Algumas observações sobre o sucedido.
O histerismo híper-emocional e hiperbolizante dos adeptos, e das pessoas em geral, não me merece grande simpatia. Aparentemente, essa sobrexcitação contínua, que envolve expressões comunicativas extremadas, absolutas, irreflectidas, frequentes,
constitui parte significativa do modo de estar actual. Soma-se a isto a procura desenfreada de gratificações instantâneas e a recusa do tempo longo. Aboubakar não esteve mal, não teve uma noite desastrada, não foi ineficaz nem inepto
é o cancro da equipa!, uma vergonha!, um manco!... Conceição, que obteve até ao momento 5 vitórias em 6 jogos e lidera o campeonato, surge já como um treinador pouco hábil e de quem se desconfia o treinador precisa de tempo para tentar resolver os problemas. Esta atitude, eminentemente embrutecida e inútil, causa enorme stress e desgaste.
Sobre o adepto-pipoca guardo reservas, pois as pipocas são fornecidas pelo próprio clube. Clube-pipoca? Não as vendam, se isso suscita questões de tão grande dimensão. Até aplaudiria, pois já basta a praga dos piqueniques no cinema. Conjecturo sim a existência do adepto-criança, aquele que faz birra por não jogar o atleta a ou b, por o Porto não apresentar uma proposta
esta da proposta, enfim, é como o jogador que não respeita a inciativa do colega
guardiolesca de jogo, por se jogar em determinado esquema táctico e não no da sua preferência
convicções fortes que rapidamente se transformam em posições inflexíveis, irrazoáveis, e inevitável descontentamento (face às opções do treinador, mesmo que bem-sucedidas).
As pessoas saem mais cedo do Dragão, da Luz, do Alvalade XXI, do Municipal de Braga, Bonfim
Anfield Road, Old Trafford, Emirates
em todos os estádios do mundo. Não é uma situação exclusiva do Dragão, que se tranquilizem os mais apreensivos. É assim que as coisas funcionam em todo o lado.
Dizer tudo o que passa pela cabeça, nada filtrar, optar por termos menos próprios
não é sinal de personalidade vincada, de força, frontalidade
antes de descontrolo, precipitação, por vezes de má educação. As declarações do treinador são naturalmente escusadas, inadequadas. Um treinador não pode colocar-se no plano dos adeptos, representa o clube, tem responsabilidades institucionais
deve por isso aceitar a crítica com menor ferocidade e mais sorrisos amarelos, se necessário for. Faz parte do cargo. Se tem algo a dizer a um comentador do Porto Canal (o que é relativamente preocupante), interpele-o em pessoa ou peça que lhe transmitam o seu descontentamento. Não fica bem a conversa do teatro e dos pseudo-adeptos. É natural que os adeptos pretendam ver bom futebol. Para todos os efeitos, são eles que sustentam o clube e, por extensão, o treinador.
Sabemos também que Conceição tem um feitio complicado e comete erros, é humano. Não adianta amplificar o caso. Pede-se ponderação a todos, bom senso, e bola para a frente.