O poder corrompe as pessoas ou as pessoas corrompem o poder?
Ontem recordava episódios que me fizeram regressar ao período da infância e pré-adolescência, finais dos oitentas, inícios dos noventas.
Épocas do verdadeiro Porto.
Apaixonado pela cidade, pelas minhas gentes, pelo meu clube que nos enchia de orgulho, paixão e vitórias.
Pinto da Costa era o símbolo máximo de tudo isso.
Ainda éramos pobres, mas não éramos poucos, as Antas transbordavam de pobres famintos de paixão e futebol.
A Fernão Magalhães cheia até mais não, até perder de vista, de gentes carregadas de azul e branco.
Tempos saudosos.
Míudos, graúdos, saíam de escolas e trabalhos para ir viver momentos do clube. Fosse uma abertura de uma casa ou filial, fosse um qualquer acto de importância ou defesa do clube, fosse a uma segunda-feira ou caísse trovoada.
Não importava o dinheiro.
Era paixão, identidade, orgulho.
Moviam montanhas.
Enormes concentrações de gente.
Pinto da Costa levado em ombros em quase todas elas.
Porém, havia uma pessoa, uma única pessoa do meu círculo próximo que era um pouco mais velho do que Pinto da Costa que o odiava.
Odiava.
Era Portista, de Miragaia e odiava Pinto da Costa.
Mas como era possível perguntava-me eu, que era tão cheio de orgulho no meu clube, no que representava e claro no Presidente que representava tudo isso.
Nunca me explicou as razões do seu ódio, apenas me aflorou que não se podia dar nem gostar com gente de certa estirpe moral e odiava-o, porque o via como uma fraude moral.
Não tinha idade nem conhecimento para entender bem esse tipo de coisas. Mas sempre me intrigou.
Entretanto o meu relacionamento com o clube foi sempre crescendo, fui praticante de modalidades, sempre presente e encantado nas Antas.
Cedo deixei de ir à bola com familiares e amigos de familiares e passei a ir para a Sul.
Muito cedo. Tempos bons. De Portismo. Saudosos tempos.
Nunca conseguirei esquecer ou desligar-me das Antas.
Desse meu Porto.
Que talvez nunca venha a ser igual.
Passei lá muito tempo e durante todo esse tempo, fui crescendo, aprendendo, pensando.
Comecei a aprender ver e aprender o mundo com os meus olhos.
Já tinham passado uns bons anos, já seguia o clube à muito tempo fora de casa, no estrangeiro, sempre por paixão e sempre com muito esforço meu. Apenas.
E não foi por jornais, pelo diz que disse, por programas de televisão, pelo amigo, pelo tio, ou pelo empresário sabichão.
Pinto da Costa já não tinha tanto respeito da minha parte por tudo o que fui vendo in loco e sabendo in loco ao longo dos anos, mas certa tarde, muitas horas antes de um jogo importante nas Antas estávamos nós e Pinto da Costa e uma trupe de directores e "amigos" dentro do estádio.
O que ouvi nesse dia, antes já tinha estado centenas de vezes em situações privadas com ele, mas o que ouvi nesse dia matou Pinto da Costa dentro de mim.
Já não havia respeito, admiração, nada. Apenas repulsa que cresceu, foi crescendo até anos mais tarde me ir afastando da vida diária do clube e também da Sul que se degradou a todos os níveis até ao insuportável. Para mim.
Também eu me afastei numa época "gloriosa", de vitórias, já com mais dinheiro e adeptos "novos". Já não havia a paixão pura, nem a devoção de outros tempos, mas era uma época de vitórias.
E quase todos andavam cegos com elas.
Muito se passou nessa fase e em tantas outras.
Mas Pinto da Costa agora é diferente?
Será que é a idade que o fez assim?
Anos e anos sussurravam-se teorias da conspiração em defesa do intocável. Inventava-se tudo, só para não se acreditar na realidade, tudo servia.
Agora já nada pode servir. E não é de agora, já tem tempo.
Pinto da Costa tem traços que o acompanham desde sempre.
E figuras que sempre o acompanharam. Vide por exemplo Reinaldo Teles.
Que tipo de pessoas, que tipo de companhias, hábitos, valores morais, ...sempre foram e sempre tiveram?
Ninguém pede nem ninguém pedia que fossem padres ou monges budistas, ninguém pode ignorar a paixão e devoção que houve em certa época, tal como não se pode ignorar o que eram e faziam representando-nos dentro e fora do mundo do futebol. De dia e de noite. E sobretudo quando deixaram de querer saber do clube e começaram a destrui-lo, beneficiando tudo e todos menos o clube, tornaram-se vassalos dos inimigos externos. Colocaram o clube na rota da morte, lenta e triste, na rota da vergonha. Enquanto traíram tudo aquilo que éramos, tudo aquilo que ainda alguns de nós somos, uma traição imperdoável. Compram ferraris e lamborghinis, enriquecem desmesuradamente, o povo à fome vê o Dragão como um clube burguês pouco limpo, o clube falido, gozado e vergado.
Pinto da Costa é o símbolo da sua destruição.
E é isso que infelizmente ficará na história.
Mas para ele interessa-lhe mais as suas namoradas, a vida dos seus por mais que não interessem nem ao menino jesus,..
Pinto da Costa nunca foi aquilo que tantos que o idolatraram pensaram ou imaginaram.
E ele agora goza-nos, humilha-nos, leva-nos para o abismo e ri-se. Festeja com a sua guarda pretoriana, nesta espécie de Coreia, que seca qualquer espécie de concorrência à volta.
Pinto da Costa é o que sempre foi.
Só que agora já não há como enganar.
Nem mesmo tolos ou apaixonados.
E está toda a nação ainda sem reacção.
O medo, a incredulidade, estamos mortos.
Mataram-nos e o culpado é Pinto da Costa.
MAis do que qualquer outro.
Mas eu teria vergonha de fazer parte do clube de gente que ajudou a matar o clube.
A todos os níveis.
Deixamos este tipo de gente fazer do clube uma coisa muito feia.
Muito feia.
E as vitórias, tal como o dinheiro, estão longe de ser tudo.
E a verdadeira felicidade.
O meu Porto não é isto.