Branco disse:
Eu estava a referir o factor socio económico como presente na exponenciação do número de radicais numa comunidade, não como factor que mais pesa, e dei o exemplo da França em contraste com o Reino Unido e Alemanha para demonstrar isso, os dois últimos também possuem problemas graves a esse nível, mas a França possui ainda mais capacidade de criar jihadistas por causa disso, é um dado estatístico objectivo, basta contar o número de combates do EI que provém de França mesmo tendo em conta a questão proporcional.
Sim e eu concordo. É inegável que os factores sociais e económicos apelam ás massas. Da mesma forma que historicamente ideologias extremistas (comunismo, nazismo) ou posições extremas (tudo o que a América faz é bom, tudo o que a América faz é mau, os benfiquistas são todos uns ladrões, os Portistas são todos uns ladrões) apelam a massas que não têm espírito crítico. É assim, sempre o foi e sempre será.
Mas a nível operacional, não é muito por ai que essas organizações são perigosas ao nível de ataques no Ocidente. Claro, é óbvio que, como dizes, determinadas condições permitem que determinadas ideologias tenham uma recepção positiva em determinadas localizações sociais. E que esses grupos facilitam na medida do possível planeamentos de ataques ao Ocidente e que, por isso, acabam por ser de certa forma coniventes com eles.
Contudo, a nível estrutural e operacional, mais importante são os indivíduos formados, com conhecimentos, com capacidades, que entram nessas organizações. Gente que está desiludida com o Ocidente, mas que se reparares, o mesmo Ocidente fez quase tudo o que era possível para os integrar na sua sociedade. O problema é que em muitos casos essas pessoas acham que uma sociedade ideal não é a sociedade ocidental (por muito que esta seja mais evoluída), porque não vai de encontro às suas crenças.
O que fazer? Eu acho que não podemos mudar as nossas crenças em função disto. Não vamos deixar de ser países que assentam em determinados princípios estruturantes, a nível moral, político e social, para acomodar determinadas crenças nas quais se defendem princípios que entram em conflito claro com os nossos e que se tornam ameaças existenciais à nossa sociedade.
Daí eu achar que, evidentemente, no curto e médio prazo, estas organizações devem ser erradicadas de qualquer forma, e isso implica intervenções militares, sejam elas de contra terrorismo e inteligência, sejam elas culturais e de comunicação. No primeiro caso, o que tem feito o JSOC no âmbito da GWT é fantástico. No segundo caso, não se vislumbra muita coisa positiva.
Por exemplo, compara a propaganda Israelita e a propaganda do Hamas. É notável a forma como um grupo terrorista, assim considerado pela grande maioria das nações e pelos seus próprios actos, consiga permanentemente convencer a opinião pública Ocidental (seja pelos meios de comunicação seja pela voz de muitos líderes políticos) que o que faz é legítimo.
Isto na opinião pública Ocidental. Que gosta de fazer demasiada auto-crítica. Lembra-te do que a Inglaterra fez antes da Segunda Guerra com a ascensão da Alemanha Nazi... É um exemplo do que não deve ser feito.
Então nós devemos criticar sim os exageros do Ocidente. Mas o que acontece hoje em dia é tentar desviar o assunto para esses exageros, dizer que a culpa é toda nossa, seja por desconhecimento, seja por razões ideológicas. Isto é muito perigoso, porque esbarra com a realidade.
Devemos, sim, melhorar a nossa política externa, principalmente no Médio Oriente. Não é tanto a questão de mudar as nossas políticas de integração (embora isto também seja importante). Mas sim de mudar as sociedades do Médio Oriente. Acomodar líderes e ideologias moderadas, exigir ao Islão maior moderação, maior condenação e maior prevenção de terrorismo. Exigir aos líderes de países em que existem financiadores deste tipo de organizações que fiscalizem, condenem, e que destruam esses financiadores. Exigir ao Médio Oriente estabilidade, e saber que essa estabilidade parte primeiro deles e só depois de nós.
Mostrar aos povos muçulmanos que a sua ideologia moderada é perfeitamente compatível com um modo de vida Ocidental. Basicamente, se lhes mostrares isto e se os convenceres, o terrorismo fica controlado, mas temos de perceber também que vai sempre existir. Mas se estiver controlado (veja-se o IRA ou a ETA), então deixa de ser uma ameaça tão grande.