembro/2008)
 

fcporto56

Tribuna Presidencial
26 Julho 2006
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Sacramento
Faltavam cerca de vinte minutos para o fim do jogo,quando o GRANDE Hernani marcou de grande penalidade o golo que obrigou a Academica a abrir e a sofrer mais dois golos tornando no que estava a ser muito dificil, numa vitoria facil,que valeu o titulo.
 
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APONTAMENTOS MARCANTES NUMA CAMINHADA DE 115 ANOS
Evocando-se neste número da «Dragões» as principais efemérides comemorativas do 115º aniversário do nosso Futebol Clube do Porto procuramos, também nós, neste desfilar de memórias de antanho, um conjunto de «estórias» que se interligassem (não no conteúdo mas na simbologia) e homenageassem o aniversariante pelo seu pioneirismo, pela sua pujança, pelo seu rasgar de fronteiras, pelas suas conquistas, pela forma como tem prestigiado o futebol português.
Pequenos apontamentos avulsos, perdidos no emaranhado de páginas e páginas de história, que vamos recordar e o leitor, por certo, gostará de relembrar (se for da velha guarda) ou conhecer (se deles tiver, apenas, ouvido falar).
Não são muitos (contam-se pelos dedos de uma só mão) mas são marcantes.
Vamos falar da concessão de Instituição de Utilidade Pública (a primeira homenagem do Governo ao FC Porto, fez 80anos em Março ultimo), do 1º jogo com uma equipa estrangeira (o FC Porto foi o pioneiro nos jogos com equipas estrangeiras no nosso país), da vitória sobre o Arsenal de Londres (há sessenta anos – 1948 – um resultado impensável) e da atribuição do Grande Colar de Honra ao Mérito Desportivo (1987), e da comenda de Membro Honorário da Ordem de Mérito (1988), galardões que premiaram esse feito único de ser a 1ª equipa do mundo a conseguir, na mesma época, a Taça dos Campeões Europeus, a Supertaça Europeia e a Taça Intercontinental.
Muitos outros poderíamos ter escolhido. É sinal da riqueza da nossa história, dos inúmeros pilares em que assenta o reconhecimento do nosso mérito aquém e além fronteiras. Por opção (e espaço) ficámo-nos apenas por estes. Porque tivemos a felicidade de viver (ao vivo) as gloriosas conquistas dos anos 80, recordá-las é reviver emoções fortes. Porque a felicidade, também, de (re) viver (relendo) páginas fulgurantes da nossa história, recordar o que outros, noutros tempos viveram, é sentir-me orgulhoso em ser PORTISTA. Aqueles que, mês a mês, nos acompanham nesta «peregrinação», com dedicação e com emoção, vão gostar. Temos a certeza e uma outra de igual dimensão – tal como eu, sentirão esse orgulho em serem PORTISTAS.

(1º) - INSTITUIÇÃO DE UTILIDADE PÚBLICA
A proposta pertenceu aos ministros das Finanças (José Alfredo Mendes de Magalhães) e da instrução Pública (Manuel Rodrigues Júnior). A sua execução foi decretada nos termos da Lei 1920 de 15 de Julho de 1922, pelo Presidente do Governo António Óscar Fragoso Carmona, assinada a 13 de Março de 1928 e publicado o Diploma no Diário do Governo nº. 63, 2ª série de 19 de Março.
Passo a passo estava, assim, formalizada a concessão de Instituição de Utilidade Pública ao FC Porto tendo em conta, como se dizia num dos vários considerandos, «que o FC Porto tem vivido e continuará a viver sem que tenha carácter de exploração comercial ou industrial». Recuando longas décadas detenhamo-nos no Relatório e contas da época de 1927-1928 (era na altura presidente Sebastião Ferreira Mendes) e, logo no capítulo de abertura, é dado destaque ao acontecimento.
Nele se diz (sem alterarmos termos ou pontuação) que a «Direcção reconheceu que traria vantagem para o Clube conseguir que fosse considerado Instituição de utilidade Pública. Lançou ombros à empreza e transpondo obstáculos que desnecessário se torna expor obteve-se o almejado diploma. A concessão do Governo representa uma merecida honra e uma nobilitante homenagem, além do que poderá servir para determinados fins em vista…».
Após alguns outros «considerandos» menos relevantes, os agradecimentos da praxe. «No consentimento desta mercê foram poderosos auxiliares o nosso prezado consócio Sr. António Pinto Machado, o Exmo. Sr. Joaquim de Vasconcelos, distinto chefe da repartição do Ministério da Instrução Pública, os consócios Srs. Tomaz Vilaça e João Cal e os Exmos. Srs. Dr. Manuel Castro e Eng.º Artur Fernandes de Sousa, não podendo esquecer também a dedicada intervenção no assunto do Sr. Dr. José Pontes e do Comité Olímpico Português de que o mesmo senhor faz parte.
Data importante, esta (13 de Março de 1922), na história do Clube porquanto , como finaliza o Decreto que insere a determinação governamental, o FC Porto passava a «gozar de todos os benefícios que a legislação em vigor confere a tais instituições e muito especialmente as que designa a Lei nº. 1728 de 5 de Janeiro de 1925».
Luís César
In Revista dos Dragões (Outubro/2008)
 
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(2º) - PRIMEIRO JOGO COM UM EQUIPA ESTRANGEIRA
Muitas vezes procura-se e não se encontra. Muitas outras procuram-se e apenas se encontra uma resposta incompleta. Noutras tantas, o olhar serpenteia por entre factos e datas e não se consegue ultrapassar um enervante ponto de interrogação. Sobretudo num clube já mais do que centenário não é fácil solidificar a história em alicerces de datas precisas, não porque escasseiem referências, mas porque os desencontros são insolúveis. É o caso presente. No rol de efemérides que deixaram a sua marca histórica no dia-a-dia do FC Porto, aquela que agora referenciamos é importante – o 1º jogo do futebol português com um clube estrangeiro. Vamos ao que não tem discussão – foi o Real Fortuna de Vigo (da sua fusão em 1922 com o Vigo FC, nasceu o actual Celta de Vigo), equipa espanhola que alinhava de branco e onde pontificavam Paco e Manolo Lago, Luís Garcia, António Conde, Juanito Rodriguez, Humfeys, Templeman, Raul Lopez, Jacobo Conde, Móran e Pancho Estevez, o primeiro clube estrangeiro que se apresentou em Portugal e, consequentemente, baptizou o FC Porto (e o futebol português) internacionalmente.
Cumpriu-se assim, um dos objectivos da 1ª Direcção do FC Porto – trazer à Cidade Invicta, antes de qualquer outro clube, uma equipa estrangeira.
Sem discussão é, igualmente, o local do encontro – o Campo da Rainha, primeiro campo relvado do país. Também sem discussão, o histórico eleven azul e branco. Soares, Dumont Vilares (à altura um dos grandes nadadores portugueses e estrela no atletismo, nomeadamente nos 110 metros barreiras e no salto em altura), Ernesto Sá, António Pinheiro, Hermann Brugmann (futebolista alemão de categoria), Raws, Antunes Lemos, Romualdo Torres (para além de futebolista praticava, também, atletismo, peso e halteres, patinagem e cricket), John Jones, Catullo Gadda (jogador-treinador) e Edward Almeida.
Desconhecido em absoluto – o resultado. Nenhum historiador o sabe.
Então, qual o ponto de interrogação? – a data do jogo. Em «FC Porto – 100 anos de História», de Álvaro Magalhães e Manuel Dias, a afirmação é peremptória – 12 de Janeiro de 1908. O «Livro de Ouro» (edição do Diário de Noticias) situa o jogo em 1907, sem precisar a data. A «História do FC Porto», de Rodrigues Telles, «baralha e torna a dar». No fascículo I, a página 10, escreve «visita o Porto a 15 de Dezembro de 1907 o Real Fortuna Clube de Vigo, uma das mais famosas equipas do país vizinho». «Jogava com o FC porto… o espírito empreendedor de Monteiro da Costa e dos seus, trazem ao Porto a primeira equipa estrangeira que visita Portugal». Avançando para o fascículo ll, a página 46, lê-se em título «O Real Fortuna de Vigo em 1908 baptizou o FC Porto internacionalmente» e no fecho da notícia escreve - «Assim, no ano de 1908 teve o FC Porto a honra de apresentar em Portugal o primeiro clube estrangeiro recebendo ao mesmo tempo um baptismo que valorizou a sua 1ª categoria». «A glória e a vida de três gigantes» (edição de A Bola), «Dragão – Ano 111», de Alfredo Barbosa e «FC Porto – Fotobiografia», de Rui Guedes, são coincidentes na data (15 de Dezembro de 1907), embora na «Fotobiografia» haja igualmente referencia à data de 12 de Janeiro de 1908, mas como sendo um segundo jogo com a mesma equipa espanhola.
Em que ficamos?
Tendo lido e respigado não temos qualquer relutância em aceitar como boa a data de 15-12-1907. Citações sobre citações, talvez menos aprofundadas, poderão estar na génese da dúvida.
Luís César
In Revista dos Dragões (Outubro/2008)
 
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(3º) – VITÓRIA SOBRE O ARSENAL
Em 1948 o Arsenal era o grande embaixador do velho association londrino, clube mítico de uma Inglaterra que, um ano antes, num Estádio Nacional ainda com cheiro a novo, aplicara a Portugal, um dos maiores correctivos do seu historial – uma copiosa derrota por 0-10.
Aproveitando uma triunfal digressão do Arsenal pela Europa, o FC Porto convidou-o a dar um pulinho ao Porto para que todos pudessem render-se aos seus encantos futebolísticos numa época em que os confrontos internacionais, sobretudo com equipas de elite, eram uma raridade. Assistir ao confronto – mesmo que à partida um fosso gigante (Arsenal) e outro pigmeu (FC Porto) – virou momento mágico. Não admira, por isso, que o Estádio do Lima tenha tido lotação esgotada, mesmo com a «Bancada Coberta» a custar uma pequena fortuna – 80$00!
Tudo que se esperava era que o FC Porto não fosse humilhado pelos mestres e que se pudesse assistir a um grande espectáculo, curiosamente dirigido por um árbitro escocês – Mr. Webb.
O impensável, porém, aconteceu naquela tarde de 6 de Maio de 1948. Tal como na lenda, David conseguira vencer Golias também, na realidade, o «pigmeu» conseguira derrubar o «gigante» com uma exibição memorável (3-2) – golos de Correia Dias (2) e Araújo – a deixar em delírio toda uma cidade e a consagrar o técnico Eladio Vascheto. Como nenhum troféu havia em disputa e tão retumbante triunfo tivesse que ficar perpetuado, uma comissão de sócios e adeptos (Eduardo Soares, José Moreira, Torcato Plácido, Eloi da Silvam Manuel Ferreira e Ivo de Araújo, entre outros) meteu mãos à obra. Angariou fundos e encomendou a confecção – que se queria, também ele, imortal – à Ourivesaria Aliança, que teria de o executar de acordo com o projecto de João Antunes e a concepção escultória de Marinho Brito e Albano Faria.
A 21 de Outubro de 1949 o troféu foi entregue à Direcção do FC Porto – uma peça artística monumental confeccionada em ouro, prata, esmalte, cristal madeira fina e veludo, constituída por duas partes distintas mas interligadas no seu simbolismo: uma «Taça da Vitória» e um «escrínio» em dois metros e oitenta centímetros de altura, no interior da qual reluz uma taça com 90 centímetros. O troféu com um peso de 300 quilos – 130 são prata maciça - - custou, diz-se, mais de 1200 contos. É, ainda hoje, o mais importante de todos e um dos mais valiosos do «património» azul e branco. Recorde-se a equipa imortal – Barrigana, Alfredo e Francisco, Joaquim, Romão, Vergílio, Lourenço, Araújo, Correia Dias (cap.), Gastão e Catolino (Sanfins).
Luís César
In Revista dos Dragões (Outubro/2008)
 
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(4º) – GRANDE COLAR DE HONRA AO MÉRITO DESPORTIVO
Ainda estava fresca na memória de todos a inolvidável noite de 27 de Maio de 1987 quando em Viena, no Prater, o FC Porto, espantando o mundo, ao conquistar (2-1), frente ao poderosíssimo Bayern de Munique, o título de campeão europeu e originando que uma profusão de manchetes inundasse a imprensa para glorificar um êxito que ultrapassou fronteiras - «É nosso o caneco de prata» (Diário de Lisboa), «A noite de todas as lágrimas» (Comércio do Porto), «S. João no Porto de azul e branco vestido» (Jornal de Notícias), «Uma estátua para Artur Jorge» (Expresso), « (Vinho do) Porto inundou a Baviera» (L’Equipe), «Triunfo sensacional da técnica» (Kurier), «O Bayern paralisado pela dor» (Frankfurt Algemein Zeitung). De todos os quadrantes choviam felicitações. No Casino da Póvoa de Varzim o mega jantar foi apoteótico.
Nele se anunciou, pela voz do então Ministro de Educação João de Deus Pinheiro, que o Governo (mesmo antes da final de Viena) decidira galardoar o FC Porto com o «Grande Colar de Honra ao Mérito Desportivo» (seria o 1º clube a recebê-lo), o Presidente Pinto da Costa com a «Medalha de Honra ao Mérito Desportivo» e atribuir (entregando-lha de imediato) ao atleta Fernando Gomes a «Medalha de Mérito Desportivo», galardões, que disse, mais não eram do que «uma homenagem a uma obra, a um projecto e a uma linha de rumo».
Seria nos salões sumptuosos do Palácio da Bolsa que, em 19 de Junho de 1987, essa cerimónia, presidida pelo Primeiro-ministro Prof. Cavaco Silva, teria lugar. A ela não faltaram, (entre muita gente da politica e do desporto), Leonor Beleza (Ministra da Saúde), Dr. Fernando Cabral (Presidente da Câmara do Porto), Rui Lacerda (Presidente da Associação Comercial do Porto), Adriano Pinto (Presidente da Associação de Futebol do Porto), Prof. Manuel Puga (Delegado no Porto da Direcção Geral dos Desportos), Dr. Américo de Sá (Presidente Honorário do FC Porto), e Lídio Marques (Presidente do Varzim, filial nº1 do FC Porto).
O «Grande Colar de Honra ao Mérito» colocou-o no estandarte do FC Porto (empunhado pelo seu Presidente da Assembleia Geral, Dr. Sardoeira Pinto) o Ministro da Educação João de Deus Pinheiro, como «reconhecimento público do papel do FC Porto e da importância do seu projecto no âmbito social e desportivo». Jorge Nuno Pinto da Costa recebeu a «Medalha de Honra ao Mérito Desportivo» das mãos do Primeiro-ministro Prof. Cavaco Silva e, na sua homenagem evocou todos os dirigentes que o antecederam, aos quais atribuiu grande mérito no engrandecimento do clube pelo que «deveria repartir com eles a medalha».
Luís César
In Revista dos Dragões (Outubro/2008)